2.1- A Guerra Fria ou Terceira Guerra Mundial
A Segunda Guerra Mundial mal
terminara quando a humanidade mergulhou no que se
pode encarar, razoavelmente, como uma Terceira Guerra Mundial, embora uma
guerra muito peculiar. [...] Gerações inteiras se criaram à sombra de batalhas
nucleares globais que, acreditava-se firmemente, podiam estourar a qualquer
momento e devastar a humanidade. [...] À medida que o tempo passava, mais e
mais coisas podiam dar errado, política e tecnologicamente, num confronto
nuclear permanente baseado na suposição de que só o medo da "destruição
mútua inevitável" (adequadamente expresso na sigla MAD, das iniciais da
expressão em inglês — mutually assured
destruction) impediria um lado ou outro de dar o sempre pronto sinal para o
planejado suicídio da civilização. Não aconteceu, mas por cerca de quarenta
anos pareceu uma possibilidade diária.
A
peculiaridade da Guerra Fria era a de que, em termos objetivos, não existia
perigo iminente de guerra mundial. Mais que isso: apesar da retórica
apocalíptica de ambos os lados, mas sobretudo do lado americano, os governos
das duas superpotências aceitaram a distribuição global de forças no fim da
Segunda Guerra Mundial, que equivalia a um equilíbrio de poder desigual mas não
contestado em sua essência. A URSS controlava uma parte do globo, ou sobre ela
exercia predominante influência — a zona ocupada pelo Exército Vermelho e/ou
outras Forças Armadas comunistas no término da guerra — e não tentava ampliá-la
com o uso de força militar. Os EUA exerciam controle e predominância sobre o
resto do mundo capitalista, além do hemisfério norte e oceanos, assumindo o que
restava da velha hegemonia imperial das antigas potências coloniais. Em troca,
não intervinha na zona aceita de hegemonia soviética. [...]
HOBSBAWN,
Eric. Era dos extremos: o breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras,
1995. p. 224.
2.2- A Guerra Fria e a ordem mundial
bipolar
A
destruição da Europa durante a Segunda Guerra marcou o fim do poder que o
continente acumulara nos séculos anteriores. A economia europeia estava
desorganizada e mergulhada no esforço de sua reconstrução.
Incapazes
de assegurar seu próprio destino, de articular um sistema de defesa e de
restaurar sua economia sem ajuda externa, os governantes dos países europeus
foram obrigados a enquadrar-se em uma nova ordem mundial, cuja liderança seria
disputada pelas potências de fato vitoriosas na guerra: os Estados Unidos e a
União Soviética. No início da década de 1940, a União Soviética já se destacava
das demais economias do mundo em alguns setores produtivos - siderurgia e
petroquímica - e em infraestrutura energética e de transporte, sendo superada
apenas pelos Estados Unidos.
Após
1945, com a expansão do socialismo, a URSS passou a exercer influência direta
em quase todos os continentes.
Os
Estados Unidos, por sua vez, tornaram-se a principal liderança do mundo
ocidental (capitalista). A guerra havia se convertido num bom negócio para os
americanos, pois suas taxas médias de crescimento econômico, do final da década
de 1930 ao início da de 1960, foram superiores às de qualquer outro país.
Após
1945, o mundo foi reordenado a partir desses dois blocos antagônicos. A
geopolítica bipolar, marcada pela supremacia dos Estados Unidos (capitalismo) e
da União Soviética (socialismo), definiu as relações internacionais e os
principais conflitos mundiais.
Em
1947, o presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, declarou no Congresso:
"A política dos Estados Unidos será a de prestar apoio aos povos livres
que resistem às tentativas de subjugamento por obra de minorias armadas ou de
pressões do exterior". Estava lançada a Doutrina Truman, cujos princípios norteariam
a rivalidade entre Estados Unidos e União Soviética. Denominada também Doutrina
de Contenção, foi criada com o firme propósito de barrar a expansão socialista
e inaugurou quatro décadas de disputa entre as duas superpotências. Era o
início da Guerra Fria.
