Geografia da Amizade

Geografia da Amizade

Amizade...Amor:
Uma gota suave que tomba
No cálice da vida
Para diminuir seu amargor...
Amizade é um rasto de Deus
Nas praias dos homens;
Um lampejo do eterno
Riscando as trevas do tempo.
Sem o calor humano do amigo
A vida seria um deserto.
Amigo é alguém sempre perto,
Alguém presente,
Mesmo, quando longe, geograficamente.
Amigo é uma Segunda eucaristia,
Um Deus-conosco, bem gente,
Não em fragmentos de pão,
Mas no mistério de dois corações
Permutando sintonia
Num dueto de gratidão.
Na geografia
da amizade,
Do amor,
Até hoje não descobri
Se o amigo é luz, estrela,
Ou perfume de flor.
Sei apenas, com precisão,
Que ele torna mais rica e mais bela
A vida se faz canção!

"Roque Schneider"



Quem sou eu

Salvador, Bahia, Brazil
Especialista em Turismo e Hospitalidade, Geógrafa, soteropolitana, professora.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Organizações Supranacionais e a Economia Global

1- Organização Supranacionais
As organizações supranacionais são organizações econômicas do capitalismo que atuam em vários países do planeta independentemente do modo de produção que esses países adotam.

2- Algumas Organizações Supranacionais
G-8: A sigla G-8 corresponde ao grupo dos Oito países mais ricos e influentes do mundo, fazem parte os Estados Unidos, Japão, Alemanha, Canadá, França, Itália, Reino Unido e Rússia. Antes chamada de G-7, a sigla alterou-se com a inserção da Rússia, que ingressou no grupo em 1998.
Explicitamente, a função do G-8 é a de decidir qual ou quais caminhos o mundo deve seguir, pois esses países possuem economias consolidadas e suas forças políticas exercem grande influência nas instituições e organizações mundiais, como ONU, FMI, OMC. A discussão gira em torno do processo de globalização, abertura de mercados, problemas ambientais, ajudas financeiras para economias em crise, entre outros. 

G-20: (Grupo dos 20) é um grupo constituído por ministros da economia e presidentes de bancos centrais dos 19 países de economias mais desenvolvidas do mundo, mais a União Europeia. Criado em 1999, na esteira de várias crises econômicas da década de 1990, o G20 é uma espécie de fórum de cooperação e consulta sobre assuntos financeiros internacionais. África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia, Países membros da União Europeia.

G-5: O G5, ou grupo dos cinco, consiste da união de cinco países em desenvolvimento que representam todos os outros de mesma categoria. É composto por: Brasil, México, Índia, África do Sul e China.

G-15: Estabelecido em setembro de 1989, logo após a conclusão da IX Cúpula dos Países Não-Alinhados, em Belgrado, o Grupo dos Quinze (G-15), procurou reunir número pequeno e representativo de países que pudessem vir a apresentar posição única sobre temas da agenda econômica internacional, da perspectiva do mundo em desenvolvimento. Ademais de sua contribuição aos debates sobre economia internacional, o G-15 também se plasmou em um foro para promover a Cooperação Sul-Sul.
Atualmente, são 17 os membros do G-15: Argentina, Argélia, Brasil, Chile, Egito, Índia, Indonésia, Irã, Jamaica, Malásia, México, Nigéria, Senegal, Sri Lanka, Venezuela, Zimbábue e Quênia.

G-30: O Grupo dos Trinta, muitas vezes abreviado para G30, é um organismo internacional de líderes financeiros e acadêmicos, que visa aprofundar a compreensão das questões económicas e financeiras e examinar consequências de decisões tomadas nos setores públicos e privados relacionados com estas questões. O grupo é composto por trinta membros e inclui os chefes de grandes bancos privados e bancos centrais, bem como os membros da academia e instituições internacionais. Possui duas reuniões plenárias por ano e também organiza seminários, simpósios e grupos de estudo. Baseia-se em Washington, DC
O Grupo dos Trinta foi fundado em 1978 por Geoffrey de Bell, por iniciativa da Fundação Rockefeller, que também forneceu o financiamento inicial para o corpo. Seu primeiro presidente foi Johannes Witteveen, o ex-diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional. Atual presidente do G30 é Jean-Claude Trichet.

