Geografia da Amizade

Geografia da Amizade

Amizade...Amor:
Uma gota suave que tomba
No cálice da vida
Para diminuir seu amargor...
Amizade é um rasto de Deus
Nas praias dos homens;
Um lampejo do eterno
Riscando as trevas do tempo.
Sem o calor humano do amigo
A vida seria um deserto.
Amigo é alguém sempre perto,
Alguém presente,
Mesmo, quando longe, geograficamente.
Amigo é uma Segunda eucaristia,
Um Deus-conosco, bem gente,
Não em fragmentos de pão,
Mas no mistério de dois corações
Permutando sintonia
Num dueto de gratidão.
Na geografia
da amizade,
Do amor,
Até hoje não descobri
Se o amigo é luz, estrela,
Ou perfume de flor.
Sei apenas, com precisão,
Que ele torna mais rica e mais bela
A vida se faz canção!

"Roque Schneider"



Quem sou eu

Salvador, Bahia, Brazil
Especialista em Turismo e Hospitalidade, Geógrafa, soteropolitana, professora.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Gênero e identidade: Muito além da questão homem-mulher.

Toda vez que você vai preencher um questionário é comum aparecer o seguinte campo: sexo. A pergunta é: qual é o seu gênero? O mais comum é que existam duas alternativas para você assinalar: masculino ou feminino.
O conceito de gênero denota uma diferenciação. A lógica ocidental tradicional funciona como uma divisão binária, ou seja, que se divide em dois opostos: masculino x feminino, macho x fêmea ou homem x mulher.
Sob esse ponto de vista, o ser humano nasce dotado de determinadas características biológicas que o enquadra como um indivíduo do sexo masculino ou feminino. O sexo é definido biologicamente tomando como base a genitália, cromossomos sexuais e hormônios com os quais se nasce.
No entanto, o sexo não determina por si só, a identidade de gênero ou a orientação sexual de uma pessoa. A orientação sexual, por exemplo, diz respeito à atração que sentimos por outros indivíduos e, geralmente, envolve questões sentimentais, e não somente sexuais.
Embora a definição do que é ser “homem” ou “mulher” tenha surgido a partir de uma divisão biológica, a experiência humana nos mostra que um indivíduo pode ter outras identidades que refletem diferentes representações de gênero (como os transexuais e transgêneros) e que não se encaixam nas categorias padrões.
Em 2014, após reclamações de usuários que queriam mais opções em seus perfis, o Facebook passou a oferecer mais de 50 opções de termos para classificar gêneros. É possível ainda escolher por qual pronome você deseja ser chamado, “ele”, “ela” ou “neutro”.
A novidade já existe em países como EUA, Reino Unido e Argentina e incluem classificações como andrógino, transgênero, entre outros. Em entrevista ao jornal inglês The Independent, Simon Milner, diretor do Facebook no Reino Unido, afirmou que, com essas inclusões, “o Facebook está permitindo que as pessoas sejam elas mesmas e fazendo que os usuários se sintam confortáveis em expressar quem são”.
As identidades são características fundamentais da experiência humana, pois possibilita aos seres humanos a sua constituição como sujeitos no mundo social. O gênero refere-se à identidade com a qual uma pessoa se identifica ou se autodetermina; independe do sexo e está mais relacionado ao papel que o indivíduo tem na sociedade e como ele se reconhece. Assim, essa identidade seria um fenômeno social, e não biológico.
Uma pessoa cisgênera é aquela que tem sua identidade ou vivência de gênero compatível com o gênero ao qual foi atribuído ao nascer. Já uma pessoa transgênera é aquela que se identifica com o gênero diferente do registrado no seu nascimento. As pessoas trans podem preferir serem tratadas no feminino ou no masculino ou, ainda, não se encaixar em nenhuma dessas definições (trans não binárias).
Para muitos especialistas, esse encaixe em definições tradicionais começa logo na infância. Atentos a isso, uma pré-escola na Suécia, a Egalia, adotou um sistema chamado de “educação neutra de gênero”. Não se usam os termos “ele ou ela” ou “meninos” ou “meninas” para se referir aos alunos, chamados de “amiguinhos”. Brinquedos de cozinha, como panelinhas e outros, mais relacionados às meninas, estão lado a lado aos brinquedos de montar, mais ligados aos meninos. O objetivo é fazer com que as crianças cresçam livres de imposições e sem barreiras para fazerem suas escolhas. O método, claro, divide opiniões.
Outro tipo de pensamento binário seria a relação sexo-gênero ou identidade-sexualidade. Ou seja, a partir de um gênero haveria um determinado padrão de sexualidade. Se a pessoa nasce com uma vagina, teria que se relacionar com um homem e vice-versa (ou seja, ser heterossexual). No entanto, existem diversos comportamentos sexuais (homossexual e bissexual) que mostram que o gênero não define a orientação sexual de uma pessoa.
Existem muitas pessoas fora da classificação binária e, mais ainda, fora de classificações. Essas pessoas sofrem preconceito e são em muitos casos, “proibidas de existir”. A falta de compreensão da diversidade de gênero traz uma série de problemas e a criação de sentimentos negativos ou atitudes como a exclusão, culpa, medo e vergonha.
Além do sofrimento pessoal de “não se encaixar” na sociedade vigente devido ao preconceito, as pessoas transexuais ainda encontram dificuldades no mercado de trabalho e são vítimas frequentes de crimes de intolerância e violência.

7.1-Como o gênero funciona nas relações sociais?
A questão de gênero surgiu como importante reflexão para o feminismo. No fim dos anos 1940, a filósofa francesa Simone de Beauvoir afirmou que ninguém nasce mulher, mas torna-se mulher. Ao afirmar isso, ela contesta o pensamento determinista do final do século 19 que usava a biologia para explicar a inferiorização do sexo feminino e as desigualdades sociais entre os gêneros. Para a filósofa, o “ser mulher” é uma construção social e cultural.
Para tornar-se homem ou mulher é preciso submeter-se a um processo que chamamos de socialização de gênero, baseado nas expectativas que a cultura de uma sociedade tem em relação a cada sexo. Assim, ao nascer, uma pessoa deve ter uma determinada conduta e seguir normas e comportamentos “aceitáveis” de acordo com seu gênero.
Num passado recente, as mulheres não podiam estudar, votar ou trabalhar fora de casa. Deveriam exercer exclusivamente o papel da maternidade. Os homens também estão presos ao seu papel de masculinidade.
Hoje ainda vivemos padrões de papeis femininos e masculinos diariamente. Se um bebê nasce menino, ganha presentes associados à cor azul. Se menina, rosa. Carrinhos para meninos, bonecas para meninas. Se o gênero constrói uma identidade do feminino e do masculino, ele pode prender homens e mulheres em papeis rígidos.
Se voltarmos ao passado, poderemos observar que em outras culturas, como em tribos indígenas ou no antigo povo celta, as representações de masculino e feminino eram bem diferentes do que temos hoje. Em muitas sociedades, as mulheres eram guerreiras e participavam de esferas de decisão e poder (recentemente, foram encontrados vestígios de mulheres guerreiras vikings). Na África, há registros de que os franceses teriam lutado contra um exército de mulheres no Daomé (Benin), no século 18.
Em 2014, a Marvel anunciou que Thor, um dos seus personagens mais famosos, virá em versão mulher na próxima HQ. O personagem salvará uma mulher e herdará seus poderes. Pelo Twitter, o diretor-executivo da Marvel Digital, Ryan Penagos, esclareceu que ela realmente substituirá o atual deus do trovão. "Ela não é a Mulher-Thor, Lady Thor, ou Thorita. Ela é o THOR", escreveu ele.
No Brasil, o cartunista Laerte Coutinho surpreendeu ao aparecer vestido de mulher e assumir uma nova identidade de gênero – ou pós-gênero, como ele diz, já que ainda não consegue se enquadrar em outras opções. Em 2014, a cantora Conchita Wurst, personagem do austríaco Tom Neuwirth, superou obstáculos e venceu o Eurovision Song Contest, um show de talentos musicais na Europa. Sua aparência feminina misturada à barba masculina de Tom chocou o público, mas sua vitória refletiu, de certa forma, a aceitação da mistura de gêneros incorporada por Conchita.

7.3- Mas, e se eu não me identifico com meu corpo?
Assim como quase tudo que nos caracteriza, nosso gênero é construído pelas experiências que temos na vida, nosso desejo de quem queremos ser e em que cultura estamos. Por isso dizemos que o gênero (ser “mulher” ou ser ”homem”) é uma construção social e não uma genitália.
Em 1990, a filósofa estadunidense Judith Butler publicou o livro “Problemas de Gênero” (Civilização Brasileira, 2010). A obra cunhou a noção de gênero como performatividade. Para ela, o gênero é uma produção social, ou seja, é um ato intencional construído ao longo dos anos. De fora para dentro e de dentro para fora. Segundo ela, gênero não deve ser visto como um atributo fixo de uma pessoa, mas como uma variável fluída, apresentando diferentes configurações.
Butler acredita que é preciso tratar os papéis homem-mulher ou feminino-masculino não como categorias fixas, mas constantemente mutáveis, fora do padrão voltado para a reprodução. A filósofa busca desconstruir todo tipo de identidade de gênero que oprime as características pessoais de cada um. Ou seja, o ideal é que a pessoa escolhesse o gênero a que quer pertencer.
Ainda que a destruição do conceito de gênero seja uma questão nova ou distante para a maioria da sociedade, pensar sobre gênero também é pensar sobre liberdade e cidadania. Não existem certezas, mas questões sobre um humano mais plural.