De
modo geral, os acontecimentos político-militares, entre 1947 e 1989, em todos
os países do globo, ocorreram no contexto da hegemonia das duas potências. As
interferências dos Estados Unidos e da União Soviética praticamente ocorriam ao
mesmo tempo, cada país apoiando um dos lados envolvidos.
2.3- A Organização das Nações Unidas
(ONU)
A ONU
foi criada em 1945 pela Conferência de São Francisco, com o objetivo de
assegurar a paz mundial e promover a cooperação entre os países.
Apesar
disso, desde sua criação, não se pôde impedir que ocorressem, no mundo,
centenas de conflitos que levaram à morte mais de 20 milhões de pessoas.
Quase
todos os países do planeta participam da ONU, que é formada por vários órgãos e
por uma série de agências especializadas, como: Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Organização das Nações Unidas
para Agricultura e Alimentação (FAO), Organização Mundial da Saúde (OMS),
Organização Internacional do Trabalho (OIT) e Agência Internacional de Energia
Atômica (AIEA). Conta também com programas e organizações como o Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e o Fundo das Nações Unidas para a
Infância (Unicef).
Entre
os princípios da Carta das Nações Unidas está registrado que todos os
Estados-membros são soberanos e iguais entre si. As resoluções tomadas pela
Assembleia Geral, onde cada país tem direito a um voto, têm que ser aprovadas
por pelo menos nove dos quinze países que formam o Conselho de Segurança (cinco
membros permanentes e dez temporários). No entanto, apenas os cinco membros
permanentes (Estados Unidos, Rússia, França, Reino Unido e China) têm poder de
veto.
A
estrutura da ONU é bastante questionada no mundo atual. Isso porque emergiram
outras potências mundiais, como Japão e Alemanha, que não têm representação
permanente no Conselho de Segurança
e emergiram também outras nações, como índia e Brasil, que são populosas e
apresentam relativa influência entre os países subdesenvolvidos.
Outra
crítica é que ela ainda representa a ordem mundial definida pelos vencedores da
Segunda Guerra Mundial. Além disso, os Estados Unidos têm sido acusados de
conquistar votos para as questões de seu interesse, oferecendo ajuda financeira
aos países mais pobres, e de não acatar as resoluções que afetam seus objetivos
internacionais.
A
aparente representatividade dos países na Assembleia Geral é também
questionável quando se observa que o peso do voto de Tuvalu, com apenas 10 mil
habitantes, é equivalente ao da índia, que tem mais de um bilhão de habitantes.
Além disso, em diversos momentos, as resoluções da ONU não têm sido
respeitadas, o que coloca em cheque sua capacidade de mediar e impedir os
conflitos mundiais, objetivos para os quais foi criada.
2.4- Os Estados Unidos e a articulação
da economia mundial
Em
1944, na Conferência de Bretton Woods, nos Estados Unidos, os governos dos
países capitalistas definiram uma nova ordem econômica, que estimulava a
retomada do desenvolvimento capitalista e a maior integração da economia
mundial. Para tanto, foram criados o Banco Mundial, o Fundo Monetário
Internacional (FMI) e o Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio
(Gatt).
Inicialmente,
o Banco Mundial tinha o objetivo de captar fundos para a reconstrução europeia
após o término da guerra. Posteriormente, transformou-se numa instituição que
fornecia recursos necessários à criação de infraestrutura nos países
subdesenvolvidos.
O FMI
foi criado para estimular o comércio internacional, promover ajuda econômica e
fornecer assessoria técnica aos países membros que apresentassem problemas
financeiros. A partir de sua atuação, foram estabelecidas as regras básicas das
relações financeiras internacionais. A partir de sua criação, os países
associados converteram o valor de suas moedas ao dólar ou ao ouro, ocorrendo,
por causa disso, uma valorização da moeda norte americana frente às demais. O
dólar passou a ser a moeda de referência no comércio mundial e aceito em todas
as transações.
O Gatt
foi a terceira instituição criada com o objetivo de intensificar e regulamentar
o comércio mundial. Em 1º de janeiro de 1995, foi substituído pela Organização
Mundial do Comércio (OMC).