G-24: O Grupo dos 24 (G24), um capítulo do G-77, foi criada em 1971 para coordenar as posições dos países em desenvolvimento sobre questões de financiamento monetário e de desenvolvimento internacionais e para assegurar que os seus interesses foram adequadamente representados nas negociações sobre questões monetárias internacionais.
Os países-membros por região
Região I (África): Argélia, Costa do Marfim, Egito, Etiópia, Gabão, Gana, Nigéria, África do Sul e da República Democrática do Congo.
Região II (América Latina e Caribe): Argentina, Brasil, Colômbia, Guatemala, México, Peru, Trinidad e Tobago e Venezuela.
Região III (Ásia): Índia, Irã, Líbano, Paquistão, Filipinas, Sri Lanka e Síria.

G-77: O Grupo dos 77 na Organização das Nações Unidas é uma coalizão de nações em desenvolvimento, destinada a promover coletivas de seus membros econômicos interesses e criar uma capacidade de negociação conjunta reforçada nas Nações Unidas. Havia 77 membros fundadores da organização, mas em novembro de 2013, a organização tinha desde então, expandiu para 133 países membros.

BRICS- (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
O BRICS é um bloco que reúne os maiores mercados emergentes do mundo: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. 
A ideia dos BRICS foi formulada pelo economista-chefe da Goldman Sachs, Jim O ‘Neil, em estudo de 2001, intitulado “Building Better Global Economic BRICs”. Fixaram-se como categoria da análise nos meios econômico-financeiros, empresariais, acadêmicos e de comunicação. Em 2006, o conceito deu origem a um agrupamento, propriamente dito, incorporado à política externa de Brasil, Rússia, Índia e China. Em 2011, por ocasião da III Cúpula, a África do Sul passou a fazer parte do agrupamento, que adotou a sigla BRICS.
O BRICS tem um caráter informal. Não tem um documento constitutivo, não funciona com um secretariado fixo nem tem fundos destinados a financiar qualquer de suas atividades. Em última análise, o que sustenta o mecanismo é a vontade política de seus membros. Ainda assim, o BRICS tem um grau de institucionalização que se vai definindo, à medida que os cinco países intensificam sua interação. Ao contrário do que muitos possam pensar o BRICS não é um bloco econômico, esses cinco países apenas compartilham de uma situação econômica com índices de desenvolvimento e situações econômicas parecidas.


3- Economia Global: Avanços e Crises
Desde o final da Segunda Guerra, o processo de mundialização se intensificou, devido aos avanços das relações comerciais. A necessidade de reconstrução econômica levou os países europeus a desenvolver novos eixos de exportações e importações, além de aprimorar os já existentes. A própria guerra havia demonstrado a intensidade da interdependência mundial, e essa mesma consciência foi a responsável pela criação da ONU. O comércio internacional é a principal fonte de divisas para um país, e o objetivo é manter a balança comercial favorável, ou seja, exportar mais do que se importa.
O mesmo se aplica à chamada balança de pagamentos, um indicador mais abrangente que a balança comercial, pois, além das trocas comerciais, envolve a troca internacional de serviços, como empréstimos e pagamento de royalties, que são os direitos sobre o uso de marcas. Com a acelerada internacionalização da economia nas últimas décadas, no entanto, as barreiras alfandegárias na maior parte das vezes representam um obstáculo ao desenvolvimento do capitalismo. As grandes empresas, principalmente as transnacionais, necessitam de espaços cada vez maiores, pelos quais possam fazer circular livremente bens, serviços e capitais.
As recentes mudanças do comércio internacional sob os moldes da globalização têm alguns aspectos que merecem destaque:
Um deles é o fato de que os países subdesenvolvidos, tradicionalmente exportadores de matérias-primas, têm investido mais nos manufaturados.
Outro aspecto é a formação de alianças entre alguns países para facilitar o trânsito de mercadorias.
Um terceiro fato é o aumento do volume de trocas resultante da queda de barreiras políticas. Também merece análise a constatação de que nem todas as regiões do mundo se beneficiam igualmente do novo comércio internacional.
No atual contexto de grandes transformações - aumento do volume de transações comerciais, aceleração tecnológica e importância do investimento em pesquisa, desenvolvimento e educação -, o contraste entre as economias subdesenvolvidas exportadoras preferencialmente de matérias-primas e aquelas que exportam grande quantidade de manufaturados se torna ainda mais visível.
A divisão internacional do trabalho tende a se modificar nos próximos anos, sob a influência de fatores como:

  • abertura ao mercado internacional, com a eliminação de barreiras protecionistas;
  • distribuição internacional do trabalho especializado;
  • capacidade de investimento em infraestrutura; e avanço das inovações tecnológicas, com a queda dos custos de comunicações.

