Geografia da Amizade

Geografia da Amizade

Amizade...Amor:
Uma gota suave que tomba
No cálice da vida
Para diminuir seu amargor...
Amizade é um rasto de Deus
Nas praias dos homens;
Um lampejo do eterno
Riscando as trevas do tempo.
Sem o calor humano do amigo
A vida seria um deserto.
Amigo é alguém sempre perto,
Alguém presente,
Mesmo, quando longe, geograficamente.
Amigo é uma Segunda eucaristia,
Um Deus-conosco, bem gente,
Não em fragmentos de pão,
Mas no mistério de dois corações
Permutando sintonia
Num dueto de gratidão.
Na geografia
da amizade,
Do amor,
Até hoje não descobri
Se o amigo é luz, estrela,
Ou perfume de flor.
Sei apenas, com precisão,
Que ele torna mais rica e mais bela
A vida se faz canção!

"Roque Schneider"



Quem sou eu

Salvador, Bahia, Brazil
Especialista em Turismo e Hospitalidade, Geógrafa, soteropolitana, professora.

sábado, 24 de setembro de 2011

Amazônia para sempre


Para voltar ao centro do palco no Oriente Médio, a Síria tenta superar um passado obscurantista.



Há um trecho em O Poderoso Chefão no qual o jovem Michael Corleone, que está fora do país, percebe que, com a morte súbita e violenta de seu irmão mais velho, agora ele está destinado - condenado seria melhor - a assumir o império mafioso construído pelo pai, já decrépito. "Avise meu pai para que mande me buscar", diz Michael, resignado ao papel que terá de cumprir, a seu anfitrião. "Diga a meu pai que quero ser seu herdeiro."

Se na vida de Bashar al Assad, o atual presidente da Síria, houve um momento assim, ele ocorreu pouco depois das 7 da manhã de 21 de janeiro de 1994, quando o telefone tocou no apartamento que alugava em Londres. Alto e estudioso, o oftalmologista Bashar, então com 28 anos, realizava sua residência no Western Eye Hospital, na capital britânica. Ao atender a ligação, soube que seu irmão mais velho, Basil, dirigindo em alta velocidade a caminho do aeroporto de Damasco em meio a densa neblina, se chocara com seu Mercedes em uma rotatória. Basil, um personagem carismático que vinha sendo preparado para suceder o pai, morreu na hora. E agora ele, Bashar, era convocado de volta a seu país.

Seis anos depois, em junho de 2000, chegou a hora final do pai, Hafez al Assad, que morreu de insuficiência cardíaca aos 69 anos. Logo após o funeral, Bashar entrou no gabinete paterno pela segunda vez em toda sua vida. Ele se lembra com nitidez da primeira vez que estivera lá, excitado para contar ao pai sobre sua primeira lição de francês. Bashar recorda-se de ter visto um frasco de colônia no armário ao lado da escrivaninha do pai. Ele ficou espantando de ainda ver o frasco ali 27 anos depois, intocado. Esse detalhe, a colônia rançosa, diz muito a respeito do regime fechado da Síria, uma ditadura à moda antiga que Bashar se sentia pouco preparado para liderar.

"Meu pai jamais me falou de política", me revela Bashar. "Mesmo depois que voltei para casa, em 1994, tudo o que aprendi sobre sua maneira de governar foi pela leitura das anotações que ele fazia durante as reuniões ou por conversas com seus colaboradores." Uma dessas lições era a de que o governo de um país como a Síria requer certo acomodamento com a ambiguidade. Entusiásta da fotografia, Bashar usa como comparação uma foto em preto-e-branco. "Nunca há preto absoluto ou branco absoluto, algo completamente ruim ou completamente bom", diz ele. "Só várias tonalidades de cinza."

A Síria é uma terra antiga, moldada ao longo de milênios pelo comércio e pelas migrações humanas. Mas, se toda a nação é como uma foto em preto-e-branco com incontáveis tons cinzentos, então a Síria, apesar de toda sua antiguidade, é na verdade uma imagem que vem sendo lentamente revelada diante de nossos olhos. É o tipo de lugar em que podemos ouvir, em um café de Damasco, um contador de histórias de 75 anos evocar as Cruzadas e o Império Otomano como se fossem lembranças de infância enquanto brande sua espada com tanta dramaticidade que os ouvintes recuam para se proteger. Em seguida, podemos caminhar na vizinhança até a magnífica mesquita omíada, erguida em 715, e nos misturarmos aos meninos que jogam futebol na entrada, sem prestar atenção à multidão de peregrinos iranianos que lá acorrem para as orações de fim da tarde. Também é um lugar no qual é possível jantar com amigos em um café elegante e, depois, enquanto se espera pelo ônibus noturno, ouvir gritos arrepiantes vindos de uma janela no segundo andar da delegacia de polícia de Bab Touma. No ponto do ônibus, os sírios trocam olhares de quem sabe muito bem o que está acontecendo, mas ninguém diz nada.

O regime dos Assad não se mantém no poder há quase 40 anos com medidas tolerantes. Ele conseguiu sobreviver em uma região violenta graças a uma combinação de astúcia política e aproximação interesseira com nações mais poderosas - primeiro a União Soviética e agora o Irã. Em estado de guerra com Israel desde 1948, a Síria fornece material aos grupos fundamentalistas islâmicos Hezbollah e Hamas e está empenhada em retomar as colinas de Golã, capturadas por Israel em 1967. As relações com os Estados Unidos, raramente boas, se tornaram ainda mais difíceis após a invasão do Iraque em 2003, quando George W. Bush, citando a oposição à guerra e o apoio aos rebeldes iraquianos, ameaçou derrubar o regime em Damasco e estigmatizou o jovem presidente como um príncipe das trevas árabe.

Este é um bom momento para avaliar a situação do país, agora que a Síria parece prestes a retomar um papel crucial nas questões regionais. Em um famoso comentário, Henry Kissinger afirmou que ali não é possível travar nenhuma guerra sem o Egito nem obter a paz sem a Síria - e provavelmente ele tinha razão. Para o bem ou para o mal, o caminho para a paz no Oriente Médio passa por Damasco.

No lado de fora do antigo mercado Hamadiya, em Damasco, antes havia uma foto de Hafez al Assad tão alta quanto um prédio de três andares. A cabeça do presidente espiava de cima a congestionada capital de 4 milhões de habitantes. Inspirada nos cultos totalitários do império soviético, essa iconografia do Grande Irmão sempre conferiu à Síria a aparência de uma nação preservada em âmbar, remanescente de uma época na qual os ditadores eram de fato ditadores, como Stalin e Mao. E foi esse país que, ao morrer, Hafez deixou para o filho.
Hoje, no lugar da foto imensa, vê-se um grande outdoor branco com uma imagem do primeiro presidente sírio pós-moderno. Bashar está acenando com um sorriso animado no rosto. "Eu acredito na Síria", diz uma frase. Mas será preciso mais que um sorriso e um slogan para reinventar o país. "O que a Síria precisa agora, me diz Bashar, é de uma mudança de mentalidade."

O vilarejo natal da família Assad, Al Qardahah, está situado em uma encosta, resguardada como são as cidadezinhas montanhosas, mas tão próxima do Mediterrâneo que dá para distinguir os barcos de pesca em Latakia, maior porto da Síria. Uma estrada sobe da costa, levando os peregrinos ao vilarejo, onde as ruas são pavimentadas, as casas, imponentes, e os altos funcionários do regime - homens corpulentos na faixa dos 50 ou 60 anos com jeito de mafiosos em férias - passeiam de pijama pelas calçadas.