No mundo atual onde pessoas se expressam de forma tão diversa e plural, o respeito à singularidade e a tolerância de cada individuo torna-se fator de extrema importância. Olhar para um mundo com mais respeito à diversidade dos gêneros é entender que o outro, independente de sua orientação é alguém que merece respeito e direitos políticos, sociais e econômicos.

Economia: aumento da dívida pública e baixo crescimento são entraves para 2015.

Quando o assunto é economia brasileira, as previsões para 2015 não soam animadoras. Para especialistas, o período é visto como um ano difícil. As previsões de arrocho fiscal e baixo crescimento contribuem para que o ano que mal começou seja classificado como “o ano perdido”.

E quais são os temas – ou tópicos --- importantes para entender melhor as previsões econômicas para 2015?
-Contas públicas
Hoje um dos grandes problemas do Brasil é o equilíbrio das contas públicas, ou seja, a diferença entre as receitas e as despesas do governo federal. São essas contas nacionais que oferecem indicadores da “saúde” da economia de modo geral.
E como esse equilíbrio é alcançado? O Estado arrecada dinheiro por meio da cobrança de impostos que incidem sobre a renda, a propriedade, serviços e produtos. Existe ainda a receita de dividendos oriundos de empresas públicas ou de alugueis do patrimônio público. Já as despesas incluem gastos com obras, previdência, educação, saúde, funcionários, pagamento da dívida pública, entre outros.

Quando o governo arrecada mais do que gasta, significa que houve superávit primário. Quando as despesas superam as receitas, ou seja, o governo gasta mais do que arrecada, temos um déficit primário.
Números recentes das contas públicas do Brasil mostram um país à beira de uma crise fiscal. Segundo dados do Tesouro Nacional, o ritmo de crescimento dos gastos do Estado é seis vezes maior que o das receitas.
Entre janeiro e novembro de 2014, o governo federal gastou R$ 933,1 bilhões. No mesmo período do ano anterior, o valor foi de R$ 827,7 bilhões. Ou seja, as despesas cresceram 12,72%, enquanto as receitas avançaram apenas 2,8% no mesmo período, passando de R$ 890,3 bilhões (2013) para R$ 914,7 bilhões.
A diferença entre as contas (receitas menos despesas, excluindo o pagamento da dívida pública) foi de R$ 18,3 bilhões, o pior resultado de janeiro a novembro desde 2001 (início da série histórica desse indicador).
Para especialistas esse resultado se deve ao aumento dos gastos do governo nas eleições, às concessões com desonerações de tributos e ao baixo crescimento da economia que derrubou a arrecadação.
Se por um lado os gastos do governo “injetam” mais dinheiro na economia, por outro, também influenciam na inflação. Um dos mecanismos usados para “frear” os gastos excessivos de prefeituras, governos estaduais e da União é a Lei de Responsabilidade Fiscal, sancionada em 2000.
A Lei estipula o limite máximo de 49% da receita corrente líquida (RCL) nos gastos com o funcionalismo público. Na prática, ela também ajuda a cumprir as metas de superávit, pois obriga o governo a economizar para pagar juros.
Quem estoura o limite máximo fica proibido de contrair financiamentos, de conseguir garantias de outras unidades da Federação para linhas de crédito e de obter transferências voluntárias.
Devido ao aumento dos gastos públicos, em dezembro de 2014, o Congresso aprovou um projeto de lei que poupa a gestão de ser responsabilizada por descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal em 2015.

Contas externas
A situação das contas externas ou da balança comercial é pautada pela diferença entre importação e exportação (matérias-primas, produtos e transações de comércio, serviços e renda). O déficit ocorre quando existe diferença no balanço de pagamentos em transações correntes.
Em relação às contas externas, o Brasil está importando mais do que exportando. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, em 2014 a importação superou a exportação em US$ 3,93 bilhões, sendo o primeiro saldo negativo anual desde 2000.
Segundo especialistas, o saldo negativo é devido à desvalorização do preço de commodities (as matérias-primas que o país exporta, como minério de ferro e soja), cenário internacional desfavorável (como a crise da Argentina) e ao baixo preço do petróleo.

Dívida pública
Quando falta dinheiro em caixa, o governo pode se endividar e pegar recursos emprestados de investidores para honrar compromissos. Em troca, compromete-se a devolver o dinheiro com alguma correção monetária. Para isso, ele costuma emitir títulos públicos que são vendidos no mercado financeiro.
A dívida bruta do Brasil saltou para 62% do PIB (produto interno bruto, ou seja, a soma de toda riqueza produzida pela sociedade). Em dez meses, o endividamento total aumentou 8,4 pontos percentuais, já que, em dezembro de 2013, a dívida representava 53,6% de todas as riquezas produzidas pelo país.
O dinheiro que “sobra” nas contas do governo depois de pagar as despesas (exceto juros da dívida pública) é chamado de superávit primário. É esse dinheiro que o governo usa como poupança para pagar os juros da dívida pública.
Manter as contas públicas em dia é crucial para o mercado financeiro internacional. Quanto menor a dívida em relação ao PIB, mais o país mostra que é um “bom pagador”. Quanto maior a capacidade de pagamento do Brasil, menor é o risco de crédito e as chances de conseguir taxas de juros mais baixas em empréstimos. 
A dívida ainda pode aumentar se a cotação do dólar subir. Quanto mais os encargos da dívida crescerem, pior ficará a situação fiscal.

Juros e inflação
O gasto público também pressiona a alta dos preços em geral. Com a inflação mais alta, o governo também sobe a taxa básica de juros (Selic). A alta dos juros pelo Banco Central é uma forma de conter o consumo das famílias e frear a oferta de crédito pelos bancos.
Apesar disso, os juros altos deixam famílias endividadas em alerta e “travam” financiamentos do setor produtivo, o que freia os investimentos que o país precisa para voltar a crescer.

Austeridade
Numa situação de crise ou recessão, austeridade é o caminho escolhido por muitos governantes. Durante a crise econômica de 2008, a palavra foi muito ouvida nos discursos dos novos ministros europeus que realizaram reformas em meio a déficits, desemprego, calotes em dívidas, entre outras situações. A austeridade nada mais é do que controlar rigidamente os gastos públicos.
E para reequilibrar as finanças públicas, a saída que os governos encontram é cortar gastos ou aumentar receitas (ou as duas coisas ao mesmo tempo). Para ter mais dinheiro, ele pode aumentar impostos ou contar com o crescimento da economia do país.
A carga tributária brasileira já é considerada alta. Hoje, quase 36% do PIB são destinados ao pagamento de impostos, que também podem vir embutidos no preço de bens, produtos e serviços (como luz, água, carro, gasolina, transporte, imóveis etc). 
Quando a economia cresce pouco, o resultado é uma arrecadação de impostos menor do que o esperado. Quando a economia cresce muito, as receitas avançam no mesmo ritmo, impulsionadas pela exportação ou consumo interno.
O problema é que em 2014, a economia do Brasil cresceu cerca de 1%. Além do crescimento do PIB abaixo do previsto no último ano, o emprego deu sinais de desgaste, a inflação (em torno de 6,5%) e juros registraram altas significativas e os brasileiros nunca estiveram tão endividados.
Levantamento feito pelo Banco Central mostra que 45,88% da renda anual acumulada pelas famílias brasileiras é para o pagamento de dívidas, quase o dobro do registrado em 2005 (21,47%).
O novo ministro da Fazenda do Brasil, Joaquim Levy, disse que fará um ajuste fiscal e pretende cumprir a meta de superávit primário de 1,2% do PIB para 2015. Como sem crescimento será difícil cumprir essa meta, a tendência é que haja um maior rigor fiscal nas contas públicas.

2015, ano perdido também em outros países?
Na Rússia, a palavra presente em todas as previsões é “recessão”. O motivo são as sanções econômicas impostas pelos países ocidentais e a queda no preço do petróleo, que também deve abalar economias como a do Equador e Venezuela. Estados Unidos e Reino Unido devem manter um crescimento estável, já que estão mais recuperados da crise de 2008.
Com o Japão em recessão e prevendo um crescimento de 1% em 2015, a China estabeleceu-se como a segunda maior economia do mundo. Ao mesmo tempo, o país asiático mudou seu modelo de crescimento, antes voltado exclusivamente para as exportações. Hoje, ele já apresenta um melhor equilíbrio das vendas externas e o consumo interno. Mas a previsão é de que a China tenha um crescimento sustentável neste ano.
Na Europa, os países da União Europeia (UE) tentam manter o bloco unido. Se em 2014 a zona do euro conseguiu evitar a recessão, para 2015 a expectativa é crescer apenas 1,1% e evitar a deflação (quando a população para de consumir à espera de preços mais baixos, levando à quebra de empresas e ao desemprego).
No entanto, para esses países, a instabilidade política também influencia a economia. Em janeiro, as eleições antecipadas na Grécia vão definir se o país seguirá ou não no bloco.
Mas é importante lembrar que a difícil situação econômica que muitos países vão enfrentar em 2015 não significa que viveremos um novo momento de crise econômica em grande escala.
A última grande crise mundial aconteceu em 2008, com o colapso do sistema financeiro norte-americano. Foi considerada a pior crise do capitalismo desde a Grande Depressão, em 1929. Antes, nas décadas de 1970 e 1980, o preço elevado do petróleo produziu crises globais. A última vez que o Brasil entrou em recessão foi em 2009, quando o país tentava driblar os efeitos da crise financeira mundial.