Após a década de 1990, várias pessoas em todo o mundo mantêm hábito de consumo semelhante.
O século XX marcou o momento em que hábitos culturais, passaram a ser ditados pelas grandes potências econômicas do mundo ocidental e adotados em escala mundial.
A ECONOMIA MUNDIAL ATUAL
•Segunda metade do século XX.
•Empresas comerciais, industriais, prestação de serviços começaram a instalar filiais em vários países, num processo que ficou conhecido como mundialização ou internacionalização do capital e da produção.
Características da Economia Global
•Crescimento do Comércio Internacional
•Aumento do fluxo de mercadorias entre os países, principalmente, entre os países desenvolvidos (maior capacidade de consumo).
•Rápida expansão dos fluxos financeiros
•Bilhões de dólares são movimentados pelo mundo todos os dias (investimentos em bolsas de valores ou pagamento por mercadorias ou serviços).
•Uso de computadores e satélites.
•Inter-relação dos países
•Uma decisão política ou econômica em qualquer ponto do Mundo poderá provocar reações em cadeia.
•Ex.: se o Banco Mundial eleva a taxa de juros de empréstimos, todos os países que tem dívida externa são prejudicados.


A economia global e as transformações no espaço geográfico
Estamos todos interligados: pessoas, universidades, empresas, cidades e países. Constante fluxo de informações, capitais, mercadorias e também de pessoas.

Transformações na Produção
•Mundialização da produção;
•Telecomunicação;
•Desenvolvimento de protótipos;
•Atrativos oferecidos pelos países;
•Mercados.

Sociedade Global (SG)
•A circulação de informações, mercadorias e pessoas fez surgir a SG com valores globais.
•Padronização das formas de trabalho, da produção e do consumo.
•Globalização é seletiva (beneficia alguns e exclui outros).

Novas relações de trabalho
•Exigem cada vez mais criatividade e qualificação.
•As jornadas de trabalho e os salários estão mais flexíveis.

Centros de poder da economia global
•1970 / G-5 (E.U.A, Japão, Alemanha, França e Inglaterra) – detém as sedes das principais transnacionais.
•1988 / G-8 (05 + Itália, Canadá e Rússia).

A economia Global e o aumento do desemprego
•Trabalhadores sem qualificação são os mais prejudicados em qualquer setor da economia.
•Os trabalhos sem qualificação estão sendo substituídos por “máquinas inteligentes” ou robôs.
•Exigência: formação, qualificação, capacidade de pesquisar e de aprender continuamente.

“[...] não são apenas as inovações tecnológicas que podem gerar aumento do desemprego no mundo” As causas também podem ser:
Estruturais ou Conjunturais.

Desemprego Estrutural: “é resultante da modernização das estruturas produtivas e de trabalho, que ocorre com a mecanização e a automação nos processos de produção e com o aprimoramento dos processos de trabalho.”.
•Bancos, bombas de combustíveis, etc.

Desemprego Conjuntural: Uma situação temporária. “Quando um país enfrenta dificuldades econômicas, ocorre queda de produção industrial e agrícola, diminuição das vendas no comércio e na prestação de serviços”, consequência: eliminação de postos de trabalhos/desemprego.

Causas do Desemprego
ESTRUTURAL
1. Modernização das estruturas produtivas.
2. Substituição do homem pela máquina.
3. Redução definitiva dos postos de trabalho.
CONJUNTURAL
1. Crise econômica.
2. Redução temporária dos postos de trabalho.
3. Alguns postos de trabalho não voltam mais a existir.

Desemprego entre jovens
“O estudo Tendências Globais do Emprego para a Juventude 2004, da OIT, mostra que, enquanto a pop. de jovem cresceu cerca de 10,5% na década de 1990, chegando a cerca de 1,1 bilhão em 2003, o emprego de jovens cresceu somente 0,2% tendo havido um aumento aproximado de apenas 526 milhões de oportunidades de emprego.”
A globalização do capital e da produção permitiu expandir e consolidar a influência do poder das empresas TRANSNACIONAIS na economia global.


Transnacionais na economia global
•Estas empresas apresentam um poder tão grande que influenciam governos nacionais e condicionam as relações entre os países.
•O faturamento anual pode chegar a PIB de muitos países.
•A expansão e a consolidação das transnacionais ocorreram, principalmente, após a 2ª Guerra Mundial.
•Quando empresas que atuavam em países desenvolvidos, passaram a investir em alguns países subdesenvolvidos que ofereciam incentivos.
•Os países pobres tentam atrair os investimentos dessas empresas para possibilitar a criação de empregos.