Essas
três instituições são interdependentes: os países que não respeitam as regras
estabelecidas pela OMC, por exemplo, não têm acesso aos recursos financeiros do
FMI e do Banco Mundial. Da mesma forma, o Banco Mundial só libera recursos para
países que orientam sua economia de acordo com as metas estabelecidas ou aprovadas
pelo FMI.
2.4.1- O Plano Marshall
Em
1947, os Estados Unidos lançaram o Plano Marshall, que visava consolidar o
capitalismo na Europa Ocidental e reconquistar o espaço perdido para os
soviéticos na Europa Oriental. O plano consistia numa ajuda econômica de
grandes proporções a todos os países europeus atingidos diretamente pela
guerra.
A
ajuda se destinava, inclusive, aos países que já haviam adotado a orientação socialista
e estavam sob influência soviética. Entretanto, devido a pressões da União
Soviética, os países do Leste Europeu, exceto a Iugoslávia, recusaram qualquer
auxílio dos Estados Unidos.
O
Plano Marshall foi estendido também aos países derrotados, como Alemanha
(Ocidental) e Itália. O Japão foi beneficiado por um plano similar (Plano
Colombo). A recuperação econômica e a regularização do comércio mundial eram
essenciais à continuidade do próprio sistema e à contenção do socialismo. Além
disso, asseguravam para os Estados Unidos um mercado internacional capaz de
absorver sua elevada produção e sua disponibilidade de capital, sem os quais o
país poderia mergulhar numa depressão semelhante à de 1929, devido à
superprodução de bens e ao excedente de capitais.
O
final da Segunda Guerra significou a vitória da democracia sobre o nazi
fascismo. A reestruturação dos países
foi acompanhada pelo fortalecimento dos ideais democráticos e o revigoramento
do sindicalismo, que acarretou maiores ganhos salariais e melhor distribuição
de renda nos países desenvolvidos.
A
indústria de bens de consumo duráveis diversificou-se e expandiu o seu mercado.
Os lares europeus, e até mesmo de alguns países subdesenvolvidos, foram
invadidos por uma avalanche de produtos que passaram a ser consumidos em grande
quantidade, sobretudo aparelhos domésticos e automóveis.
2.5- As Alianças Militares
O
final da Segunda Guerra sinalizava o prenuncio de um novo conflito, cujas
proporções seriam imprevisíveis. Já em 1945, os Estados Unidos mostraram ao
mundo o seu poder de dissuasão militar ao forçar a rendição do Japão por meio
das bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki. Em 1949, a União
Soviética fez o seu primeiro teste nuclear, demonstrando que estava em
igualdade de condições no caso de um conflito militar.
Ainda
em 1949, sob a liderança dos Estados Unidos, foi criada a Organização do
Tratado do Atlântico Norte (Otan), um sistema de defesa multinacional que
reuniu as forças militares dos Estados Unidos, do Canadá e de vários países da
Europa.
Em
1955, os países socialistas, sob a liderança soviética, formaram o Pacto de
Varsóvia, com a mesma finalidade: a defesa militar comum de seus associados. Em
1991, após o fim da União Soviética, o Pacto de Varsóvia foi extinto.
Atualmente,
a Otan é constituída por 28 países. A aproximação da Otan da fronteira da
Rússia limita as possibilidades de ações geopolíticas futuras desse país no
continente europeu. Desde 2002 a Rússia participa do Conselho da Otan, mas não
é considerada membro e não tem direito a voto.
Para
muitos analistas, a Otan é hoje um organismo
ultrapassado.
Criada no contexto da Guerra Fria, nasceu para fazer face à União Soviética e
ao bloco comunista, mas perdeu sua razão de existência. No entanto, tem sido um
organismo militar de apoio à
máquina
de guerra norte-americana, que tem comandado suas ações nos conflitos que
surgiram a partir da década de 1990, com o fim da URSS.
2.6- A Geopolítica da Guerra Fria
A
geopolítica bipolar, marcada pela supremacia dos Estados Unidos e da União
Soviética, definiu o destino de quase todos os países nas décadas seguintes ao
final da Segunda Guerra.