DIRETO AO PONTO
2015 será um ano difícil para a economia, segundo especialistas. As previsões de arrocho fiscal e baixo crescimento para o Brasil contribuem para que o ano já seja classificado como “o ano perdido”.
No resto do mundo, embora os EUA retomem seu crescimento, outros países terão pela frente um período de recessão, como a Rússia, e de crescimento abaixo do esperado, como China, Japão e economias latino-americanas.
No entanto, isto não significa dizer que teremos em 2015 um ano de crise mundial. Para entender o que vem pela frente, é fundamental compreender temas como equilíbrio nas contas públicas, austeridade, juros e inflação e o papel da dívida pública na organização das finanças do governo.

Sociedade: as mudanças no ato de comer e como vamos garantir comida para todos.

A comida sempre teve um papel importante nas sociedades. Além de ser uma atividade fundamental, o ato de comer em grupo, por exemplo, é um dos que define o homem como um ser cultural e participativo em um contexto social. Os alimentos que escolhemos e a forma como consumimos também nos dizem muito sobre identidades, costumes e características sociais e culturais de um grupo.
Não à toa, alguns momentos importantes da história da civilização ocidental estão relacionados à alimentação -- como as grandes navegações --, que aparece também em muitas histórias religiosas, como a multiplicação dos pães e a ceia no cristianismo.

Mas qual é a nossa relação com a comida hoje? 
Da pré-história à sociedade pós-moderna, o ato de comer passou por significativas mudanças. A chegada de novas tecnologias para facilitar a fabricação, a produção, o transporte e a conservação de alimentos provocou uma revolução na alimentação, principalmente nos hábitos familiares, como as refeições partilhadas.
Por outro lado, todo esse avanço não foi capaz de acabar com a fome e a subnutrição no mundo. Segundo o órgão da ONU para Alimentação e Agricultura (FAO), embora tenha ocorrido uma redução, mais de 800 milhões de pessoas, ou uma em cada oito no mundo, ainda passam fome por não receber o alimento ou a quantidade de alimento adequada.
As mudanças na produção e no ato de comer refletem o ritmo agitado imposto pelo estilo de vida moderno, em que as pessoas passam muito tempo no trabalho, enquanto o tempo para as refeições acaba servindo para várias atividades.
Para atender a essa realidade, começam a surgir alternativas na indústria de alimentos: congelados, pré-cozidos e o fast-food. Por outro lado, foram essas mudanças que ajudaram a acabar com a escassez de comida, permitindo, entre outros, o surgimento de grandes centros urbanos e a sobrevivência da raça humana.
Mas não foi apenas o processo que mudou. O que comemos também. O homem pré-histórico era onívoro, ou seja, comia de tudo. O homem moderno aderiu a uma alimentação que tem como base gorduras animais, carne, carboidratos e açúcar. Esse sistema alimentar tem forte impacto social e ambiental, pois demanda uma produção agrícola voltada para a forragem animal, do qual a soja é um exemplo.
Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde de 2013, do IBGE, o brasileiro come pouca quantidade de hortaliças e frutas, ingere mais alimentos gordurosos do que o recomendado, troca cada vez mais refeições completas por lanches rápidos e é sedentário. A pesquisa apontou ainda que pessoas de baixa renda compram alimentos pouco saudáveis, ou seja, além de fatores como saúde, religião, meio ambiente, a questão social ainda é um limitador do consumo de alimentos, principalmente daqueles considerados mais nutritivos, que costumam ser mais caros.
Esse estilo de vida, que não é característico apenas do brasileiro e pode ser observado em boa parte do mundo, fez com que o número de problemas de saúde decorrentes da má alimentação ou do consumo em excesso de produtos industrializados aumentasse, tal como a obesidade e problemas cardíacos.
Mesmo nesse cenário houve um aumento considerável de consumidores que valorizam a comida natural, orgânica, segundo um relatório recente da empresa de pesquisas Nielsen. A pesquisa aponta um aumento de 5% nas vendas de itens considerados saudáveis, como frutas, verduras, chás, iogurtes, água, entre os anos de 2012 e 2014. Considerando apenas a América Latina, esse número chega a 16%.
De olho neste mercado, muitas empresas já prometeram retirar corantes e aromatizantes artificiais de diversos produtos, buscando atender as demandas do consumidor. Mas trata-se de um movimento que ainda precisa ganhar força para atingir uma maior parcela de consumidores, que possa ser beneficiada e ter acesso a tais alimentos.
Dentro desse contexto, a preocupação com a procedência da comida passou a fazer parte da rotina desses consumidores que, além de produtos naturais, buscam comprar marcas e fabricantes que não agridem o meio ambiente nem os animais (como as granjas, onde a forma como as galinhas são criadas varia) para a produção de alimentos.
A onda mais recente do mercado de alimentação é a onda de “gourmetização” da comida, onde se vende a ideia de que você estará consumindo um alimento com algum toque mais refinado. Da coxinha, o pastel, o sanduíche ao feijão com arroz, tudo pode ser “gourmet”.
Esse refinamento, no entanto, nem sempre recupera o lado mais humano das refeições. Muitas vezes, a sofisticação acaba apenas reproduzindo essa dinâmica consumista num tom elitista, que mais uma vez direciona um determinado produto a um tipo de classe social ou perfil.
Entre todas essas questões, a que parece precisar de uma resposta mais urgente sobre alimentação é: com a previsão de que em 2020 a população mundial seja de 9 bilhões de pessoas, teremos comida para todo mundo?

As opções não podem ficar reduzidas apenas à produção industrial ou orgânica e local, embora elas certamente venham a oferecer novas soluções. O alto consumo de animais vai tornar o meio tradicional escasso, assim como os efeitos ambientais da agricultura podem custar muito caro à humanidade, seja pela sua relação como aquecimento global ou perda da biodiversidade.
Usar recursos naturais de forma eficiente, aumentar a produção para nutrição humana (isso porque parte da produção vira ração para animais, é usada nos biocombustíveis e pela indústria), consumir de forma responsável e valorizar o alimento estão entre os passos necessários para garantir que ao longo dos próximos anos, a comida chegue a um número maior de pessoas, em vez de terminar desperdiça na lata de lixo.

A comida sempre teve um papel importante nas sociedades. Além de ser uma atividade fundamental, o ato de comer em grupo, por exemplo, é um dos que define o homem como um ser cultural e participativo em um contexto social. Os alimentos que escolhemos e a forma como os consumimos também nos dizem muito sobre identidades, costumes e características sociais e culturais de um grupo.
Com a chegada de novas tecnologias que vieram para facilitar a fabricação, a produção, o transporte e a conservação de alimentos, houve uma revolução na alimentação, principalmente nos hábitos familiares, como as refeições partilhadas e a forma como consumimos alimentos hoje.
As mudanças na produção e no ato de comer refletem o ritmo agitado imposto pelo estilo de vida moderno, em que as pessoas passam muito tempo no trabalho e no transporte, e tem cada vez menos tempo para alimentação e lazer.
O que mudou no nosso ato de comer e, pensando num futuro onde a população mundial deve chegar a 9 bilhões de pessoas, como vamos garantir comida para todos?

Aposentadoria: No Brasil, previdência é um desafio para o futuro.

você imagina a sua renda no futuro? De 2009 para cá, o envelhecimento da população é uma tendência em muitos países e seu reflexo pode ser observado no consumo, mercado de trabalho, organização familiar e nos gastos do governo com saúde e previdência social.
Cada país pode ter o seu modelo próprio de previdência. No geral, o objetivo é o mesmo: garantir recursos financeiros à população mais velha ou que precisa de assistência e proteção quando esta se afasta do mercado de trabalho por diferentes motivos -- doença, invalidez ou idade avançada.
No Brasil a Previdência Social é um direito social assegurado na Constituição ao trabalhador registrado (há a opção privada, para qualquer indivíduo, em qualquer idade). A principal fonte de recursos para pagar as despesas da aposentadoria pública é a cobrança de um tributo em folha de pagamento.
Para manter o sistema em equilíbrio, o país precisa ter um número maior de pessoas no mercado de trabalho em relação ao número de beneficiados na previdência. Outra forma de equilibrar o sistema é alocar recursos para a previdência oriundos de outras fontes de arrecadação do governo.
Chama-se de déficit previdenciário o resultado negativo do cálculo a partir da diferença entre a arrecadação dessas contribuições e as despesas com os benefícios.

4.1- Fatores que ocasionam déficits previdenciário no Brasil
Nos últimos anos, o Brasil acumula sucessivos déficits devido a um possível conjunto de fatores: a deterioração dos postos de trabalho, o emprego informal (sem carteira assinada), a má gestão dos recursos e o envelhecimento da população.
Em relação ao fator demografia, quanto maior é a expectativa de vida de uma população, maior é o gasto do governo com a aposentadoria dos trabalhadores. Uma pesquisa da ONU sobre Envelhecimento no Século 21 apontou que, entre os idosos, a segurança financeira representa a maior preocupação.
Nas últimas décadas, o Brasil viu sua população idosa aumentar em um ritmo mais rápido do que o previsto (devido à queda da fecundidade e ao aumento da expectativa de vida do brasileiro, que subiu para 74, 9 anos, segundo dados do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Assegurar o bem-estar da população mais velha e equilibrar as contas da seguridade social é hoje um desafio para o futuro do país.
Atualmente o governo brasileiro alega que o sistema previdenciário não seria sustentável ao longo dos próximos anos. Para conter as despesas, o governo propôs endurecer as regras de acesso aos benefícios da previdência.