Centenas de anos atrás, Al Qardahah era um enclave de xiitas pobres que veneravam Ali, o genro e sucessor de Maomé, com tal fervor que foram declarados heréticos por outros muçulmanos e forçados a viver nas montanhas do noroeste da Síria, onde ficaram conhecidos como alauís. Então, em 1939, um deles - um brilhante menino de 9 anos chamado Hafez - foi enviado para estudar fora. Ele foi para Latakia, onde frequentou escolas mantidas pelos franceses que tomaram a região do Império Otomano após a Primeira Guerra, na partilha da Síria histórica (que incluía os territórios atuais de Israel, Palestina, Jordânia, Líbano, oeste do Iraque e sul da Turquia) feita pela Grã-Bretanha e pela França nos termos do Acordo Sykes-Picot, de 1916.

Quieto e alto para sua idade, Hafez era consumido pela ambição de ser bem-sucedido e chegar ao poder. Após a independência da França em 1946, ele passou a integrar o Partido Baath, um movimento nacionalista árabe de cunho secular que assumiria o controle do país em 1963. Hafez fez carreira militar e acabou nomeado ministro da Defesa. Em 1970, articulou um golpe de Estado com a ajuda de um grupo de oficiais, muitos também alauís. Desde então, os seguidores dessa minúscula seita xiita conseguiram se manter no comando dessa nação complexa com 20 milhões de habitantes, 76% dos quais sunitas.

Hafez al Assad sobreviveu graças a sua rara capacidade de manipular eventos geopolíticos, jogando com tal inteligência as cartas fracas que tinha na mão que Bill Clinton o considerou o líder do Oriente Médio mais astucioso que conhecera. Hafez revelou-se um mestre em manter sob controle as explosivas diferenças religiosas no país, estabelecendo um regime laico. Desestimulou a menção ao termo "alauí" em público e alterou o nome de sua região natal para "montes Ocidentais". E empenhou-se ao máximo em proteger outras minorias religiosas - cristãos, ismaelianos, drusos -, pois dependia delas para contrabalançar a preponderância sunita.

Hafez era inclemente com seus inimigos, sobretudo com a Irmandade Muçulmana Síria, um movimento fundamentalista sunita ansioso para afastar do poder os alauís apóstatas e instalar no país um Estado islâmico. Quando, no fim da década de 1970, a Irmandade promoveu uma série de atentados, Hafez ordenou que aviões da Força Aérea bombardeassem áreas densamente povoadas em Hama, reduto dos militantes. Entre 10 mil e 40 mil pessoas morreram, e milhares foram detidas, torturadas e abandonadas em prisões. O regime logo em seguida lançou sua polícia contra todos os opositores políticos.

Quando Hafez al Assad morreu, em 2000, seu corpo foi levado de volta a Al Qardahah e sepultado ao lado de seu primogênito, Basil, cujas façanhas ousadas o distinguiam do estudioso irmão mais novo. "Bashar é tão amistoso que é fácil subestimá-lo", comenta Ryan Crocker, que era embaixador dos Estados Unidos no período em que Bashar assumiu o governo. "Mas não há como negar: ele é bem parecido com o pai."

Um rapaz vestindo uma jaqueta preta de couro sintético desenha em minha caderneta, lançando um barco a vela em um mar revolto com traços cuidadosos de caneta azul. Estamos em um café com vista para as colinas do norte da Síria, seguindo as sombras de nuvens que se movem sobre uma paisagem de terra vermelha e oliveiras de um verde prateado. Liberdade, comenta o jovem. É disso que precisamos.

"Não falo de liberdade política", diz ele olhando para se assegurar de que não há por perto nenhum mukhabarat, ou policial disfarçado. "E sim da liberdade para fazer coisas", segue o rapaz, "sem ser sufocado por questões burocráticas. Na Síria, para gente como eu, não há nenhum incentivo para se tentar algo novo. Jamais se consegue aprovação do governo. Aqui tudo se resume a quem você é, a qual clã ou vilarejo pertence e ao tanto de vitamina Uau que tem no bolso."
"Vitamina Uau?", pergunto. "Wasta!", replica ele rindo. Dinheiro! Suborno! "Para onde vai o barquinho?", pergunto apontando o desenho. "A lugar nenhum", diz. "Não tenho vitamina Uau!"

Logo depois de voltar de Londres, Bashar concluiu que a Síria sofria de overdose de vitamina Uau. Ao assumir o governo em 2000, ele lançou uma campanha anticorrupção, afastando ministros e altos funcionários. Colocou em liberdade centenas de prisioneiros políticos e amenizou as restrições aos dissidentes - uma assim chamada Primavera de Damasco que logo se espalhou, desde a sala das residências até uma crescente subcultura de cafés com acesso à internet. O próprio Bashar tornou possível esta última tendência, junto de tecnocratas com ideias similares, a fim de difundir o uso de computadores mesmo antes de virar presidente. Vencendo as objeções da poderosa comunidade militar, Bashar conseguiu, em 1998, convencer o pai a conectar o país à rede mundial de computadores.

Ele também tomou medidas para reativar a economia. "Quarenta anos de socialismo - isso é o que temos de superar", comenta Abdallah Dardari, de 46 anos, economista formado em Londres e vice-primeiro-ministro para assuntos econômicos. Bashar recrutou no exterior os melhores e mais brilhantes expatriados. Essa nova equipe privatizou o sistema bancário, formou parques industriais isentos de impostos e criou em Damasco uma bolsa de valores de modo a estimular os investimentos internos e externos.

"Minha missão é melhorar a vida dos sírios", comenta Bashar. Nesse ímpeto modernizador, o maior aliado é sua mulher, Asma al-Akhras. Elegante, formada em administração no Ocidente, ela encarregou-se de vários programas voltados para a melhoria das condições educacionais e econômicas da população. Filha de um proeminente cardiologista sírio, Asma nasceu e foi criada em Londres. Ela e Bashar têm três filhos, com os quais costumam fazer piqueniques nas colinas em torno da capital - em acentuado contraste com Hafez al Assad, que raramente era visto em público. "Só dá para saber do que as pessoas precisam tendo contato com elas, diz Bashar. Nós nos recusamos a viver em uma bolha. Acho que é por isso que o povo confia em nós."

Por 4 mil anos, a cidade de Aleppo, no norte da Síria, é passagem de rotas comerciais do Crescente Fértil, ligando a Mesopotâmia ao Mediterrâneo. Guardada por uma cidadela no topo de um morro, os 365 hectares do centro antigo de Aleppo estão intactos desde a Idade Média. Hoje, quando adentramos seu suq coberto, o maior mercado público do mundo árabe, é como se transpuséssemos um portal de pedra para o século 15 - uma mistura medieval de merceeiros, mercadores de ouro, carroças, artesãos, mendigos, pregoeiros de todo tipo movendo-se em um imenso desfile colorido e barulhento de sinetas de cabra e pés calçados com sandálias. Se as autoridades municipais tivessem conseguido o que queriam, isso seria coisa do passado.

Na década de 1950, os urbanistas de Aleppo projetaram a modernização da cidade, que previa a passagem pelo centro antigo de amplas ruas de estilo ocidental. Em 1977, porém, os moradores, liderados pelo arquiteto Adli Qudsi, que também vivia na área, se organizaram contra e convenceram as autoridades a alterá-lo. Hoje o centro antigo está preservado. Antes uma relíquia em ruínas, a velha Aleppo é citada por Bashar como um exemplo da mentalidade que promove, um modelo de como é possível reaproveitar o passado da Síria para que possa apontar o futuro.