Aproveitando-se
de conflitos regionais, as duas superpotências procuravam demarcar ou ampliar
suas áreas de influência, que adquiriram dimensão mundial. A Guerra Fria
esteve, assim, por trás de quase todos os conflitos ocorridos entre 1947 e
1989.
Cinco
anos após o término da Segunda Guerra, em 1950, Estados Unidos e URSS já se
defrontavam indiretamente na Guerra da Coreia, que terminou com a divisão do
país em Coreia do Norte (socialista) e Coreia do Sul (capitalista). Em 1959, a
Revolução Cubana enfrentou a oposição dos vizinhos norte-americanos, o que
levou Cuba, nos anos seguintes, ao alinhamento com a União Soviética e à integração
ao bloco socialista.
A
União Soviética também viveu sérios conflitos em seus domínios, como as
tentativas de insurreição na Hungria, em 1956, e na Tchecoslováquia, em 1968,
ambas sufocadas pelo exército soviético.
O ano
de 1964 marcou a intervenção direta dos Estados Unidos no Vietnã, num conflito
contra o colonialismo francês que se arrastava desde o final da Segunda Guerra.
Os Estados Unidos, com sua política de contenção do comunismo, sempre apoiaram
as tropas francesas. No entanto, a participação direta dos norte-americanos no conflito
revelou-se desastrosa. Além das perdas humanas (cerca de 50 mil mortos e 800
mil feridos e mutilados), que mobilizaram negativamente a opinião pública
norte-americana, a guerra teve um
custo
financeiro astronômico. Em 1973, os Estados Unidos retiraram-se da guerra,
derrotados e desmoralizados. Seus modernos recursos militares não conseguiram
vencer as dificuldades impostas pela densa floresta tropical e pelas táticas de
guerrilha dos vietcongues.
Os
Estados Unidos e a União Soviética já haviam iniciado, em 1955, após a morte do
ditador russo Josef Stalin, uma política de coexistência pacífica, a détente. No entanto, não cessaram a
pesquisa e a produção de armas e mantiveram sua política externa de apoio e estímulo
a conflitos em diversas regiões do mundo.
2.7- A questão alemã
Na
Conferência de Potsdam, em 1945, após a derrota da Alemanha na Segunda Guerra,
estabeleceram-se a divisão do território alemão, seu desarmamento e as novas
divisões de fronteiras com a Áustria, Tchecoslováquia, Polônia e URSS.
O país
foi dividido em quatro zonas de ocupação. A parte ocidental foi ocupada por
tropas inglesas, francesas e americanas. A parte oriental, formada por cinco
estados, transformou-se em zona de ocupação soviética. A Alemanha foi obrigada
ainda a ceder à Polônia mais de 100 mil km2 de seu território a leste dos rios
Oder e Neisse, e à URSS, a região de Kõnigsberg, atual Kaliningrado.
Berlim,
situada no interior da zona de ocupação soviética, também foi dividida em
quatro zonas. Berlim Oriental foi ocupada pela URSS, e Berlim Ocidental, por
França, Inglaterra e Estados Unidos.
Em
1949, os estados do lado ocidental promoveram uma reforma monetária que criou
uma nova moeda, o marco alemão, desvinculada da moeda dos demais estados
orientais. Formaram, ainda, uma Assembleia Constituinte, que instituiu uma nova
Constituição,
e um
Estado alemão independente: a República
Federal da Alemanha (RFA). Cinco meses depois, em oposição à criação da
RFA, a URSS autorizou a formação de um estado socialista alemão, que originou a República Democrática Alemã (RDA).
As
relações entre os dois novos Estados alemães foram de franca oposição. O
primeiro-ministro eleito da RFA, Konrad Adenauer, promulgou a
Hallstein--Doktrin, que estabelecia o rompimento das relações diplomáticas com
os países que reconhecessem a RDA como país soberano. Esta, por sua vez,
pressionava a URSS para que autorizasse o bloqueio de suas vias terrestres,
utilizadas pela RFA para o abastecimento do lado ocidental da cidade de Berlim.