4.2- Mudança no sistema previdenciário brasileiro
Em junho de 2015, o Congresso aprovou o mecanismo 85/95, que prevê mudanças no cálculo da aposentadoria. Com a nova regra, a soma da idade + o tempo de contribuição deve ser de 85 anos para mulheres e 95 anos para homens. A partir de 2017, o mecanismo será gradativamente acrescido em 1 ponto até 2022. Assim, em 2017 as idades passam para 86/96, em 2019 para 87/97, em 2020 para 88/98, até chegar em 90/100 em 2022.
A mudança gradativa foi uma decisão da presidente Dilma frente à proposta inicial aprovada no Congresso. O argumento foi que com o aumento da expectativa de vida, os gastos com aposentadoria dos idosos seriam acrescidos, elevando as despesas públicas e provocando um déficit previdenciário.
Hoje, a previdência consome 22,7% da despesa total do governo brasileiro. Uma pesquisa internacional apontou que os gastos previdenciários equivalem a 11% do PIB no Brasil e a 6% do PIB nos EUA, sendo que a proporção da população norte-americana acima dos 60 anos (16% da população total) é o dobro da brasileira (8% da população total).
Para especialistas, a valorização do salário mínimo -- que corrige os benefícios --, a aposentadoria precoce e o excesso de pensões são fatores que ajudam a elevar os gastos do governo com a previdência.
Por isso, equilibrar as contas públicas é um dos pontos centrais da mudança já que o Brasil viverá uma transição demográfica a partir de 2030, quando a previsão do IBGE indica que a população brasileira vai atingir seu pico e terá o maior número de pessoas trabalhando. A população jovem, entre 15 e 29 anos, deve cair muito a partir desta data.
Essa mudança de perfil na população torna urgente a discussão sobre o modelo de aposentadoria, já que os idosos de amanhã estão no mercado de trabalho hoje, e o governo precisa preparar seu orçamento para não ter o mesmo problema que países europeus, por exemplo.
A crise econômica da Europa não foi motivada por questões previdenciárias, mas esse item na despesa teve um peso considerável num cenário de alto endividamento público. Com um perfil de população mais velha -- visto como avanço e sinônimo de qualidade de vida -- os gastos sociais tornaram-se insustentáveis com a estagnação das economias desde 2009.
Um exemplo é a Grécia, ao lado da Itália, o país que mais gasta com previdência. Lá a renda em metade dos lares vem da aposentadoria e 45% dos aposentados vivem sob a linha da pobreza. Em meio à crise, a redução no valor pago às pensões, como exigem alguns, poderia reduzir os gastos, mas levaria a um aumento da população pobre e traria outros problemas ao país.
Toda essa discussão passa por garantir um bom envelhecimento e estabilidade aos mais velhos. Embora para uns a imagem de uma população mais idosa caracterize um país como frágil e incapaz, mudanças de comportamentos e novas tecnologias sugerem que não é bem assim.
Muitas pessoas preferem trabalhar mais que o tempo previsto, por exemplo, mesmo numa idade avançada. Muitos iniciam uma nova atividade para não ficarem parados. E será que gerações futuras vão desejar trabalhar mais tempo? Se sim, isso aumentaria o tempo de arrecadação do governo e a produtividade do país.
Ao longo da história, as mudanças demográficas criaram desafios importantes para as sociedades. Muitos países fizeram reformas, se adaptaram a novos cenários. Até 2030 o Brasil tem um curto tempo para definir como vai tratar a sua melhor idade.

BIBLIOGRAFIA
Artigo Previdência do trabalhador: uma trajetória inesperada, de Mariana Batich. 2004. Disponível online
O direito à velhice: Os aposentados e a previdência social, de Eneida Gonçalves de M. Haddad (Cortez; 2000)

ECA: Estatuto da Criança e do Adolescente completa 25 anos

A violência contra a criança e o adolescente sempre esteve presente na sociedade e em diferentes classes sociais. No Brasil, um avanço importante para reconhecer crianças e adolescentes como cidadãos com direitos e deveres foi a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), criado pela Lei 8.069, e que em julho de 2015 completa 25 anos.
O ECA representa um marco jurídico que instaurou a proteção integral e uma carta de direitos fundamentais à infância e à juventude. Ele considera criança a pessoa até 12 anos de idade incompletos e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade.

3.1- A lei estabelece: "É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária".
Ao todo, o estatuto tem 267 artigos que abordam diversos temas como o acesso a saúde e educação, proteção contra a violência e tipificação de crimes contra a criança, proteção contra o trabalho infantil, regras da guarda, tutela e adoção, proibição do acesso a bebidas alcóolicas, autorização para viajar, entre outras questões.

3.2- A criação da lei
Antes de 1988, o Brasil contava com o Código de Menores, documento legal para a população menor de 18 anos e que visava especialmente à questão de menores em “situação irregular”, de vulnerabilidade social. A visão tradicional da época era de que crianças e adolescentes eram incapazes e consideradas um problema para o Estado e autoridades judiciárias.
O ECA foi criado pouco depois da promulgação da nova Carta Magna, a Constituição Federal de 1988, também conhecida como “Constituição Cidadã”, por prever novos direitos fundamentais aos brasileiros.
A lei regulamenta o artigo 227 da Constituição, que garante os direitos das crianças e dos adolescentes: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Em 1989 houve a Convenção sobre os Direitos da Criança pela Assembleia Geral das Nações Unidas, ocasião em que foram discutidos compromissos internacionais que abriram caminho para as discussões do ECA no ano de 1990. O Brasil, então, tornou-se o primeiro país a adequar a legislação interna aos princípios consagrados pela Convenção. Ao longo dos anos, o Estatuto teve alterações introduzidas em eu texto, como por exemplo, a Lei de Adoção (2009), que acelera o processo de adoção e cria mecanismos para evitar que crianças e adolescentes fiquem mais de dois anos em abrigos.
Hoje o Estatuto é considerado um dos melhores do mundo, uma referência internacional em legislação para essa faixa etária e inspirou legislações semelhantes em vários países. Apesar disso, ainda hoje suas leis são desconhecidas pela maioria da população brasileira e em muitos municípios sua aplicação prática é descumprida.
Apesar de o ECA ter transformado a relação da sociedade com a questão dos direitos de crianças e adolescentes, ele ainda é ineficaz em diversos aspectos. Há muito que avançar nos direitos fundamentais assegurando a meninos e meninas uma educação de qualidade, assistência médica, moradia, alimentação, convivência familiar e comunitária, cultura, esporte, lazer, liberdade, dignidade e respeito.

3.3- Mudanças que a lei trouxe
Antes de o ECA ser promulgado, o Estado entendia que não havia diferença entre criança e adolescente. Também era comum ver crianças trabalhando ao invés de estudarem ou brincarem. O ECA contribuiu para que muitas mudanças acontecessem:

3.3.1-Reconhecimento de direitos: garantir que as crianças e adolescentes brasileiros, até então reconhecidos como meros objetos de intervenção da família e do Estado, passem a ser levados a sério e tratados como sujeitos autônomos. Hoje as crianças são vistas como cidadãos em desenvolvimento e que precisam de proteção.
3.3.2-Ensino: todo jovem tem direito a escola gratuita. E os pais são obrigados a matricular os filhos na escola.
3.3.3-Lazer: toda criança tem o direito de brincar, praticar esportes e se divertir
3.3.4-Saúde: crianças e adolescentes têm prioridade no recebimento de socorro médico, devem ser vacinados gratuitamente.
3.3.5-Políticas públicas de atendimento à infância e juventude: estabeleceu uma maior participação da sociedade civil, poderes públicos e dos municípios em ações de proteção e assistência social.
3.3.6-Proteção contra a violência: reconheceu a proteção contra a discriminação, violência, abuso sexual e proibição de castigos imoderados e cruéis.
3.3.7-Proibição do trabalho infantil: determinação da proibição de trabalho infantil e proteção ao trabalho do adolescente. A única exceção é dada aos aprendizes, que podem trabalhar a partir dos 14 anos com carga horária reduzida.
3.3.8-Conselho Tutelar: para cumprir e fiscalizar os direitos previstos pelo ECA, foi criado o Conselho Tutelar, órgão municipal formado por membros da sociedade civil. Atualmente 98% dos municípios contam com o apoio de conselheiros.
3.3.9-Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente: foram criados os Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente, que existem nas esferas municipal, estadual e nacional e têm como atribuição o monitoramento e a proposição de políticas públicas.
3.3.9-Novas regras para o adolescente infrator: foram definidas medidas socioeducativas para infratores entre 12 e 18 anos que precisam cumprir pena em unidades que visam à reeducação e a reintegração do jovem.

3.4- A polêmica da redução da maioridade penal
Um dos pontos mais criticados do ECA é a questão de como tratar o ato infracional praticado por menores. A maioridade penal é a idade mínima para uma pessoa ser julgada como adulto. No Brasil, essa idade é 18 anos. Se menores cometerem atos ilegais, a legislação que julga e decide a punição é o Estatuto, que possui artigos que se dedicam ao ato infracional.
A lei prevê que a menor idade de responsabilidade criminal é 12 anos. Entre 12 e 18 anos, estes jovens infratores devem ser atendidos por um sistema de justiça juvenil e com medidas socioeducativas que podem incluir internação em instituição para adolescentes. A pena máxima é de três anos.
Há quem considere a lei branda demais para punir adolescentes que comentem crimes ou infrações. Isso vem motivando um debate acalorado sobre a questão da redução da maioridade penal.
Em março de 2015, a Câmara dos Deputados retomou a discussão da PEC 171, projeto que propõe baixar de 18 para 16 anos a idade mínima para, em casos de crimes violentos, uma pessoa ser julgada pela Justiça Comum. O projeto ainda está em tramitação.
Defensores do ECA afirmam que o crime deve ser punido, mas é preciso considerar as diferenças no desenvolvimento físico e psicológico nos adolescentes em relação aos adultos. Para críticos, o Estado não é eficaz em recuperar o menor, e o ECA seria um instrumento que garantiria a impunidade em relação aos adolescentes em conflito com a lei.