"Levando em conta que há milênios a Síria é uma nação mercantil, o que procuramos fazer é recuperar as raízes empresariais do país", comenta Abdallah Dardari. "Mas não vai ser fácil: um quarto da força de trabalho ainda vive de salários pagos pelo governo. Herdamos uma economia baseada em privilégios e recursos oficiais."

Ao permitir investimentos privados em setores estatais, Bashar espera modernizar suas operações e administrá-las com mais eficiência. Nesse processo, muita gente já ficou desempregada e houve uma escalada dos preços. Todavia, são tantos trabalhadores que dependem dos salários públicos no setor de algodão que ele continua quase todo sob a tutela do Estado.

A Síria herdada por Bashar exibe sinais tão antiquados que seria melhor começar do zero. Criado pelo Partido Baath nos anos 1960, o sistema de estatais e empregos públicos melhorou o padrão de vida e levou educação e assistência médica às áreas rurais, mas lembra o falido socialismo do Leste Europeu. E a burocracia síria é ainda mais antiga, com base na administração do Império Otomano e no domínio francês.
A reforma educacional está nos planos de Bashar, e é urgente. As crianças aprendem memorizando manuais velhos, e são avaliadas, mesmo em nível universitário, pela quantidade de fatos que sabem de cor. "Minha filha de 11 anos está muito confusa", conta Dardari. "Em casa ela ouve falar nos mercados e como funciona o mundo, e aí, quando vai à escola, lê manuais de 1970 que pregam o marxismo e o triunfo proletário."

Quando um filho assume o negócio familiar, às vezes é difícil mudar o modo como as coisas sempre foram feitas. E, mesmo que o filho mais velho, Basil, fosse mais afinado com o pai, Bashar acabou seguindo os passos de Hafez. Quando estava há um ano na Presidência, aviões foram lançados contra o World Trade Center, em Nova York, e, de repente, parecia cada vez maior a ameaça aos regimes laicos, como a Síria, por parte da Al Qaeda e da Irmandade Muçulmana. A invasão americana no Iraque inflamou os fundamentalistas sírios, ao mesmo tempo que o país recebeu 1,4 milhão de refugiados iraquianos. Alguns acreditam que Bashar, em tática similar a de seu pai, desviou a fúria contra seu governo de modo que se voltasse contra os americanos, permitindo que os jihadistas usassem a Síria como área de reagrupamento e passagem.

Mesmo antes do 11 de Setembro, Bashar começou a recuar nas reformas políticas e na liberdade de expressão. Sua iniciativa anticorrupção estagnou, solapada por negócios escusos de membros da própria família. Investigações sobre o assassinato em Beirute do ex-primeiro-ministro libanês Rafiq Hariri, em 2005, apontaram para uma conexão síria. Pouco depois Bashar ordenou a detenção de prisioneiros políticos a quem colocara em liberdade anos antes. E, em 2008, em uma reviravolta irônica para um entusiasta da informática que levou a internet à Síria, Bashar bloqueou o acesso a uma enorme quantidade de sites. Em tudo isso, alguns veem Bashar como vítima de elementos reacionários de seu governo. Outros, no entanto, o consideram mais como um jovem chefão exercitando seus músculos.

O mesmo Bashar responsabiliza a invasão do Iraque por ter empurrado toda a região para uma situação difícil e perigosa, e defende as duras medidas de segurança interna como vitais na luta pela sobrevivência. "Estamos em estado de guerra com Israel", diz. "Temos problemas com a Irmandade Muçulmana desde 1950. Mas agora há um perigo bem maior. A Al Qaeda é um estado de espírito. É muito difícil de ser detectada. Precisamos reforçar a segurança interna."

Os membros da oposição, quase todos na clandestinidade ou na prisão, não se convencem com tal argumentação, brandida há 30 anos para sufocar qualquer discordância. Embora reconheçam que a repressão não é tão violenta quanto a anterior, os ativistas com quem conversei consideram superficiais as diferenças entre o regime de Bashar e o de seu pai. "Bashar parece razoável, mas o governo é mais que uma pessoa", comenta um jovem militante de direitos humanos com quem me encontro em um apartamento abarrotado de livros na periferia da capital. "Viver aqui é viver com medo", prossegue o rapaz de olheiras marcadas fumando um cigarro. "Você tem a impressão de estar sendo observado. Aí olha em torno e não vê ninguém. Então pensa: 'Eu não deveria sentir isso, mas estou. Devo estar enlouquecendo'. E é isso o que eles querem."

Seja qual for o propósito, a sombra do medo, a nuvem que bloqueia o sol, está por toda parte. A fim de proteger as pessoas com quem conversei, muitas não foram identificadas, pois eu temia pela prisão delas uma vez publicado este artigo. Um professor universitário que conheci em Aleppo foi submetido a um interrogatório brutal após ter participado de um colóquio em que estiveram cientistas israelenses. Os interrogadores o deixaram partir com a ameaça de que, se divulgasse o ocorrido, seu caso seria reaberto.

Certa manhã, em Damasco, estou em um parque com um grupo de trabalhadores ocasionais, com idades em torno dos 20 anos, todos à procura de serviço. A maioria é da região de Dara, no sul do país, e debatemos os prós e os contras daquela cidade. Para eles, é um lugar horrível, seco e sujo. Eu a defendo. Enquanto discutimos em tom de brincadeira, um homem de meia-idade se aproxima e nos ouve. Quando notam a presença dele, a conversa acaba.

"Dara é uma grande cidade", diz o recém-chegado. Os outros começam a se afastar. Para ver qual seria a reação dele, conto que tenho uma entrevista com o presidente e pergunto se gostaria que eu lhe transmitisse alguma mensagem. Ele rabisca algo em um bloco, e imagino que seja sobre mim. Mas o homem diz: "Por favor, entregue isto ao presidente". No papel está rabiscado seu nome e telefone e uma mensagem em árabe precário: "Saudações, respeitável Dr. Presidente Bashar. Este bilhete é de um jovem sírio, de Al Hasakah, que precisa muito de um emprego no funcionalismo público. Muito obrigado".

As mulheres afegãs sofrem sob as leis do tribalismo, da pobreza e da guerra. Mas agora começam a lutar por uma vida decente.



Há 25 anos, uma garota afegã de olhos verdes causou espanto na capa de National Geographic. Uma jovem refugiada tentando escapar da guerra entre os comunistas, apoiados pela hoje extinta União Soviética, e os mujahedins, guerrilheiros islâmicos sustentados pelos Estados Unidos, ela tornou-se a imagem do desespero em seu país. O atual ícone do Afeganistão é de novo uma jovem, Bibi Aisha, cujo marido cortou-lhe o nariz e as orelhas como castigo por ter fugido dele e de sua família. Bibi fizera isso para escapar dos espancamentos e de outros abusos a que era submetida.

Por que maridos, pais, cunhados e até sogras brutalizam as mulheres de suas famílias? Seriam esses atos violentos consequência de uma sociedade tradicional que se vê arrastada para o século 21 depois de anos de isolamento e guerras? E quais membros dessa sociedade estão cometendo tais violências? Há diferenças significativas entre azaras, tadjiques, uzbeques e os pashtuns, o grupo mais populoso e conservador, dominante na vida política do Afeganistão desde os anos 1880.

Na área chamada "crescente pashtum", desde a província de Farah, no oeste, até Kunar, no noroeste, a vida era, e em muitos sentidos ainda é, organizada em torno do código pashtunwali, "à maneira dos pashtuns". Seu fundamento é a honra masculina, avaliada segundo três tipos de posse: zar (ouro), zamin (terra) e zan (mulheres). Os princípios nos quais se edifica uma vida honorável são melmastia (hospitalidade), nanawati (abrigo ou asilo) e badal (justiça ou vingança).