O governo da RDA mantinha a esperança de que toda a cidade caísse sob o seu
controle.
Berlim
transformou-se numa questão delicada. Desde a formação das duas Alemanhas, mais
de 3 milhões de pessoas evadiram-se do lado oriental para o ocidental,
principalmente jovens e profissionais qualificados. Somente no primeiro
semestre de 1961, a RDA perdeu mais de 200 mil habitantes para a RFA. Além
disso, formou-se na cidade um mercado negro, com a venda de alimentos para os
ocidentais a preço subsidiado pelo governo socialista oriental.
Em
agosto de 1961, a URSS autorizou o governo de Walter Ulbricht a construir um
muro, isolando totalmente a parte ocidental da cidade do
resto do território da Alemanha Oriental. O Muro de Berlim transformou-se no
principal símbolo da Guerra Fria.
2.8- A crise dos mísseis
Em
1962, a tensão entre Estados Unidos e União Soviética chegou a um ponto
crítico, quando o país socialista decidiu instalar em Cuba uma base de mísseis
nucleares apontados para o território norte-americano. O objetivo era conter
qualquer possibilidade de invasão a Cuba, como a ocorrida em 1961, quando
refugiados cubanos, apoiados pelos Estados Unidos, tentaram invadir a Baía dos
Porcos.
O
presidente Kennedy ordenou, então, o imediato bloqueio naval da ilha, pela
marinha e pela aviação norte-americana, e deu início a uma dura etapa de
negociação com o então secretário-geral do Partido Comunista da URSS, Nikita
Krushev.
O
momento foi de grande tensão, com a possibilidade real de uma guerra nuclear. A
retirada dos mísseis soviéticos de Cuba envolveu pressões com manobras
militares das duas grandes potências e esforços diplomáticos. Krushev acabou
recuando diante do compromisso assumido pelos Estados Unidos de não invadir o
território cubano e de retirar os mísseis instalados na Turquia dirigidos para
o território soviético.
2.9- A descolonização e o movimento dos
não alinhados
O
final da Segunda Guerra Mundial desencadeou a luta pela descolonização dos
países africanos e asiáticos. A resistência dos povos colonizados contra a opressão
dos colonizadores era antiga, mas ganhou força nesse período.
Além
disso, Estados Unidos e União Soviética apoiaram os movimentos de libertação em
relação às potências europeias, com o objetivo de ampliar suas esferas de
influência.
Com a
independência política, surgiram disputas internas pelo controle do poder em
diversos países africanos e asiáticos, que se transformaram em guerras civis.
Contribuíram, ainda, para agravar a situação econômica e social, ao mesmo tempo
em que criaram novas relações de dependência com os Estados Unidos e a União
Soviética.
A
estratégia fundamental da índia foi a "desobediência civil", que
incentivava a população a não respeitar as leis injustas e prejudiciais
impostas pelo colonizador; a boicotar a compra do tecido inglês e retomar a
tradição de tecer suas próprias vestimentas; e a não pagar abusivos aumentos de
impostos determinados pelo império britânico.
Em
1947, depois de resistir de todas as formas ao movimento pacifista liderado por
Mahatma Gandhi e reprimir violentamente todas as manifestações pela libertação
nacional, a Inglaterra não teve alternativa senão ceder à independência do
país.
O
pan-africanismo foi expressivo na luta pela descolonização da África. As
propostas do movimento tinham como princípio a unidade dos africanos contra o
domínio imperialista europeu e a defesa do continente como terra de todos os
negros.
Os
ideais do pan-africanismo ganharam força após a Segunda Guerra Mundial. Em
1958, foi organizada em Gana a Primeira Conferência dos Povos da África,
reunindo diversos líderes africanos empenhados na luta pela libertação e
independência. Os principais expoentes do pan-africanismo foram Jomo Queniata,
do Quênia, e Kwame Nkrumah, de Gana.