Bibliografia
Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível online

ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente 9ª, Vários autores (DP&A, 2009)

Direitos Da Criança: Era Uma Vez..., A. Reis Monteiro (Almedina, 2010)


Migrações no Brasil

Migrações Externas
A imigração no Brasil pode ser dividida em três períodos principais
1) O primeiro período (de 1808 a 1850) foi marcado pela chegada da família real, em 1808, o que ocasionou a vinda dos primeiros casais de imigrantes açorianos para serem proprietários de terras no país. Devido ao receio do europeu de fixar-se num país de economia colonial e escravocrata, nesse período houve uma imigração muito pequena.
2) O segundo período (de 1850 a 1930) foi marcado pela proibição do tráfico de escravos. Foi à época mais importante para a nossa imigração, devido ao grande crescimento da atividade monocultora (café) e aos incentivos governamentais dados ao imigrante. Em 1888, com a abolição da escravidão, estimulou-se ainda mais o fluxo imigratório, tendo o Brasil recebido, nessa época, praticamente 80% dos imigrantes entrados no país.
3) O terceiro período (de 1930 até os dias de hoje) é caracterizado por uma sensível redução na imigração, devido, inicialmente, à crise econômica de 1929, ocasionada pela quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, com o consequente abalo da cafeicultura brasileira. Além disso, contribuiu também a crise política interna no país, decorrente da Revolução de 1930, e a criação de uma lei sobre imigração, através da Constituição de 1934. Essa lei restringia a entrada de imigrantes, estipulando que, anualmente não poderia entrar no país mais que 2% do total de imigrantes de cada nacionalidade entrados nos últimos 50 anos. Determinava ainda que 80% dos imigrantes deveriam dedicar-se à agricultura.

PRINCIPAIS GRUPOS DE IMIGRANTES:
a) Os PORTUGUESES representam o maior contingente de imigrantes entrados no Brasil. Calcula-se que devam viver atualmente, no país, 213.203 portugueses, concentrados nos grandes centros urbanos, com destaque especial para o Rio de Janeiro e São Paulo.
b) Os primeiros ITALIANOS chegaram ao Brasil em 1875, estabelecendo-se no Rio Grande do Sul, na região serrana e também em Santa Catarina, onde o clima era mais ameno, assemelhando-se um pouco com as regiões de onde vieram. Logo após essa época, São Paulo tornou-se o maior polo receptor de italianos, que inicialmente se encaminharam para as zonas cafeicultoras do interior. Em pouco tempo, entretanto, acabaram por migrar para a capital, vindo a se constituir em importante mão-de-obra para a indústria que então se iniciava. Os italianos deixaram suas marcas em cidades e bairros, influenciando hábitos alimentares e linguísticos das regiões onde se estabeleceram.
c) As primeiras levas de imigrantes ALEMÃES chegaram em 1824 e, desde então, deram preferência à região Sul do Brasil, onde fundaram a colônia de São Leopoldo (RS). A partir de 1850, foram se instalando em Santa Catarina, sobretudo no vale do Itajaí, onde surgiram Brusque, Joinville e Blumenau, cidades de marcantes características alemãs. Atualmente, a cidade de São Paulo e, sobretudo em Santo Amaro, e os três estados sulinos abrigam quase a totalidade dos imigrantes alemães e seus descendentes brasileiros.
d) A imigração JAPONESA teve início em 1908, quando aportou no Brasil o navio Kasato Maru, com 165 famílias a bordo. Estabeleceram-se inicialmente em São Paulo e depois no Pará, onde se desenvolve importante núcleo produtor de pimenta-do-reino. Na cidade de São Paulo, foram se concentrando no bairro da Liberdade, que adquiriu características de sua cultura, perceptíveis principalmente nas ruas e cartazes. 

Emigrações de brasileiros
De acordo com estimativas divulgadas em 2011 pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty), em 2010, cerca de 3,1 milhões de brasileiros viviam fora do país. Apesar de grande parte desses emigrantes terem formação profissional, na maioria das vezes exercem tarefas de baixa qualificação nos países onde residem.
O Brasil, hoje em dia é um país de emigração. Os primeiros movimentos de saída de grande proporção foram registrados na década de 1970, com a emigração, para o Paraguai, de sulistas que venderam as suas terras ou perderam os seus empregos. Hoje em dia esse emigrantes, que são conhecidos como "brasiguaios", representam cerca de 5% da população desse país.
A partir de 1980, milhares de brasileiros de ascendência japonesa foram atraídos por ofertas de trabalho no Japão. Muitos tinham formação superior e foram pro Japão pra exercer serviços de baixa remuneração e de baixa qualificação para o padrão japonês. Esses são conhecidos como "dekasseguis". Antes do governo japonês tomar a iniciativa da mão-de-obra de descendentes japoneses, cerca de 2 mil brasileiros viviam no Japão. Hoje em dia, são mais de 200 mil.
Nos Estados Unidos, o emigrante brasileiro é chamado de "brazuca". A maioria trabalha em serviços de baixa remuneração. São babás, faxineiros, engraxates, balconistas e etc.
Alemanha, Portugal e Itália abrigam, juntos, cerca de 150 mil brasileiros. Nesses três países vivem 60% dos emigrantes brasileiros que estão na Europa.

As migrações internas
No período colonial, as migrações internas acompanharam os sucessivos ciclos de desenvolvimento da economia regional, relacionados à agricultura de exportação, à criação bovina ou à extração mineral. A cana-de-açúcar, por exemplo, estimulou o desenvolvimento do Nordeste no início da colonização; a criação de gado contribuiu para a ocupação do Sul do país e de áreas mais afastadas do litoral; e a mineração atraiu migrantes para Minas Gerais e a região central do Brasil.
As migrações internas também foram influenciadas pelo curto ciclo da borracha, na Amazônia (1870-1912); pelo cultivo do café - que marcou a economia brasileira entre o fim do século XIX e as primeiras décadas do século XX - e pelo crescimento industrial, no Sudeste (especialmente no estado de São Paulo), que se intensificou a partir da Segunda Guerra Mundial. A partir da década de 1970, devido à expansão da atividade agrícola no Centro-Oeste e à política de ocupação da Amazônia, essas regiões transformaram-se em novos polos de atração populacional.
A partir da década de 1930, os deslocamentos internos da população brasileira tornaram-se mais expressivos, promovendo uma ampla redistribuição de pessoas pelas regiões. A Lei de Cotas, que restringiu a entrada de estrangeiros, a industrialização e o desenvolvimento urbano da atual região Sudeste marcaram a estruturação de um intenso fluxo interno da população em direção a essa região, principalmente do Nordeste do país.
Após a década de 1950, milhões de nordestinos migraram preferencialmente para o eixo Rio-São Paulo. Secas prolongadas, alto índice de pobreza e miséria, falta de emprego e más condições de vida, associados ao grande desenvolvimento desses estados, eram os principais fatores que motivaram esse fluxo de migrantes.
Em busca de trabalho e melhores condições de vida, essa mão de obra barata foi absorvida por diversos setores (metalurgia, indústria de peças e automóveis, construção civil, empregos domésticos) e desempenhou papel importante no crescimento econômico e na urbanização da região Sudeste.
Essa migração da atual região Nordeste para o Sudeste (inter-regional) foi acompanhada da migração do campo para a cidade. Foi justamente na década de 1960 que a população urbana superou a população rural no Brasil. As dificuldades de manutenção da agricultura de subsistência e a concentração fundiária são alguns dos fatores que explicam a aceleração dos movimentos populacionais em direção às cidades. Outros aspectos que explicam os fluxos migratórios do campo para a cidade são a mecanização do campo, o desenvolvimento urbano-industrial, a maior facilidade de acesso aos serviços sociais nas cidades e as maiores oportunidades de emprego e de melhoria das condições de vida nas cidades.
Atualmente, as atividades econômicas tornaram-se mais diversificadas em todas as regiões. Além disso, a "guerra fiscal" travada entre os estados, que lançam mão de isenções de impostos para atrair empresas, leva a uma relativa desconcentração industrial. Esse processo tem alterado a dinâmica do fluxo populacional, caracterizado pelo crescimento das cidades médias em um ritmo superior ao das metrópoles do Sudeste.
Com relação à migração entre as regiões, o censo de 2010 (IBGE), registrou poucas alterações em comparação com a pesquisa realizada em 2000. O Sudeste ainda continua como o principal destino dos movimentos migratórios, particularmente o estado de São Paulo, cuja atividade agrícola desponta atualmente como um fator de atração muito importante. Porém, essa região vem diminuindo o seu crescimento populacional, sendo a segunda região que teve o menor crescimento na última década. O Centro-Oeste, em razão da ampliação das fronteiras agrícolas e por sediar o Distrito Federal, é a segunda região que mais atrai imigrantes no Brasil e é também a que teve o segundo maior crescimento populacional do Brasil.
O Nordeste permanece como o principal polo de emigração, constituindo a única região que registrou o volume de saída da população superior ao de entrada. No entanto, sobretudo a partir dos anos 1990, é marcante o fluxo de pessoas para a região. Em sua maioria, referem-se a nordestinos que, devido às dificuldades encontradas no Sudeste, retornam ao seu local de origem. Outra tendência que vem se verificando nos fluxos migratórios internos é o deslocamento de pessoas das grandes para as médias cidades. A região Sul praticamente manteve equilibrado o fluxo de entradas e saídas de população. No censo do IBGE 2010, constatou-se, também, que a região Norte é a região do país que teve o maior crescimento populacional.
As maiores entradas anuais de imigrantes ocorreram no período que se estende de 1988 até 1914 -1918, anos da Primeira Guerra Mundial. O total de imigrantes que entraram no Brasil de 1850 até 2000 foi superior a 5 milhões; aproximadamente 3 milhões fixaram-se aqui e os 2 milhões restantes deixaram o país.
A imigração foi muito forte no período de 1850 até 1934, mas hoje em dia ela se tornou muito menor, menor até que a emigração. As migrações internas ocorreram durante toda a nossa história, mas assumiram maior importância após 1934, com o declínio da imigração e uma maior integração entre as diversas regiões do país. As migrações nas grandes cidades vêm aumentando muito desde a década de 1950, acompanhando o aumento da urbanização.
O centro-sul esta emitindo mais imigrantes, e o centro-oeste e a Amazônia estão recebendo.

