A
população brasileira formou-se a partir de três grupos étnicos básicos: o
indígena, o branco e o negro. A intensa miscigenação (cruzamentos) ocorrida
entre esses grupos deu origem aos numerosos mestiços ou pardos (como são
chamados oficialmente), cujos tipos fundamentais são os seguintes: mulato
(branco + negro), o mais numeroso; caboclo ou mameluco (branco + índio) e
cafuzo (negro + índio), o menos numeroso.
Sobre
essa base juntaram-se, além dos portugueses, que desde a colonização
continuaram entrando livre e regularmente no Brasil, vários outros povos
(imigrantes), ampliando e diversificando ainda mais a formação étnica da
população brasileira. Os principais grupos de imigrantes que entraram no Brasil
após a independência (1822) foram os seguintes: atlanto-mediterrâneos
(italianos e espanhóis), germanos (alemães), eslavos (poloneses e ucranianos) e
asiáticos (japoneses).
A
população brasileira é, assim, caracterizada por grande diversidade étnica e
intensa miscigenação.
A
elevada miscigenação ocorrida no período colonial, principalmente entre brancos
(portugueses) e negros (africanos) , explica o rápido crescimento do
contingente de mulatos em relação ao contingente de negros.
Em
1800, os negros eram 47% da população, contra 30% de mulatos e 23% de brancos.
Fatores como, por exemplo, a proibição do tráfico de escravos (1850), a elevada
mortalidade da população negra, o forte estímulo à imigração européia (expansão
cafeeira), além da intensa miscigenação entre brancos e negros, alteraram
profundamente a composição étnica da população brasileira. Em 1880, os negros
estavam reduzidos a 20% da população, contra 42% de mulatos e 38% de brancos.
Daí em diante, ocorreu a diminuição constante da população negra e aumento
progressivo da população branca (intensificação da imigração européia, após a
Abolição da Escravidão). Em 1991, os negros eram apenas 4,8% da população
total, contra 55,2% de brancos e 39,2% de mestiços.
Excluídos
do processo de desenvolvimento econômico e social do país, os negros formam
atualmente, ao lado de grande parte de outras camadas não-brancas (mulatos,
índios etc.) um enorme contingente de brasileiros marginalizados.
Os
dados estatísticos fornecidos pelo recenseamentos gerais são relativamente
precários e, até mesmo, omissos. No censo demográfico de 1970, por exemplo, no
auge de regime militar, não há nada relativo aos negros e aos índios. Por quê?
Manobra estratégica do governo para impedir a conscientização ou atuação de
grupos étnicos minoritários?
Os
números oficiais, principalmente os que se referem a brancos e negros, são
passíveis de questionamento.
O
primeiro recenseamento oficial no Brasil só foi realizado em 1872, ou seja, 372
anos após a chegada dos portugueses e cinqüenta anos após a Independência do
país.
Há
muita controvérsia com relação ao número de negros que entraram no Brasil, o
mesmo ocorrendo com relação à população indígena que habitava o país na época
da chegada dos colonizadores.
A
ideologia do branqueamento, imposta pelo europeu, apregoando a superioridade do
branco ("quanto mais branco, melhor") fez com que muitos indivíduos
de ascendência negra passassem por brancos nos recenseamentos, a fim de obter
maior aceitação social.
Fatos
como esse permitem supor que os números mostrados são exagerados para mais, em
relação aos brancos, e para menos, em relação aos negros.
A
ideologia do branqueamento nada mais é que um modelo discriminatório, de
natureza racista, criado pelas elites dominantes para marginalizar os negros,
impedindo-os de obter ascensão social, econômica e cultural. O branqueamento
teve importância decisiva no processo de descaracterização (enquanto raça) e no
esvaziamento da consciência étnica dos negros.
O
mulato, produto da miscigenação entre brancos e negros, constitui importante
exemplo do poder de influência da ideologia do branqueamento. Por mais
"claro" e mais bem-aceito socialmente que o negro, o mulato passou a
se considerar superior ao negro, assimilando, com isso, a ideologia do
branqueamento.
As
cores do brasileiro
A
identidade e a consciência étnicas são penosamente escamoteadas pelos
brasileiros. Ao se auto-analisarem, procuram sempre elementos de identificação
com os símbolos étnicos da camada branca dominante.
No
censo de 1980, por exemplo, os não-brancos brasileiros, ao serem inquiridos
pelos pesquisadores do IBGE sobre a sua cor, responderam que ela era
acastanhada, agalegada, alva, alva escura, alvarenta, alva rosada, alvinha,
amarela, amarelada, amarela queimada, amarelosa, amorenada, avermelhada, azul,
azul marinho, baiano, bem branca, bem clara, bem morena, branca, branca
avermelhada, branca melada, branca morena, branca pálida, branca queimada,
branca sardenta, branca suja, branquiça, branquinha, loura, melada, mestiça,
miscigenação, mista, morena, morena bem chegada, morena bronzeada, morena
canelada, morena castanha, morena clara, morena cor de canela, morenada, morena
escura, morena fechada, morenão, morena prata, morena roxa, morena ruiva,
morena trigueira, moreninha, mulata, mulatinha, negra, negrota, pálida,
paraíba, parda, parda clara, polaca, pouco clara, pouco morena, preta,
pretinha, puxa para branca, quase negra, queimada, queimada de praia, queimada
de sol, regular, retinha, rosa, rosada, rosa queimada, roxa, ruiva, russo,
sapecada, sarará, saraúba, tostada, trigo, trigueira, turva, verde, vermelha,
além de outros que não declararam a cor. O total de 136 cores bem demonstra
como o brasileiro foge da sua verdade étnica, procurando, através de
simbolismos de fuga, situar-se o mais possível próximo do modelo tido como
superior.
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