Quanto maior a hospitalidade de um homem, maior será sua honra. Se um estranho ou mesmo inimigo aparece em sua porta pedindo proteção, sua honra depende de acolhê-lo. Se qualquer dano for infligido à terra, às mulheres ou ao ouro de um homem, ele deverá buscar vingança. Um homem sem honra é um homem sem substância, sem bens, sem dignidade. Todavia, não é aceitável para uma mulher ser hospitaleira ou se vingar. Elas raramente são agentes ativos. Pelo contrário, são bens comercializáveis e objetos de disputa - até não aguentarem mais.

Em um abrigo para mulheres que escaparam de abuso doméstico, em Cabul, ouvi falar de uma garota proveniente de uma das mais ricas famílias pashtuns de uma província na fronteira com o Paquistão. Ela apaixonou-se por um rapaz da tribo errada. Seu pai matou o rapaz e quatro de seus irmãos e, ao descobrir que a própria mãe ajudara a filha a fugir da ira paterna, matou a mulher também. Agora está oferecendo 100 000 dólares de recompensa pelo cadáver da filha.

São atos extremos praticados por homens extremados. Muitos indivíduos da etnia pashtun percebem que sua masculinidade e o próprio estilo de vida se acham sob ataque - de forças militares externas, de líderes religiosos estrangeiros, de organizações de direitos humanos -, e se agarram a tradições que por tanto tempo definiram o que é ser homem entre os pashtuns.

Um dia, em uma livraria de Cabul, achei uma coleção de landays - "curtinhos" -, os poemas de dois versos que os pashtuns recitam uns para os outros em seu ponto de encontro em torno do poço da aldeia ou nas festas de casamento. O conteúdo do livro, publicado sob o título original de Suicídio e Canção, foi compilado por Sayd Bahodine Majrouh, famoso poeta afegão assassinado em seu exílio no Paquistão, em 1988. Ele começou coletando landays femininos em sua terra natal, no vale do rio Kunar. Humanista que era, Majrouh achava gloriosos esses clamores vindos do coração que desafiavam as convenções e, de várias formas, zombavam da honra masculina. Do berço à cova, a vergonha e a tristeza são o fardo da mulher pashtun. Ela não é merecedora de amor, eis o que lhe ensinam. Por essa razão, escreve Majrouh, os landays são um "grito de separação" da ideia de amor e uma revelação das misérias de um casamento servil.

Um marido pashtum, não raro, ou é uma criança ou um velho, imposto pelos laços tribais:
Você aí de barba branca não tem vergonha, não?/Enquanto você acaricia meus cabelos, dou minhas risadas em silêncio.
Uma mulher zomba da virilidade do marido:
Hoje, durante o combate, meu amante deu as costas ao inimigo./Tenho vergonha de tê-lo beijado ontem à noite.
Ou verbaliza seu desejo frustrado:
Vem, meu amado, vem para perto de mim. O "pavoroso" dorme, pode me beijar agora.
O "pavoroso" é o homem com quem a mulher foi forçada a casar-se, um tolo traído. Somente longe de suas vistas é que ela encontrará o amor verdadeiro. Na percepção de Majrouh, as mulheres pashtuns, apesar de toda a submissão, sempre viveram em estado de ânsia por rebelião e pelos prazeres da vida terrena. Ele deu a seu livro o título de Suicídio e Canção porque são essas as duas formas que elas têm de expressar sua angústia. Na época do poeta, os métodos de suicídio eram envenenamento e afogamento. Agora são envenenamento e autoimolação pelo fogo.

O Parlamento afegão propôs recentemente um projeto de lei visando eliminar a violência contra as mulheres. Elas, por sua vez, começam a rejeitar as velhas práticas. Visitei, em Cabul, o lar de Sahera Sharif, pashtun e a primeira parlamentar feminina de Khost. "Ninguém sabia que uma mulher podia afixar pôsteres de campanha política nos muros. Os homens nem permitiam que as mulheres tivessem um emprego lá", diz ela.

Em criança, Sahera enfrentou o pai, um mulá conservador, trancando-se em um armário até ele permitir que ela fosse à escola. Sahera atravessou a guerra civil em meio a grupos rivais de mujahedins que arrasaram Cabul antes da vitória do Talibã, em 1996. Testemunhou atrocidades inimagináveis. "Boa parte da violência e crueldade que se vê agora", conta, "tem origem no fato de que as pessoas ficaram loucas com tantas guerras."

Depois da queda do Talibã, em dezembro de 2001, Sahera Sharif abriu uma estação de rádio para educar as mulheres sobre higiene e noções de saúde. Em uma atitude ainda mais radical, ela apresentou-se como voluntária para dar aulas na universidade em Khost, tornando-se a primeira mulher a fazer isso. Sahera aposentou a burca - outro pioneirismo - e postou-se diante dos alunos homens para lhes ensinar psicologia. Eles ficaram corados. E assim ela começou a educá-los.

Enquanto conversamos, vejo o quanto Sahera se tornou uma inspiração para sua filha de 15 anos, Shkola, que veio interromper a mãe para me mostrar uma foto em uma revista. Uma mulher jazia com a garganta cortada por membros da família de seu marido. A mãe da vítima, ensandecida de dor, suplicara à revista que publicasse a foto. "Fiquei chocada com esta imagem", diz Shkola. "Eu a via e revia, como um filme."

Shkola estuda história islâmica e direito. Ela quer se tornar advogada para ajudar as mulheres a se defenderem. Enquanto isso, Shkola pesquisa livros iranianos atrás de histórias para crianças, "como as que vocês têm", confidencia-me ela. "Vou traduzindo as que encontro para o pashtun. Também estou escrevendo um romance."

Em vários cantos do país - em Khost e Kandahar, em Herat e Cabul - encontrei garotas como Shkola. Elas não estão escrevendo os velhos landays, mas sim poemas e romances, além de rodar documentários e filmes de ficção. São essas as novas histórias que as mulheres estão contando sobre sua vida no Afeganistão.

Os difíceis anos da guerra civil no Sudão do Sul



Certo dia, anos atrás, antes de a última guerra civil ter começado de verdade, um menino sudanês chamado Logocho espiou para dentro da cabana de sua família. Então seu pai o agarrou, e segurou-o com força no chão de terra.

Menino estranho, esse Logocho. Sobre ele, os ombros e o peito do pai ondulavam com cicatrizes tribais. Uma espécie de código Morse com pontos e traços adornava o rosto e a testa do pai, anunciando aos eventuais ladrões de gado - os dinka, os nuer - que ele, um murle, defenderá seu rebanho com a lança, os punhos e os dentes.

Mas o filho dele, Logocho, não demonstrava muito interesse pelos velhos costumes. Quando outras crianças, entre as quais o irmão, se submeteram a um dos primeiros ritos de passagem murle, ele escapuliu e foi se esconder no mato. Agora o seu corpo, macio como o de um bezerro, tremia e se agitava na poeira. Sem nenhuma marca que o distinguia como um murle.

O garoto de 9 anos também não tinha apreço pelo gado. Como o irmão, Logocho se agachava para sugar as tetas das vacas, mas o fazia apenas pelo leite. Durante incontáveis gerações, os homens murle - assim como seus rivais em toda a região meridional do Sudão - haviam vivido ao lado de suas vacas. Davam-lhes nomes, colocavam-lhes adornos, dormiam ao lado delas. Faziam canções sobre elas. Os homens usavam o gado como dotes para conseguir noivas.