Migração nordestina e êxodo rural
As migrações internas também sempre foram muito intensas, como por exemplo, a de habitantes do Nordeste que migraram em massa para o Centro-Sul do Brasil com o declínio da cana de açúcar e o desenvolvimento da mineração, ou a de nordestinos que migraram para a Amazônia no chamado “boom da borracha" no final do século XIX.
Com a industrialização nas décadas de 60 e 70, passamos a viver de forma mais intensa migrações internas no território nacional, como a de nordestinos em direção das grandes metrópoles brasileiras, Rio e São Paulo, e o intenso êxodo rural, que fez o Brasil se tornar um país predominantemente urbano em um espaço de menos de 30 anos. Na década de 70 os fluxos migratórios se direcionaram para a Amazônia, fruto da política de ocupação do território nacional imposta pelos militares, chamada "integrar para não entregar".
Atualmente, as antigas metrópoles industriais não são mais os locais preferidos por migrantes, por conta do processo de desconcentração industrial, novas áreas do país passam a ser polo de atração desses cidadãos, como o interior de S. Paulo, do Paraná, etc. As migrações continuam a ser muito comuns no Brasil, tanto do campo para a cidade, assim como as urbano-urbano. São comuns também nas grandes metrópoles brasileiras, as migrações pendulares, assim como a migração sazonal em regiões como o Nordeste.
Êxodo Rural: Podemos definir êxodo rural como sendo o deslocamento de pessoas da zona rural (campo) para a zona urbana (cidades). Ele ocorre quando os habitantes do campo visam obter condições de vida melhor. 
Os principais motivos que fazem com que grandes quantidades de habitantes saiam da zona rural para as grandes cidades são: busca de empregos com boa remuneração, mecanização da produção rural, fuga de desastres naturais (secas, enchentes, etc.), qualidade de ensino e necessidade de infraestrutura e serviços (hospitais, transportes, educação, etc.).
O êxodo rural provoca, na maioria das vezes, problemas sociais. Cidades que recebem grande quantidade de migrantes, muitas vezes, não estão preparadas para tal fenômeno. Os empregos não são suficientes e muitos migrantes partem para o mercado de trabalho informal e passam a residir em habitações sem boas condições (favelas, cortiços, etc.). 
Além do desemprego, o êxodo rural descontrolado causa outros problemas nas grandes cidades. Ele aumenta em grandes proporções a população nos bairros de periferia das grandes cidades. Como são bairros carentes em hospitais e escolas, a população destes locais acaba sofrendo com o atendimento destes serviços. Escolas com excesso de alunos por sala de aula e hospitais superlotados são as consequências deste fato.
Êxodo Urbano: tipo de migração que se dá com a transferência de populações urbanas para o espaço rural. Hoje em dia é um tipo de migração muito incomum.
Migração urbano-urbano: tipo de migração, que se dá com a transferência de populações de uma cidade para outra. Tipo de migração muito comum nos dias atuais.
Migração sazonal: tipo de migração que se caracteriza por estarem ligadas as estações do ano. É uma migração temporária onde o migrante sai de um determinado local em um determinado período do ano, e posteriormente volta, em outro período do ano, é a chamada transumância. É o que acontece, por exemplo, com os sertanejos do Nordeste brasileiro.
Migração diária ou pendular: tipo de migração característico de grandes cidades, no qual milhões de trabalhadores saem todas as manhãs de sua casa em direção do seu trabalho, e retornam no final do dia. Os momentos de maior aglomeração de pessoas são chamados de rush. Isso se dá em virtude da periferização dos trabalhadores que muitas vezes moram a vários quilômetros de distância de seu trabalho, em alguns casos até mesmo em outras cidades que passam a ser chamadas de cidades dormitório.

Migração e preconceito
As migrações, apesar de serem fundamentais na história de todos os povos, promovendo desenvolvimento e intercambio cultural, muitas vezes são a causa de conflitos. Isso ocorre tanto em migrações externas como também nas internas.
No Brasil, sobretudo na região Sudeste e também na Sul, costuma-se difundir uma visão equivocada de que a grande concentração de nordestinos nessas regiões seria a causa de problemas sociais dos grandes centros urbanos, como, por exemplo, a violência e o desemprego.
A intolerância aos migrantes muitas vezes pode levar a ações violentas. Preconceitos de cunho social e racial acompanharam a migração nordestina no centro-sul do país. Em decorrência de sua pobreza material original e das condições pouco favoráveis encontradas no destino, restou aos migrantes nordestinos ocupar as áreas pobres e de periferia dos centros urbanos. A partir da década de 1950, a falta de moradias e os aluguéis caros obrigavam os migrantes a ocuparem áreas periféricas, onde adquiriam lotes à prestação e erguiam moradias com as próprias mãos e com recursos próprios.
Os nordestinos que chegaram ao pós-guerra encontraram um ambiente bem menos favorável à ascensão social que os imigrantes europeus que chegaram a São Paulo no início do século XX. Quando a migração nordestina aumentou, as fronteiras da sociedade industrial já estavam devidamente marcadas e as oportunidades de mobilidade já eram mais restritas. Os imigrantes europeus em São Paulo já haviam ocupado os cargos qualificados e semi qualificados dos postos de trabalho, restando aos nordestinos às profissões subalternas e não qualificadas.
Do ponto de vista racial, a maioria dos migrantes nordestinos que chegavam eram mulatos ou mestiços acaboclados, de estatura baixa, pobres e analfabetos, ou semianalfabetos. Em um país como o Brasil onde, até os dias atuais, o padrão branco europeu é o mais valorizado, a presença maciça de nordestinos pobres e mestiços em São Paulo faz com que esse grupo seja percebido como o responsável pela pobreza, violência, pelo desemprego e pela degradação das condições de vida na cidade.
O sociólogo Antônio Sérgio Guimarães compara o racismo antinordestino em São Paulo à xenofobia contra imigrantes existente atualmente na Europa. Em pesquisa em bairros de classe-média baixa de tradicional imigração europeia da capital paulista, o sociólogo se deparou com a naturalidade com que os "nativos", muitos deles descendentes de europeus, expressavam seu preconceito contra nordestinos, os quais são chamados invariavelmente de "baianos", mesmo que sejam de outros estados do Nordeste.
Um caso que ganhou repercussão na mídia brasileira foi da estudante de direito Mayara Petruso. Em 2010, após a eleição de Dilma Rousseff como presidente, que obteve maioria dos votos no Nordeste, Petruso publicou a seguinte mensagem em uma rede social: “Nordestino não é gente. Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado”. Processada, foi condenada pela Justiça Federal de São Paulo a uma pena de um ano, 5 meses e 15 dias de prisão, que foi convertida em prestação de serviços comunitários e pagamento de multa.

FONTE: Lucci, Elian Alabi. Território e sociedade no mundo globalizado: geografia: ensino médio, volume 3 / Elian Alabi Lucci, Anselmo Lázaro Branco, Cláudio Mendonça. – 2ª. ed. - São Paulo: Saraiva, 2013.

Povos em Movimento

1- GLOBALIZAÇÃO E MIGRAÇÕES
  A partir do século XVI, até pelo menos as primeiras décadas do século XX, os principais movimentos migratórios em escala transcontinental ocorriam da Europa para outras regiões do globo, sobretudo para a América, mas também para a África e Ásia. Hoje, os fluxos migratórios internacionais mais importantes ocorrem, de certo modo, na direção inversa. Estados Unidos e Canadá, no entanto, sobretudo o primeiro, continuam recebendo expressivo número de imigrantes.
O sentido desses fluxos é, em muitos casos, resultado do distanciamento (cada vez maior) entre a riqueza acumulada nos países desenvolvidos e a pobreza enfrentada por parcela significativa da população dos demais países.
Com efeito, os principais fatores que propulsionam a dinâmica migratória são a desigualdade socioeconômica entre os países e o desemprego estrutural e conjuntural. Entre os acontecimentos que estimularam as migrações internacionais nas últimas décadas destacam-se: o ciclo recessivo da economia mundial, na década de 1980; a crise dos países socialistas, nas décadas de 1980 e 1990; as políticas neoliberais, que, ao serem incorporadas pelos países subdesenvolvidos, fragilizaram relações trabalhistas e retiraram a proteção social; além de conflitos e guerras no início do século XXI, como Iraque e Afeganistão, entre outros.
O desenvolvimento dos meios de transporte e de comunicação das últimas décadas também facilitou o deslocamento dos imigrantes para regiões mais distantes de sua terra de origem.
A evolução tecnológica, no contexto de um mundo globalizado, intensificou as disputas entre as empresas e a competição entre os profissionais no mercado internacional. Com as novas formas de produção de mercadorias e a crescente informatização do sistema financeiro e dos serviços bancários e comerciais, as atividades econômicas estão absorvendo cada vez menos trabalhadores, especialmente os de baixa qualificação.
Se nos países desenvolvidos o índice de população desocupada é preocupante, nos países subdesenvolvidos, que ainda mantêm um índice de crescimento populacional relativo (caso dos subdesenvolvidos industrializados) ou elevado, as perspectivas em longo prazo preocupam ainda mais. Há, também, os países com baixo crescimento populacional, mas ritmo de elevação do PIB muito lento e nível de geração de emprego que não atende à demanda.
Atualmente, os países subdesenvolvidos têm procurado atrair investimentos de empresas transnacionais, visando dinamizar sua economia, elevar a entrada de divisas e aumentar sua capacidade de produção de bens, geração de serviços e exportação de mercadorias. Mas esses investimentos, de modo geral, não ampliaram significativamente a oferta de empregos, o que poderia reduzir o processo de emigração. Em muitos casos, acarretam a falência de empresas nacionais que utilizavam muita mão de obra e pouca tecnologia. Essa situação gera grupos de profissionais que não conseguem voltar ao mercado de trabalho formal, seja pela baixa qualificação, seja pela própria redução na oferta de vagas.