No
mundo árabe, surgiu o pan-arabismo. Formulado pelo presidente egípcio Gamai
Abdel Nasser, responsável pela nacionalização do Canal de Suez, propunha a
união das nações muçulmanas do norte da África e do Oriente Médio. O objetivo
era conter a influência ocidental no milenar mundo árabe e na cultura islâmica.
No entanto,
no mundo pós-Segunda Guerra, dominado pelas superpotências, a maior parte dos
países pan-arabistas foi impelida a alinhar-se a um dos dois modelos políticos
e socioeconômicos (capitalismo ou socialismo) e, por consequência, aos Estados
Unidos ou à União Soviética.
Houve
tentativas de não alinhamento. Uma delas foi o movimento dos não alinhados
formado em 1955 na Conferência de Bandung, Indonésia. Reunindo líderes de cerca
de 30 países africanos e asiáticos, a conferência exigiu participação mais ativa
nas decisões internacionais, uma política de neutralidade em relação à bipolaridade
estabelecida pela Guerra Fria e a luta pela libertação nacional contra o
colonialismo.
A
partir da Conferência de Bandung, popularizou-se o termo Terceiro Mundo, para
referir-se aos países independentes das orientações das duas superpotências.
Mais tarde, o termo foi aplicado indiscriminadamente ao conjunto dos países
subdesenvolvidos. Apesar da proeminência de vários líderes, o bloco dos países "não
alinhados" não conseguiu romper a divisão estabelecida por Estados Unidos
e União Soviética.
2.9.1- Fim da Ordem Bipolar
De
1945 a 1970, o mundo viveu um ciclo de prosperidade. Tanto a economia
capitalista como a socialista tiveram um crescimento econômico surpreendente,
ressalvados os diferentes níveis de desenvolvimento entre os países de cada
grupo. A partir da década de 1970, os dois modelos econômicos começaram a
apresentar sintomas de crise.
No
mundo capitalista, a crise teve origem nos crescentes déficits orçamentários e
da balança comercial dos Estados Unidos. Esses déficits levaram o governo
norte--americano a desvalorizar o dólar em relação ao ouro, em 1971, e a
decretar a livre conversibilidade da moeda (ou seja, a flutuação do valor do
dólar determinada pelo mercado), em 1973. Era o fim da paridade dólar/ouro
estabelecida na Conferência de Bretton Woods.
Déficit orçamentário: situação em que os gastos do governo superam o
valor arrecadado.
Balança comercial: relação entre as exportações e as importações de
mercadorias realizadas por um país, medida em dólares. 0 déficit na balança
comercial ocorre quando o valor das importações supera o valor das exportações,
quando ocorre o contrário, a balança comercial registra superávit.
Com a
situação deficitária, o dólar se desvalorizou em relação a outras moedas fortes
– marco alemão, libra esterlina(Grã-Bretanha) e iene(Japão)-, aumentando a
competitividade dos produtos norte-americanos no comércio externo e diminuindo
a competitividade dos produtos tradicionalmente importados pelos Estados
Unidos. A crise se alastrou por todos os países capitalistas, em razão da força
da economia norte-americana no mundo. A recessão espalhou-se e abalou
principalmente as economias menos desenvolvidas, que dependiam dos
investimentos estrangeiros e das exportações de produtos agrícolas e
matérias-primas para os países desenvolvidos. O quadro foi agravado pelo forte
aumento do preço do petróleo, em 1973, fato que ficou conhecido como Primeiro
Choque do Petróleo.
No
mundo socialista, a crise era resultante do esgotamento do próprio modelo
econômico. O industrialismo soviético, apoiado nas indústrias de base, de armas
e aeroespacial, não acompanhou o
mesmo
ritmo de desenvolvimento tecnológico de outros setores -sobretudo os de bens de
consumo. A falta de criatividade e agilidade para modificar esse modelo
comprometeu o funcionamento de praticamente todo o sistema. Além disso, a União
Soviética, assim como os Estados Unidos, gastava quantias enormes em armamentos
e na construção de foguetes, naves e satélites espaciais (corrida armamentista
e corrida aeroespacial).