"O que você quer da vida, menino?", perguntou o pai de Logocho. "O quê?"

Enquanto os homens e os animais migravam de uma cacimba a outra, Logocho preferia ficar com a avó. A mulher idosa riscava linhas na terra dura e ingrata para cultivar sorgo, feijão, milho, até abóbora, e em tempos de penúria os homens iam procurá-la com as mãos estendidas. Logocho a ajudava a semear, cuidar dos brotos e fazer a colheita. Ela sempre o protegia de seu temido pai. "Você é especial", dizia a velha.

Naquele momento, porém, ela não podia salvá-lo. O menino continuava preso de costas no chão. Então, outro homem ajoelhou-se, debruçou-se sobre o rosto de Logocho e agarrou uma fina lima de metal. Ele abriu com força o maxilar do menino e introduziu a lâmina entre os dois dentes inferiores da frente. Empurrou-a até a gengiva e aí, com uma torção do ombro, girou a lima. Crack! Um dos incisivos se rompeu, inundando de sangue a boca de Logocho. Em seguida, o especialista reposicionou a lâmina e - crack! - esfacelou o outro dente incisivo.

Agora sim Logocho parecia um murle.

Poucos meses depois, o caos desabaria tanto sobre Logocho como sobre a sua terra natal. Um bruxo da aldeia disse que algo terrível iria ocorrer com a sua família. E em toda a região uma fúria acumulada por gerações iria eclodir em 1983, desencadeando um conflito horrendo e invisível para o resto do mundo. Durante as duas décadas seguintes, mais de 4 milhões de pessoas seriam forçadas a abandonar suas aldeias e buscar refúgio no mato, nas cidades do norte e nos países vizinhos. Outros 2 milhões iriam perecer.
A vida de Logocho - fugindo, se escondendo, combatendo, buscando um sentido - iria refletir o que se passava em todo o sul do Sudão.

A causa das tensões no Sudão é de natureza tão geográfica que poderia ser notada até mesmo por um observador na Lua. A ampla faixa cor de marfim do Saara no norte da África contrapõe-se à savana e à selva verdejante no minguante centro do continente. As populações em geral se distribuem de um lado ou de outro desse divisor vegetal. E dependendo do lado, ao norte ou ao sul, define-se a cultura - religião, música, indumentária, língua - das pessoas que lá vivem.

No Sudão, o contato entre árabes e negros sempre foi problemático. Já no século 7, os conquistadores muçulmanos descobriram que muitos dos moradores da terra então conhecida como Núbia eram cristãos. O confronto entre ambos consolidou-se em um impasse que durou mais de um milênio, até que o governador otomano no Cairo invadiu a região, explorando o território ao sul do Egito como uma fonte de marfim e escravos. Em 1820, 30 mil pessoas foram transformadas em cativos pelos otomanos, que as denominavam sudan (negros, em árabe).

A aversão global à escravidão acabou com o negócio dos traficantes. Os otomanos se retiraram na década de 1880 e, em 1899, após um breve período de independência, os britânicos assumiram o país, governando suas duas metades como regiões distintas. Como não podiam controlar militarmente todo o território - dez vezes maior que o do Reino Unido -, os ingleses se instalaram em Cartum e conferiram poderes limitados aos chefes tribais nas províncias. Ao mesmo tempo, estimularam a adoção do islamismo e da língua árabe no norte, e do cristianismo e da língua inglesa no sul. Mas concentraram seus esforços no norte, deixando o sul à própria sorte. A questão que se coloca é: por que essa insistência em um Sudão unificado?

Um dos motivos, mais uma vez, é geográfico. Como o Nilo segue para o norte rumo ao Egito, ele acaba vinculando diferentes culturas em suas margens, de maneira intermitente e, por vezes, rancorosa. O rio influencia o comércio, o ambiente e a política, entrelaçando os interesses de ambas as regiões. Enquanto estavam no país, os britânicos precisavam manter o controle do canal de Suez na foz do Nilo, pois era a via de acesso dos britânicos à Índia, a "joia da coroa". E isso implicava manter o controle sobre todo o rio.

Quando os britânicos se retiraram em meados da década de 1950, não admira que a região fosse engolfada pela guerra civil. Os rebeldes sulistas combateram as tropas do governo central durante os anos 1960, e 500 mil pessoas perderam a vida antes que os dois lados interrompessem as hostilidades em 1972. O cessar-fogo serviu apenas para que os beligerantes se recompusessem para um conflito ainda mais sanguinolento.

No intervalo entre as duas guerras civis, o governo em Cartum associou-se ao Egito para a realização de um projeto de grande escala no sul. Na imensa planície onde o Nilo atravessa o Sudão do Sul, ele forma o Sudd, uma das maiores áreas de terras úmidas em toda a África. E onde as cheias anuais do rio renovavam as pastagens era o local em que desde sempre as tribos meridionais criavam seu gado. O projeto dos dois governos era abrir um canal de 360 quilômetros que desviaria do Sudd as águas do Nilo, a fim de que seguissem para o norte até o árido Egito. À região, foi assim levado um equipamento de escavação enorme, tão grande quanto um prédio de oito andares, que começou a rasgar os pastos sob o olhar impotente das tribos locais.
Com a eclosão da segunda guerra civil, em 1983, surgiu um grupo rebelde intitulado Exército de Libertação do Povo do Sudão (SPLA, na sigla em inglês), que, em um de seus primeiros atos espetaculares, lançou um ataque contra a sede da construtora do canal Jonglei, interrompendo o projeto. Anos de carnificina se seguiram e somente seriam encerrados em 2005, quando esforços diplomáticos nos bastidores levaram à assinatura do chamado Acordo de Paz Global. Esse pacto assegurou ao sul do Sudão uma autonomia relativa, com Constituição (baseada na distinção entre religião e Estado), Exército e moeda próprios. Em janeiro deste ano, a história sudanesa deu um passo determinante: a população sulista aprovou em referendo a decisão de separar-se do norte e formar uma nação livre, por hora chamada de Sudão do Sul.

As lideranças políticas de ambos os lados estão emitindo sinais de que pretendem respeitar o resultado, temerosos de uma intervenção internacional. Ao mesmo tempo, continuam o antagonismo e a troca de acusações. Essa duplicidade torna-se evidente quando meia dúzia de homens vestidos de terno me abordam no aeroporto de Juba, a capital da região sul. Eles me enfiam em um caminhão com soldados e me levam a um quartel. Ali se apoderam de meu celular e minha câmera, e me impedem de tomar água ou ir ao banheiro durante o dia e meio em que sou interrogado. Também se negam a avisar o consulado americano. Depois fico sabendo que eram agentes do serviço de inteligência do sul do Sudão.

O episódio me deixa perplexo, porque esse tipo de comportamento destoa da cordialidade com que os sudaneses sulistas acolhem os ocidentais. Quando me libertam, um oficial explica: o serviço de inteligência achou que eu era um espião. Mais tarde descobri que um motorista que tentara me extorquir acabou me delatando como um espião, mas o incidente mostra quão arraigada é a desconfiança entre nortistas e sulistas.

A questão é: por que o norte não aceita a separação do sul? De novo, o motivo é geográfico: petróleo. A maior parte das reservas fica no futuro Sudão do Sul, mas o governo central controla as refinarias, assim como a distribuição das receitas.