1.2- MIGRAÇÕES INTERNACIONAIS
Os deslocamentos populacionais fazem parte da história da humanidade, tendo sido responsáveis pela formação dos diversos povos e, em certa medida, dos próprios elementos culturais que os caracterizam. Os grupos étnicos existentes só podem ser entendidos a partir da análise das migrações, considerando-se os choques e as assimilações culturais dos povos ao longo da história.
Com os deslocamentos populacionais, extensas regiões da Terra foram sendo ocupadas e colonizadas. O continente americano é um bom exemplo desse processo. Atualmente, as migrações internacionais alcançaram um volume bastante expressivo. Milhões de pessoas cruzam as fronteiras entre os países todos os anos em busca de oportunidades de estudo, ascensão profissional e pessoal, ou  fugindo da violência, de guerras e perseguições políticas e religiosas.
Quase todas as grandes cidades do mundo possuem comunidades de imigrantes, algumas das quais numericamente significativas. São exemplos a grande concentração de turcos em Frankfurt, na Alemanha; de chineses, em Vancouver, no Canadá; de argentinos em Paris, na França; de indianos e paquistaneses em Londres, na Inglaterra; e de hispânicos e povos de quase toda a parte do mundo em diversas cidades dos Estados Unidos.
Apesar de buscarem conquistas sociais, a maioria desses imigrantes recebem baixa remuneração e os que vivem em condição ilegal sofrem com a falta de assistência social, de acesso aos sistemas públicos de seguridade social, como saúde e previdência, de educação, de habitação, de transporte, entre outros. Isso leva à precarização de suas condições de vida e de trabalho, principalmente nas grandes cidades. Ainda assim, as perspectivas, de maneira geral, são melhores para os migrantes do que em seus países de origem, principalmente se estes provêm de países de baixo IDH.
De acordo com o Relatório da ONU "Ultrapassar barreiras: mobilidade e desenvolvimento humano", publicado pelo Pnud em 2009, havia 214 milhões de imigrantes no mundo, ou seja, cerca de 3% do total da população mundial, percentual igual ao de 50 anos atrás. Desse total, 50 milhões estavam em situação irregular.
Uma parte desse contingente, cerca de 15%, migrou em decorrência de perseguições políticas (fugindo de guerras ou de regimes autoritários para buscar proteção em outros países), secas ou outros desastres ambientais. A maioria, porém, é formada por pessoas que migraram por motivos econômicos, ou seja, que decidiram trocar uma situação de vida sem perspectivas em sua terra de origem pela esperança de consegui-las em outros países.
Embora o principal fluxo das migrações internacionais se dê dos países subdesenvolvidos para os desenvolvidos, eles ocorrem em todas as direções, inclusive entre países de nível de desenvolvimento econômico semelhante.

1.2.1-MIGRAÇÃO POR RAZÕES ECONÔMICAS
Aqueles que migram por razões econômicas dirigem-se principalmente para os países ricos ou mais desenvolvidos que o de origem. Após as guerras mundiais, os países europeus - principalmente Alemanha, França e Reino Unido - estimularam a imigração de mão de obra barata, oriunda de países subdesenvolvidos. Essa imigração foi importante para a reconstrução do continente, além de equilibrar o déficit populacional decorrente da morte de milhões de pessoas na Segunda Guerra Mundial.
Atualmente, esses mesmos países fazem inúmeras restrições à entrada de imigrantes, sem, contudo, conseguir evitar o movimento migratório. Os imigrantes continuam atravessando fronteiras, sobretudo de forma ilegal e sob o risco de deportação quando descobertos pelas autoridades locais.
Em quase todos os países desenvolvidos, são encontrados grupos políticos de extrema direita contrários à entrada de imigrantes. Esses grupos, dependendo do país, contam com o apoio de significativa parcela da população e, em muitos casos, chegam a propor o repatriamento de imigrantes, inclusive daqueles que tiveram sua situação regularizada.
Nem sempre são as pessoas pobres que migram. A migração para os países desenvolvidos atinge, em sua maior parte, a população de renda média dos países subdesenvolvidos ou emergentes. No início do século XXI, os mais de dois milhões de brasileiros que viviam no exterior pertenciam sobretudo às classes média e média baixa.
A migração rumo aos países desenvolvidos é acessível a uma pequena parte da população. Quem migra por razões de miséria absoluta, mal consegue ultrapassar as fronteiras do próprio país ou do próprio continente. Na África e em algumas regiões da Ásia (sul e sudeste), a situação de miséria dificulta a saída das pessoas do continente; elas se deslocam, então, de regiões fragilizadas economicamente para outras, que tampouco podem oferecer-lhes melhores perspectivas.
É na África Subsaariana que ocorre a maior movimentação de migrantes: milhões de pessoas mudam de país, muitas vezes também em razão de conflitos (guerras civis e perseguições políticas e étnicas, que agravam a situação de pobreza), mas não conseguem sair do continente. Parte considerável dos fluxos migratórios oriundos da África Subsaariana se dirige à África do Sul, país mais desenvolvido do continente.

1.2.2- BARREIRAS E INCENTIVOS AOS IMIGRANTES
A intensificação das migrações internacionais das últimas décadas coincidiu com as transformações que tornaram o mercado de trabalho mais restritivo e seletivo no mundo desenvolvido. Na Europa, principalmente, o índice de desemprego atingiu patamares altos nos anos 1980 e 1990, e não se observa uma reversão significativa das taxas de população desocupada.
No mundo desenvolvido, muitos dos que ficam desempregados não conseguem regressar ao mercado de trabalho exercendo atividades cuja qualificação profissional corresponda à exigida no emprego anterior. Assim, boa parte dos trabalhos de baixa qualificação, tradicionalmente realizada pelos imigrantes, passou a ser disputada pela população local, restringindo as opções que sempre estiveram abertas aos estrangeiros. Tal situação tem contribuído muito para a ampliação dos conflitos sociais entre os imigrantes e as populações nativas.
Há, no entanto, o outro lado da moeda. Muitos países desenvolvidos estimulam, ainda, a migração de profissionais altamente qualificados, como pesquisadores e estudiosos, que, no lugar de contribuir para o desenvolvimento técnico-científico de seu país de origem, o fazem para os mais desenvolvidos.

1.2.3- OS REFUGIADOS
Atualmente, parte das pessoas que migra para outros países é considerada refugiada. Segundo a Convenção de Genebra, de 1951, refugiado é "toda pessoa que, em razão de fundados temores de perseguição devido à sua raça, religião, nacionalidade, associação a determinado grupo social ou opinião política, encontra-se fora de seu país de origem e que, por causa de ditos temores, não pode ou não quer regressar a ele. Tais pessoas migram em busca de segurança, proteção, liberdade e de melhores condições de vida no país que as acolheu".
A Convenção de Genebra teve como objetivo estabelecer uma regulamentação internacional, com políticas comuns para o tratamento de refugiados políticos e prisioneiros de guerra. Tais políticas baseiam-se nas regras gerais referentes a direitos humanos e direitos de exílio de refugiados políticos que correm risco de morte em seu país de origem.
Segundo dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), em novembro de 2007, o número total de Estados signatários da Convenção era 144. Criado pela ONU, o Acnur é uma organização de apoio a refugiados de todo o mundo.
Na África e na Ásia, a quase totalidade dos refugiados é formada por migrantes de países do próprio continente; já na Europa, os refugiados originam-se, em sua maioria, da Ásia, da África e dos países do Leste Europeu, incluindo a Rússia.

1.2.4- MIGRAÇÃO FORÇADA OU TRÁFICO HUMANO
O século XXI ainda registra casos de migração forçada e escravidão: são grupos de pessoas deslocados de seus países e submetidos a trabalhos forçados em fábricas, fazendas e residências (serviços domésticos).
Mulheres e meninas são mais vulneráveis a esse tipo de migração, sendo atraídas por quadrilhas especializadas em tráfico humano. Aliciadas com perspectivas de melhores oportunidades de vida, são vendidas e obrigadas a trabalhar sem remuneração assim que chegam ao novo país. Tornam-se escravas, seja por meio de mecanismos de endividamento com os traficantes - ao qual nunca conseguirão pagar -, seja por meio de torturas, ameaças e confisco de passaportes. Esses mecanismos de endividamento também são utilizados com grupos de homens imigrantes.
De acordo com o Serviço de Investigação do Congresso dos Estados Unidos, o tráfico de pessoas ocupa hoje a terceira fonte de renda do crime organizado, perdendo apenas para o tráfico de drogas e de armas. Dados estimados da ONU indicam que essa atividade criminosa movimenta entre 7 e 10 bilhões de dólares por ano. Segundo o Departamento de Estado norte-americano, 900 mil pessoas são vítimas de traficantes, que atuam de forma individual ou em redes organizadas que têm ramificações em dezenas de países.