No
caso dos Estados Unidos, a tecnologia militar acabou sendo adaptada à geração
de produtos para a economia civil. Mais de 3 mil novos produtos de consumo,
lançados pelos Estados Unidos na segunda metade do século XX, foram criados a
partir de tecnologia desenvolvida, inicialmente, para produtos ligados à
indústria de guerra ou aeroespacial. Já a União Soviética não conseguiu
aproveitar dessa mesma maneira a tecnologia militar.
2.9.2- O Colapso do Socialismo
A URSS
vivia um paradoxo: lançou o primeiro satélite artificial (Sputnik, em 1957),
fabricou satélites espiões e mísseis de alta precisão, mas não conseguiu
desenvolver uma indústria automobilística com tecnologia própria, não fabricou
um bom televisor e nem mesmo uma simples enceradeira que funcionasse
perfeitamente.
O
modelo de economia estatal e planificada apresentava limitações em sua própria
concepção. O socialismo, ao transferir todos os meios de produção para a
gerência do Estado, não estimulou o desenvolvimento técnico dos setores que
considerava secundários, como os bens de consumo. O Estado definia o que seria
produzido pelas empresas, determinava as quantidades e estabelecia os preços.
Obrigadas
a cumprir as metas de produção e de produtividade traçadas pelos planejadores
estatais, as empresas compravam de um único fornecedor as mercadorias ou
matérias-primas, independentemente de sua qualidade. Na agricultura, por
exemplo, tratores e máquinas agrícolas comumente saíam das fábricas com
problemas, tendo de ser consertados pelos próprios agricultores.
No
final da década de 1970, a estagnação econômica atingiu praticamente todos os
países socialistas. As indústrias estavam com grande capacidade ociosa,
faltavam matérias-primas e alimentos e havia dificuldade para importar produtos
básicos para o abastecimento da população e o funcionamento da economia. O
custo da Guerra Fria se tornara insustentável para a economia soviética e
constituía um entrave ao crescimento da produção de bens de consumo,
insuficiente para atender a população.
Embora
a crise econômica tenha se manifestado já na década de 1970, o Leste Europeu e
a União Soviética mantiveram uma situação artificial de preços baixos dentro de
suas fronteiras, sem promover qualquer alteração no modelo econômico,
ineficiente e improdutivo. Na década de 1980, sua população vivia uma situação
inusitada: dispunha de dinheiro, mas não tinha como gastá-lo.
A
partir de 1985, o governo de Mikhail Gorbatchev promoveu uma grande alteração
na estrutura política e socioeconômica da União Soviética. Implantou a Perestroika (reestruturação ou
reconstrução), uma reformulação da economia que tinha como objetivo o
aprimoramento de todo o sistema de produção e de propriedade, além da
introdução de mecanismos de mercado.
Para
vencer a resistência da cúpula do Partido Comunista, as reformas dependiam de
um amplo apoio popular que as legitimasse. Para tanto, foi implantada a Glasnost (transparência), conjunto de
reformas políticas que concederam liberdade de expressão e de informação,
contida até então pelo regime socialista e pela ditadura czarista que o
antecedeu.
A
política de austeridade e de redução dos gastos públicos levou Gorbatchev a
promover, junto ao governo dos Estados Unidos, uma série de acordos de
desarmamento, para diminuir os gastos com a corrida armamentista. Os efeitos
das transformações na União Soviética, no final da década de 1980, atingiram os
países do Leste Europeu, provocando a queda dos governos socialistas, a
democratização das instituições e o estabelecimento de eleições livres e
diretas. O desmoronamento da economia socialista teve efeitos profundos no
espaço geográfico da Europa. Em 1989, a Hungria retirou a cerca de arame
farpado que havia em sua fronteira com a
Áustria. Os húngaros deram os passos iniciais, no Leste Europeu, em direção à
privatização e à economia de mercado.