De certo modo, Logocho decepcionou o pai quando ainda estava no ventre de sua mãe. Anos atrás, a mãe tivera gêmeos, mas um deles havia morrido antes do nascimento de Logocho. Portanto, de acordo com as tradições murle, o recém-chegado tomou o lugar do irmão falecido, ao lado do gêmeo sobrevivente. E este era mais forte e mais ágil. E amava as vacas. E acompanhava o pai em suas jornadas durante a estação seca, em vez de ficar na aldeia com as mulheres.

Quando Logocho estava com 9 anos, o pai o chamou. Ameaçou deserdá-lo de seu direito de nascença - o rebanho de vacas. Com isso, Logocho não teria um dote. Uma irmã morreu de malária. Outra, de disenteria. Uma epidemia dizimou o rebanho - a catástrofe prevista pelo bruxo, lembraram os vizinhos. E aí o pai morreu. Sem rebanho e sem marido, a mãe de Logocho mergulhou no desespero. Como iria dar de comer aos filhos? Ela então arranjou para que Logocho fosse morar com um tio, que vivia a quilômetros de distância e ficou intrigado com aquela criança estranha que lhe coubera cuidar. O tio se enfurecia, e Logocho morria de medo dele.

Então aconteceu algo extraordinário. A segunda guerra civil havia começado, e o SPLA conseguira interromper as atividades da grande escavadeira do canal. Certo dia, um combatente do SPLA apareceu na aldeia de Logocho pedindo comida, e o menino lhe deu carne. Outros soldados já haviam passado por ali, e Logocho notara medo na voz do tio quando este deu um boi para que eles matassem a fome. O poder que emanava do soldado - da identidade no uniforme, do propósito explícito em sua arma - ficou gravado a fogo no espírito de Logocho, que teve uma ideia.
Um dia, quando o tio levou Logocho, então com 12 anos, para ajudá-lo a cuidar dos animais, ele e cinco amigos se desgarraram do grupo com a desculpa de que tinham avistado um búfalo morto e iam esfolá-lo. Fugiram todos pelo mato e continuaram até se juntarem a um grupo de quatro soldados que estavam caçando. Duas semanas depois chegaram a um acampamento do SPLA perto de Boma. Um punhado de rebeldes adultos vivia no acampamento, todos esfomeados e aguardando ordens superiores. Durante um mês o grupo sobreviveu da caça, até que chegaram as instruções do comando do SPLA: todos deveriam ir para a Etiópia. A pé.

Nessa mesma época, em meados de 1986, o americano Roger Winter voou até a Etiópia para se encontrar com John Garang, o carismático líder do SPLA. Com 40 e poucos anos, Winter havia passado a vida lidando com gente em condições terríveis. Dirigia uma organização não governamental que atuava em países em via de desintegração, como Ruanda, Etiópia e Sudão.

Winter apreciava Garang, um homem complexo, com um sorriso luminoso e um doutorado pela Universidade Estadual de Iowa, onde estudara economia. Garang era versado tanto em Marx como na Bíblia. Suas tropas incluíam crianças, mas havia elaborado uma concepção de um "Sudão Novo" unificado, com as regiões norte e sul convivendo em paz. E agora ele queria saber: os Estados Unidos iriam ajudar o povo sulista do Sudão? Winter se considerava militante dos direitos humanos com a missão de anunciar ao mundo a catástrofe que se desenhava. (Mais tarde, ele alertou sobre o genocídio iminente em Ruanda.) O que viu no Sudão o deixou chocado.

Enquanto isso, no acampamento da SPLA, Logocho e os outros recrutas formaram uma fila e partiram rumo à Etiópia. Os meninos dependiam naquele momento dos soldados para obter alimento e água. Outros se juntaram ao grupo pelo caminho, e logo as fileiras incluíam mais de uma centena de jovens. No início da marcha, quando a fome apertou, o grupo matou quatro hipopótamos. Várias refeições da carne deram um nó no intestino de Logocho. Foi um suplício que se prolongou por horas intermináveis, torcendo-lhe o ventre e fazendo o seu corpo perder muita água. Ele se lembrou da irmã que morrera de disenteria. Prostrado no chão, sob o sol escaldante, ele apenas pensava: vou morrer aqui.

Foi então que um jovem chamado Jowang, parente dele, o viu e foi buscar água. Depois de matar a sede, Logocho conseguiu se levantar e voltou a caminhar, agarrando-se à expectativa do futuro incerto que o esperava na Etiópia.

No fim de outro dia, um dos soldados avisou a coluna: estavam prestes a cruzar um grande trecho de floresta aonde não haveria água. Só iriam voltar a beber do outro lado, e por isso teriam de caminhar à noite, com a temperatura mais amena. Eles se embrenharam no mato quando começou a escurecer. Quando rompeu o dia, estavam saindo da floresta, exaustos com a caminhada e a ameaça dos elefantes. Por fim mataram a sede em um rio refestelado de crocodilos.

"Você é muito pequeno e precisa ficar mais tempo aqui", disseram os soldados quando Logocho chegou à Etiópia, exaurido pela marcha de 12 dias. Havia gente de todo o sul do Sudão nesse acampamento perto de Gambela. Era um campo de refugiados, mas o SPLA o usava como uma espécie de reserva de recrutas, separando meninos e homens de acordo com a idade e a força.
Mais tarde, ao visitar esses campos de refugiados na Etiópia, Roger Winter ficou de coração partido. Os meninos tinham pernas finas como palitos, alguns com dentes projetados em rostos chupados, outros com olhos esbugalhados, todos cegos de fome e doenças. Muitos estavam malnutridos porque o governo central de Cartum havia aprendido a usar a comida como arma. No princípio, os moradores das aldeias em toda a região sul se juntavam em áreas abertas quando ouviam os aviões se aproximando, pois estes sempre arremessavam fardos com alimentos. Logo em seguida, porém, os aviões do governo passaram a lançar bombas em vez de comida, com um efeito duplo e devastador: bastavam poucas bombas para dizimar uma multidão, e as pessoas passaram a temer os alimentos vindos do céu. Acabavam morrendo de fome em suas choças.

Uma política igualmente desumana na região de Darfur levaria o Tribunal Penal Internacional de Haia, a expedir em março de 2009 uma ordem de prisão do presidente do Sudão, Omar al-Bashir, por crimes contra a humanidade. Em julho de 2010, outra ordem de prisão foi emitida, após ele ter sido acusado de genocídio.

A vontade de Logocho era se juntar às unidades de combate, mas nem sequer conseguia segurar um fuzil AK-47 por tempo suficiente para mirar um alvo. Assim, durante seis meses, no campo de treinamento de Bonga, foi desenvolvendo outras habilidades táticas, desde se arrastar pelo chão sob fogo inimigo até não revelar nada importante caso fosse interrogado. Quando o próprio John Garang apareceu por lá, fez um discurso emocionante diante dos recrutas, distribuiu uniformes e os dividiu em dois grupos. Os rapazes e os adultos estavam prontos para a luta, ao passo que Logocho e outros meninos menores iriam frequentar a escola no campo de Dima e ficar de prontidão para uma convocação.

Ao completar 15 anos, Logocho afinal reuniu condições para usar um fuzil. Ao longo dos anos seguintes, combateu nas forças rebeldes e não se furtou a disparar sua arma, mas jamais conseguiu alvejar outro ser humano. Quando os seus companheiros topavam com árabes feridos após uma escaramuça, não hesitavam nem se incomodavam em matá-los. Para Logocho, porém, isso era impossível. A guerra não lhe era familiar.