1.3- A FRONTEIRA ESTADUNIDENSE
Os Estados Unidos, país que mais recebeu imigrantes em todo o mundo e em toda a história, são formados por grande diversidade de povos de origem europeia (preponderante), asiática, africana e diversos grupos indígenas. Os latino-americanos, porém, constituem atualmente o maior volume de imigrantes no país. Segundo relatório da ONU em meados da década de 2000, os Estados Unidos contavam com cerca de 30 milhões de imigrantes.
Os norte-americanos são extremamente restritivos com relação à entrada de imigrantes. Sobretudo, após os atentados de 11 de setembro de 2001, eles vêm sendo mais rigorosos na concessão de vistos de entrada a latino-americanos, africanos e asiáticos que desejam visitar o país. Desde janeiro de 2004, qualquer turista que ingresse nos Estados Unidos é fotografado e tem as impressões digitais colhidas e armazenadas em sistemas informatizados. Apesar de todo o controle e das restrições, estima-se que, em 2009, cerca de 1 milhão de imigrantes, das mais diferentes nacionalidades, ingressou nos Estados Unidos, sendo metade ilegal.
Entre os imigrantes clandestinos, destacam-se os mexicanos que ingressam ilegalmente em território norte-americano e ocupam postos de trabalho pouco qualificados.
Para conter esse fluxo, o policiamento da fronteira entre o México e os Estados Unidos foi reforçado a partir da década de 1980. Muitos imigrantes de outros países latino-americanos costumavam utilizá-la para entrar clandestinamente em solo norte-americano. Atualmente, nessa fronteira há longos trechos com muros e grades, além de torres de vigilância para conter esse fluxo de imigrantes.

1.4- OS CUBANOS
A partir da década de 1990, os Estados Unidos começaram a receber grande número de imigrantes cubanos. Isso se deu em razão da crise que envolveu a extinta União Soviética e os países do Leste Europeu, no final dos anos 1980, com reflexos imediatos na economia cubana.
Cuba perdeu o mercado preferencial - para os países socialistas - de seus produtos de exportação, como o açúcar e o fumo, além da ajuda financeira anual que recebia da União Soviética. Além disso, devido ao embargo econômico norte-americano imposto a Cuba desde o início dos anos 1960, e que se mantém até hoje (apesar de, em 2009, o governo de Barack Obama ter suavizado algumas medidas, como a permissão de viagens e de transferências de dinheiro dos americanos de origem cubana com destino à ilha), a economia cubana sofre muitas restrições.
Nos primeiros anos que se seguiram à Revolução Cubana de 1959, um grande número de refugiados políticos deixou o país rumo aos Estados Unidos.
A partir da década de 1990, aqueles que não suportavam a escassez gerada pela crise econômica cubana procuraram deixar o país, e muitos se dirigiram para o território norte-americano. Milhares de pessoas saíram da ilha, em pequenos barcos, em direção à península da Flórida. Devido à precariedade das embarcações usadas na fuga, muitos não sobreviveram. Esses migrantes ficaram mundialmente conhecidos por balseros.(imigrantes cubanos tentando entrar nos Estados Unidos por meio da costa da Flórida)

1.5- A FRONTEIRA DA UNIÃO EUROPEIA
As migrações políticas durante a Guerra Fria foram causadas pela insatisfação com os regimes ditatoriais no Leste Europeu, na Espanha e em Portugal, sendo um fenômeno comum na Europa na segunda metade do século XX.
No entanto, no fim dos anos 1980, a desestruturação do sistema socialista e a crise econômica gerada nos países do Leste Europeu e na então União Soviética favoreceram as migrações econômicas, levando milhares de pessoas a se mudar para os países da Europa Ocidental, em busca de melhores oportunidades de emprego e condições de vida. Da mesma forma, a crise gerada pelo esfacelamento da Iugoslávia e as perseguições étnicas que dela resultaram ampliaram o fluxo de imigrantes para os países da União Europeia, sobretudo para a Alemanha.
Muro de Berlim - barreira que impediu a passagem de muitas pessoas do lado oriental para o lado ocidental da Alemanha
Os países situados no norte da África, especialmente na região do Magreb (Marrocos, Argélia, Tunísia), constitui outro importante foco de movimentos migratórios em direção aos países da Europa Ocidental. Marroquinos, argelinos e tunisianos, que tradicionalmente provocaram um aumento expressivo da população europeia, continuam atravessando o Mediterrâneo, apesar das restrições feitas hoje aos imigrantes, sobretudo africanos e árabes. Atualmente, a França abriga a maior parte daqueles que saíram do Magreb. O Reino Unido, por sua vez, passou a receber, na segunda metade do século XX, habitantes de países que formavam o seu antigo império colonial. Assim, indianos e paquistaneses são atualmente os grupos mais representativos no conjunto de seus imigrantes.
Desde a segunda metade da década de 1990, a União Europeia vem tomando medidas drásticas para o fechamento de suas fronteiras aos imigrantes. Entre os seus integrantes, a França e a Alemanha, que historicamente eram abertas à imigração, passaram a adotar políticas rígidas em relação aos estrangeiros.
A livre circulação de pessoas dentro da Europa unificada levou os países-membros a adotar medidas comuns de restrição à imigração oriunda de países que não pertencem a esse bloco. No entanto, alguns países têm leis específicas para restringir ainda mais o fluxo migratório. Na Dinamarca, uma lei proíbe o casamento de menores de 24 anos com pessoas que não tenham cidadania europeia.

1.5.1- Principais fluxos migratórios na Europa
Os acordos de livre circulação de pessoas no interior da União Europeia geraram até mesmo incidentes diplomáticos entre Brasil e Portugal, que mantinham entre si uma política migratória flexível. No início da década de 1990, vários brasileiros que viviam em Portugal foram repatriados devido aos compromissos que esse país se viu obrigado a cumprir como membro da União Europeia.
Em 2008 houve aumento de casos de deportação também na Espanha, país que recebe muitos imigrantes vindos da América Latina. Estimativas apontam existir cerca de 100 mil imigrantes brasileiros na Espanha, sendo 60% ilegais. Os espanhóis têm sido pressionados pela União Europeia para implementarem medidas mais rigorosas no sentido de conter a entrada de imigrantes, uma vez que o país até meados da década de 2000 era uma das principais portas de entrada da Europa.
O bloco negocia medidas para dificultar ainda mais o ingresso de estrangeiros em qualquer dos portos e aeroportos dos países da União Europeia, a partir da obrigatoriedade do registro completo de todos os que passassem pelo continente, turistas ou não. Em 2007, o Brasil foi o segundo país latino-americano que mais sofreu deportações na Europa, sendo superado apenas pela Bolívia.

1.5.2- REAÇÃO AOS ESTRANGEIROS
Nas últimas décadas, a União Europeia tem convivido com uma quantidade crescente de desempregados, que chegou a atingir mais de 10% de sua PEA - em alguns países, esse número alcançou os 20%. No início do século XXI, o índice de desemprego caiu para 8%, em média. No entanto, era grande o número de pessoas vivendo em situação de pobreza dentro das fronteiras da União Europeia: cerca de 65 milhões.
Na Alemanha, a situação tornou-se especialmente grave a partir de 1990, com a reunificação alemã. A economia do país passou a conviver com avanços tecnológicos que suprimiram empregos e com a falência de empresas da parte oriental do país, que não conseguiam competir num mercado aberto.
O índice de desemprego nos estados que integravam a Alemanha Oriental chegou, em 1993, a 30% da PEA, um recorde mesmo quando comparado com o da recessão mundial no início da década de 1930. Mais de dez anos depois da reunificação, o índice baixou para cerca de 10%, ainda considerado alto.
Essa conjuntura de desemprego elevado favoreceu o ressurgimento do nacionalismo radical de alguns grupos políticos, que lançaram a seguinte questão: se não há empregos para os europeus, por que não repatriar os numerosos estrangeiros que vivem na União Europeia? A entrada de refugiados oriundos do Leste Europeu contribuiu para aguçar o sentimento nacionalista e para o crescimento de grupos de extrema direita, de caráter xenófobo.
Os grupos xenófobos neonazistas promoveram centenas de atentados, sobretudo contra a população turca, que forma o maior contingente de imigrantes da Alemanha. A xenofobia é um fenômeno muito expressivo em quase toda a Europa, como na Áustria, na Espanha, na Itália, na França e demais países.
Neonazistas - são os principais grupos que promovem a xenofobia na Europa
Na França, por exemplo, a questão da imigração sempre foi relevante. Esse país tem uma localização central no continente europeu, constituindo uma posição privilegiada para o comércio mundial e um local de passagem, ingresso e saída de pessoas. Segundo diversas instituições de direitos humanos, atualmente o perfil "acolhedor" do país está cedendo lugar para uma postura rígida e preconceituosa.
Cerca de um terço dos imigrantes na França é originário do Magreb, especialmente da Argélia e do Marrocos, e cerca de 25% correspondem a africanos subsaarianos. O restante se divide entre imigrantes da Ásia, da América e da própria Europa.
Todavia, os imigrantes ilegais se originam sobretudo da África e do Leste Europeu. Esses grupos são marginalizados, estigmatizados e responsabilizados por grande parte dos problemas socioeconômicos na França, como o desemprego, a violência e a falta de escolarização.

FONTE: Lucci, Elian Alabi. Território e sociedade no mundo globalizado: geografia: ensino médio, volume 3 / Elian Alabi Lucci, Anselmo Lázaro Branco, Cláudio Mendonça. – 2ª. ed. - São Paulo: Saraiva, 2013.