Na
Alemanha Oriental, a evasão de cidadãos para a Alemanha Ocidental, via
Tchecoslováquia e Hungria, levou o governo provisório a liberar as viagens para
o exterior e a permitir, em 9 de novembro de 1989, o livre trânsito através do
Muro de Berlim. A população encarregou-se de fazer o resto. Em poucos dias,
quase nada restava do Muro, principal símbolo da Guerra Fria. A queda do Muro
abriu caminho para a reunificação da Alemanha em 3 de outubro de 1990.
2.9.3- Problemas de transição nos
países socialistas
Não é
fácil mudar de um sistema econômico em que a propriedade pertence ao Estado, e
a produção não depende do mercado, para um sistema em que o mercado determina o
que é produzido, e a produção é realizada pela iniciativa particular.
Quem
seriam os proprietários das empresas estatais privatizadas, se teoricamente não
existiam pessoas com capital suficiente para comprá-las? Durante a transição,
nos países socialistas muitas empresas foram vendidas para empresas
estrangeiras; outras foram fechadas, pois não tinham condições de competir no
mercado capitalista, ou simplesmente transferidas para grupos privilegiados que
tinham influência no processo de privatização. Profissionais de grande
competência migraram para outros países ou se sujeitaram a fazer qualquer tipo
de trabalho disponível.
Na
época do socialismo, existia pleno emprego e amparo social e todos tinham
acesso ao sistema público de saúde. A transição para o capitalismo foi marcada
pelo enfrentamento de problemas econômicos e sociais graves. Na Rússia, muitos
ex-burocratas da antiga URSS passaram a atuar em atividades criminosas,
constituindo a máfia russa. No Leste Europeu, segundo a ONU, no início do
século XXI,
cerca de 1/3 da população vivia abaixo da linha
de pobreza.
Apesar
das dificuldades, na maioria dos países houve a conquista de liberdades
fundamentais, eleições livres e maior autonomia da imprensa. Alguns países do
Leste Europeu, até a crise econômica de 2007/2008, conquistaram relativa
estabilidade econômica e avanços democráticos com a integração à União
Europeia. Muitas empresas deslocaram sua produção para essa região da Europa,
em função dos custos mais baixos e da mão de obra qualificada excedente.
2.9.4- O fim da Guerra Fria e as novas
fronteiras europeias
Com o
fim da Guerra Fria, a população da União Soviética passou a apoiar os políticos
que prometiam um caminho mais rápido para a transição. Em 1990, o
ultrarreformista Boris Yeltsin foi eleito presidente da Rússia. Após um ano de
governo, declarou total autonomia da Rússia em relação
à União Soviética, sendo seguido pelas demais repúblicas soviéticas.
O ano
de 1991 marcou o fim da União Soviética. As 15 repúblicas socialistas que a
constituíam conquistaram a independência. Doze delas associaram-se a uma
entidade supranacional mais ampla, a Comunidade dos Estados Independentes
(CEI), cujo limite de atuação e de integração entre os países nunca ficou bem
definido. Letônia, Estônia e Lituânia não aderiram à CEI, que atualmente é
formada apenas por dez países: o Turcomenistão deixou de ser membro permanente
em 2005 e a Geórgia retirou-se definitivamente da CEI em decorrência do
conflito aberto com a Rússia sobre a questão da Ossétia do Sul e da Abcásia.
A
Tchecoslováquia foi desmembrada em dois países: a República Tcheca e a
Eslováquia. Em relação às duas Alemanhas, menos de um ano depois da queda do
Muro de Berlim, elas foram unificadas, causando profundas alterações na
geopolítica europeia. A Alemanha, já fortalecida economicamente, passou a ser o
país europeu com maior influência na porção oriental do continente.
A
Iugoslávia foi esfacelada. Formada por várias nacionalidades e culturas
distintas, os conflitos separatistas na década de 1990 dividiram-na em seis
países independentes: Croácia, Eslovênia, Bósnia-Herzegovina, Macedônia, Sérvia
e Montenegro.
A derrocada do socialismo significou o colapso
de todo o sistema de relações internacionais surgido após a Segunda Guerra
Mundial. O fim do socialismo na União Soviética e nos países do Leste Europeu
abriu as portas para uma reordenação geopolítica no mundo.
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