As tropas do governo central contavam com equipamentos e armas muito superiores, e usavam aviões a jato para bombardear os tanques de combustível e os soldados sulistas. Por isso, o SPLA foi obrigado a adotar táticas de guerrilha no mato. Toda vez que o destacamento de Logocho avançava por um território novo, cada soldado cavava uma trincheira rasa individual. Os imensos aviões Antonov, de fabricação soviética, chegavam com um zumbido característico, e depois vinha o assobio das bombas que caíam. Em mais de uma vez, Logocho enterrou o rosto no chão, arfando na terra revolvida, enquanto seus amigos agonizavam ao lado.

Um desses amigos havia lhe mostrado uma Bíblia. Uma das histórias que leu parecia apropriada à situação. "Pobre", dizia Isaías da terra hoje conhecida como Sudão. "Pobre da terra dos grilos alados, que fica além dos rios da Etiópia".

Roger Winter tinha consciência de que cruzara um limiar. É verdade, outros militantes dos direitos humanos haviam ido ainda mais longe - um ex-padre irlandês se engajara por inteiro na luta, chegando a fornecer armas para os rebeldes -, mas o fato é que os líderes do Sudão do Sul passaram a contar cada vez mais com a orientação e a inspiração de Winter. Em 1994, os responsáveis pela ala política do SPLA, o Movimento pela Libertação do Povo do Sudão (SPLM, na sigla em inglês), realizaram sua primeira convenção nacional, no meio da selva perto da fronteira com Uganda. As autoridades em Cartum ficaram sabendo do encontro e mobilizaram a aviação par Desde muito os líderes sulistas haviam abandonado os vilarejos e as estradas - alvos fáceis - e se enfurnado na floresta. Homens como Garang e seu lugar-tenente, Salva Kiir, tinham crescido em acampamentos de pastores e sentiam-se à vontade em áreas rurais remotas. Vindas de todo o Sudão, mais de 500 pessoas participavam da convenção, e os soldados do SPLA circulavam por entre a relva alta em torno do local, apagando os sinais da passagem humana de modo a impedir sua localização pelos bombardeiros. Os organizadores do encontro entalharam degraus nas encostas, e ali as pessoas podiam se acomodar em um anfiteatro camuflado pela natureza e ouvir o que Winter tinha a dizer sobre a democracia. Depois dessa primeira e acidentada convenção política, o SPLM formou um governo próprio, tendo à frente Garang.

Em janeiro de 2010 me encontrei com Salva Kiir, que se tornou presidente da região sul após a morte de Garang, em 2005, em um acidente de helicóptero. Ele ainda parecia pouco confortável no gabinete presidencial, rodeado pelo resplendor do poder usual na África central. Usava um chapéu preto de caubói, que ganhara do presidente George W. Bush, e se esparramava desajeitado em um sofá pomposo como se este fosse pequeno demais. Em sentido figurado, também parecia pouco à vontade em seu cargo político. Jamais imaginara ter de assumir a Presidência, contou, e seus planos para o Sudão do Sul supunham a transferência do cargo para outra pessoa. "Uma transmissão pacífica do poder", comentou, "pois isso é o fundamento de uma boa democracia." Ele se mostrou bem mais animado quando lhe perguntei de sua infância entre as vacas, dormindo ao lado delas e mamando em suas tetas. "Isso é que era bom", disse, abrindo um sorriso. E ainda tem seus rebanhos? "Um homem nunca diz quantos filhos ou vacas tem", respondeu. "Às vezes ele diz que tem só um. Mas isso pode significar dez ou 100 ou mil." Bem, então, quantas tem? Ele riu. "Uma."

Nos anos seguintes à convenção na selva, Winter não deixou de lado sua preocupação, empenhando-se em explicar o Sudão aos americanos e os Estados Unidos aos sudaneses. Na manhã de 11 de setembro de 2001, ele estava participando de uma reunião em Washington, DC, sobre um possível cessar-fogo nos montes Nuba. Durante o encontro chegou a notícia do atentado terrorista em Nova York, e ordens para que os edifícios federais fossem evacuados. "Nem morto saio daqui", lembra-se Winter de ter pensado. "Estamos tão próximos de uma solução!" Ele havia planejado seguir dali para a embaixada do Sudão, mas, como era impossível chegar lá por causa do congestionamento na cidade, acabou passando o dia em negociações pelo telefone.

Nos primórdios da guerra civil, os únicos americanos que olhavam de perto os acontecimentos no Sudão eram missionários cristãos. Para eles, o conflito era de natureza religiosa - entre agressores islâmicos e vítimas não muçulmanas. O terror do 11 de Setembro só reforçou tal opinião. Por outro lado, Winter tinha plena consciência de que a guerra civil sudanesa não era simplesmente um confronto religioso - em muitas de suas partes, o Sudão do Sul é um mosaico de tribos animistas que nada conhecem do cristianismo. Ele sabia que a lealdade étnica contava muito mais que a filiação religiosa. Sabia o que estava em jogo no plano econômico, o quanto o governo central sufocara o desenvolvimento do sul.

Nas regiões em que árabes e negros haviam, ao longo da história, disputado terras de pastagem, agora eles lutavam pelo petróleo - reservas de até 3 bilhões de barris em uma zona fronteiriça reivindicada por nortistas e sulistas, há tempos uma área de confronto entre tribos e clãs. Era um conflito complexo, mas Winter jamais desconsiderou a força positiva da religião. Afinal, havia constatado isso em primeira mão já em 2002.

Em um vilarejo sulista chamado Itti, junto à divisa com a Etiópia, ele conhecera uma igreja presbiteriana onde todos os domingos mais de 300 pessoas se reuniam sob um telhado de palha e tocavam tambores de pele de animais. Num domingo, o jovem pastor, um homem chamado Simon, dirigiu-se aos fiéis e falou sobre a "paz de Deus, que excede toda a compreensão", citando o apóstolo Paulo. Paz até mesmo com os árabes. Eis a sabedoria em pessoa, pensou Winter.

Depois do culto, ele perguntou a um grupo de presbíteros o que poderia fazer para ajudar a congregação. Os líderes podiam pedir qualquer coisa. Um prédio para os cultos. Instrumentos musicais. Remédios. Dinheiro. "Nosso pastor é um homem inteligente", disseram afinal. "Mas nunca teve ocasião de se formar adequadamente como pastor. Você poderia ajudá-lo?"a bombardear o local.
Winter ficou estupefato. Essa gente mal tem o que comer, e escolhe mandar alguém para a escola? Nos anos seguintes ele pagou do próprio bolso para que Simon pudesse frequentar a escola de teologia em Kampala, Uganda, confiando na palavra do jovem de que voltaria para a relativa desolação da minúscula Itti.

Lendo a Bíblia do amigo em um alojamento do SPLA certa noite de 1991, Logocho teve um estalo. É isso, pensou. Aí está o meu caminho. Decidiu então se tornar pastor. Pouco depois, um ministro protestante o batizou e lhe perguntou se gostaria de adotar um novo nome, uma nova identidade. "Quero sim", disse Logocho. "Simon."

Então, de nome novo, devolveu o fuzil, abandonou o SPLA e passou a frequentar uma escola para refugiados no Quênia, onde aperfeiçoou seus conhecimentos de inglês. Em seguida, foi para uma escola bíblica e depois aceitou um posto em uma remota igreja em Itti, que um domingo seria visitada por um americano calvo chamado Roger, que se sentou no chão de terra da igreja ao lado dos outros fiéis. E o jovem pastor fez um sermão singelo que tocou o coração de um dos principais arquitetos daquela que se tornaria a mais nova democracia africana.

Os anos dedicados por Winter a entendimentos diplomáticos culminaram no acordo de paz de 2005. A carnificina da história sudanesa torna difícil assegurar que o tratado será mantido até a criação oficial, no dia 9 de julho, do mais novo país africano. No entanto, Winter - ao lado de negociadores de Quênia, Grã-Bretanha e outros países - já conseguiu algo que há pouco tempo parecia impossível: um projeto de paz.

Recentemente, passei um tempo com Simon em Itti, onde ele não tem o menor prestígio social, uma vez que não é dono de rebanho; além disso, parece deslocado com seus óculos escuros e sapatos ocidentais. Nos três anos anteriores, ele sobrevivera realizando trabalhos comunitários para a Wildlife Conservation Society - uma atividade muito diversa, em certo sentido, dos acampamentos pastoris e grupos de caça de seus pares. Ainda assim os moradores locais o cumprimentam e prometem revê-lo no domingo pela manhã. "E aí, chefia?", dizem. "Claro que não sou chefe de nada", comenta, rindo.

Simon poderia ter ficado em Uganda ou ido para o Quênia. Poderia ter emigrado para os Estados Unidos, onde estaria vivendo com conforto. Por que não ir para lá? Ele sorri. "Não", diz.

Quando criança, Logocho havia deixado para trás as tradições pastoris. Cresceu em meio ao caos da guerra, e depois, quando se tornou Simon, sua fé comoveu um influente americano que ofereceu apoio, a ele e a seu país. Sua história pessoal está entrelaçada à do Sudão do Sul, e tudo o que quer é ajudar seu povo. "Não", diz Logocho. "Este é meu lugar."

Belo Monte - A terceira maior hidrelétrica do mundo



Por muitas décadas se acreditou que hidrelétricas são fontes de energia limpa, mas hoje se sabe que tanto o impacto ambiental gerado a partir da inundação que liquida espécies e interfere diretamente no ecossistema, quanto o gás metano gerado a partir da decomposição da vegetação que fica submersa, fazem com que as hidrelétricas não sejam tão viáveis para a sustentabilidade do planeta.
Ainda assim, o governo atual, conseguiu tirar do papel um projeto que vem desde os primórdios da ditadura e pretende construir a terceira maior hidrelétrica do mundo na região do oeste do Pará, próximo a cidade de Altamira, no rio Xingu.
 Para que as obras se iniciam, o governo só precisa da licença ambiental emitida pelo Ibama. E o que se sabe até agora é que os conflitos gerados a partir de uma obra desse porte fizeram com que dois técnicos pedissem a demissão alegando pressão do governo. Estruturada dessa maneira, acredita-se que a licença sairá em fevereiro deste mesmo ano. (Alguma dúvida?)
Acredita-se que o investimento inicial seja de R$ 20 bilhões, mas como sabemos o valor tende a ser bem maior. O reservatório da Usina tomará uma área que condiz com o tamanho das cidades de Recife e Fortaleza juntas. A obra será maior que a do Canal do Panamá e para ser concluida estima-se que necessite de 10 anos.
O local, como não seria diferente, inlui áreas de preservação ambiental e indíginas. Várias pessoas precisarão ser desalojadas e outras tantas migrarão para as proximidades interessadas nos tantos empregos diretos e indiretos que uma obra desse porte deve gerar, o que definitivamente pode se transformar num caos sócioambiental.
 A capacidade de geração de Belo Monte anunciada pelo governo é de 11.233 MV, o que a coloca realmente em terceiro lugar, mas a verdade é que essa geração é a máxima e isso não ocorrerá durante o ano inteiro. Em épocas de seca (ou seja, na metade do ano) a geração de energia cai para 4.700 MW. A Eletrobrás garante que a geração de energia de um semestre garantirá o abastecimento anual e que a usina pode ficar parada o restante do ano por que já terá cumprido sua missão. (Uma obra deste tamanho que funcionará exatamente como os modelos públicos brasileiro: muito dinheiro e pouco trabalho)
Segundo o governo a função da hidrelétrica é dar segurança energética ao Brasil e os próximos capítulos envolvem uma briga de gigantes no leilão que definirá a empresa responsável pela construção e operação da usina. (mais uma vez quem pagar mais, leva)

Outros pontos de vista:

 “A região da Volta Grande do Xingu ficará praticamente seca com a construção da usina. A exemplo do que aconteceu com a cachoeira de Sete Quedas na construção da usina de Itaipu, também Belo Monte destruirá ou modificará cem quilômetros de uma sucessão de cachoeiras, corredeiras, canais naturais, e, além do enorme, trágico, irresponsável e irreversível desastre ambiental, a população que ficará na região não terá água suficiente para suas necessidades.”, afirma Dom Erwin Kräutler, bispo do Xingu, sobre a construção da obra. “Nós nunca impedimos o desenvolvimento sustentável do homem branco, mas não aceitamos que o governo toma uma decisão de tamanha irresponsabilidade e que trará conseqüências irreversíveis para esta região e nosso povos, desrespeitando profundamente os habitantes ancestrais deste rio e o modelo de desenvolvimento que defendemos” ( trecho da Carta dos povos indígenas ao presidente Lula contra a construção da Usina Hidrelétrica Belo Monte.)

Mais uma frase infeliz de um ministro: “Estamos quase mendigando para o Meio Ambiente liberar a autorização para a construção da terceira maior hidrelétrica do mundo”, disse o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, na cerimônia de posse de diretores da Aneel, no último dia 23. O governo esperava ainda para 2009 a liberação da licença e chegou a marcar o leilão para o dia 21 de dezembro de 2009, antes da concessão da licença prévia.

Copenhague - Parte II


A segunda parte do programa "Plano MTV Copenhague" discute como cada um de nós pode contribuir para a redução do aquecimento global, independente do resultado da COP15 – 15ª Conferência das Partes, a partir de mudanças de atitude no nosso dia-a-dia. Assista a primeira parte do programa, que explica um pouco mais sobre as intenções e a importância desse encontro que aconteceu em dezembro de 2009, em Copenhague.

Copenhague - Parte I


Em dezembro de 2009, em Copenhague, líderes mundiais se reuniram para discutir o clima durante a 15ª Conferência das Partes. A intenção do encontro era instituir metas de redução das emissões de gases poluentes e, assim, combater o aquecimento global no planeta. Você sabe como tudo isso impacta em sua vida e o que pode fazer para ajudar? Descubra na primeira parte do programa Copenhague", a partir de depoimentos de economistas, líderes comunitários e várias outras pessoas que, de alguma forma, estão ligadas ao assunto.


Veja a segunda parte do programa.

Tecnologias Verdes - Parte II


A segunda parte do programa Tecnologias Verdes mostra como é importante o envolvimento de toda a sociedade – e não só dos governos – na busca pela implantação de uma economia de baixo carbono no Brasil. Os especialistas reforçam a importância do envolvimento das universidades, através de centros voltados para o desenvolvimento de tecnologias limpas, e discutem outras questões relacionadas ao assunto como reciclagem, pré-sal e, até mesmo, mercado musical.


Assista a primeira parte do programa.

Tecnologias Verdes - Parte I


A primeira parte do programa sobre tecnologias verdes mostra ao telespectador como as novas tecnologias podem ser fortes aliadas na construção de um planeta mais sustentável e explica, ainda, porque o mundo passou a se interessar mais por esse assunto nos últimos anos. Para os participantes, a economia começou a mostrar sinais de preocupação com o meio ambiente apenas quando os grandes empresários perceberam que a natureza havia chegado no seu limite. Nesse novo cenário, especialistas acreditam que o Brasil leva vantagem sobre os outros países, principalmente no setor de energias renováveis. 


Veja a segunda parte do programa.