4- Práticas Oligopolistas e monopolistas:

Monopólio é o nome dado a uma situação de concorrência imperfeita, na qual apenas uma empresa possui total controle do mercado. Praticar o monopólio é um ato ilegal e diversos países têm demonstrado sua posição contra este tipo de procedimento. No Brasil, por exemplo, possuímos o CADE, Conselho Administrativo de Defesa Econômica, que tem como uma de suas funções garantir a segurança do mercado, evitando que empresas dominem níveis exagerados de mercado. Apesar das medidas governamentais, várias empresas conseguem encontrar maneiras de driblar a legislação dos países em que estão instaladas. Atualmente, é muito mais comum outro tipo de monopólio: o oligopólio. Enquanto o primeiro é caracterizado por uma única empresa no controle do mercado, o segundo acontece quando um grupo de empresas faz manobras a fim de se posicionar no topo de seu segmento. As principais práticas monopolistas e oligopolistas são as seguintes:
As práticas oligopolistas e monopolistas estão intimamente ligadas à evolução do sistema capitalista. O Oligopólio pode ser definido sumariamente como uma pequena quantidade de vendedores para uma grande quantidade de compradores. Este por sua vez, apresenta-se de três diferentes maneiras conhecidas como  trustes, carteis e holdings. Por ser uma grande ameaça para a livre concorrência entre empresas de determinado setor são, geralmente, consideradas práticas condenáveis. Não obstante, são muito praticadas hoje em dia em vista à alta lucratividade que ocasionam aos seus praticantes.

Truste: (fusão e incorporação de empresas para dominar oferta de produtos ou serviços)
Pode assumir várias formas, mas em geral é constituído por conjuntos de empresas que eliminam as suas independências legais e econômicas para constituir uma única organização. A forma que prevalece é a de combinações financeiras, que permitem concentrar, nas mãos de uma pessoa ou de um grupo, as ações de outras empresas, em número suficiente para controlar as decisões nas assembleias de acionistas.
Os trustes, por sua vez, podem ser divididos de duas maneiras: Horizontais: consistem em uma união de empresas de mesmo setor como, por exemplo, uma fusão de bancos, ex. Real- Santander (banco).
Verticais: consistem em empresas que controlam as etapas de fabricação de determinado produto como uma empresa petrolífera que controla desde a retirada do petróleo até a sua distribuição em postos de gasolina.
No Brasil observamos alguns trustes. Entre eles podemos citar empresas conhecidas como a Companhia Vale do Rio Doce e a Petrobras. Um exemplo mais recente e fusão de empresas que culminou em um truste horizontal, foi a de duas gigantes do ramo frigorífico, a Sadia e a Perdigão que formou a Brasil Food. Por outro lado, uma boa exemplificação de truste vertical, é a rede mundial de fast-food McDonald.

Cartel: (associação ou combinação entre empresas, do mesmo segmento, para garantir o controle da produção e dos preços; administração). É formado por grupos de empresas independentes que produzem produtos semelhantes e fazem um acordo para dominar o mercado. Esse termo é, em geral, aplicado a organizações internacio­nais, como a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), entidade que controla grande parte do comércio mundial de petróleo.
Em geral, os cartéis têm quatro características: divisão territorial dos mercados, controle das matérias-primas, determinação do volume de produção e equiparação dos preços de venda. Na maior parte dos países, como no Brasil é proibida a formação de cartéis que operem internamente, mas sua atuação externa é tolerada ou até estimulada. Exemplo de cartel nos preços da gasolina, um exemplo é a equiparação dos preços da gasolina em postos de combustíveis, cuja prática é ilegal, mas é facilmente observada no país.

Holding: É a forma jurídica de disfarçar um cartel ou um truste. Um holding não produz nada, sua meta é controlar um conjunto de empresas. É definida como uma empresa que mantém o controle sobre outras, por possuir a maioria de suas ações. É considerado o estágio mais avançado de concentração capitalista. As transnacionais, em geral, controlam suas subsidiárias de diferentes países através de um holding instaladas no país de origem ou, muitas vezes, num paraíso fiscal.
Esta é considerada a mais evoluída prática para crescimento de uma empresa, e também corresponde a uma técnica nociva de monopólio, apesar de não ser ilegal. O holding acontece quando uma empresa é criada na intenção de gerenciar outras empresas em atividade. Exemplos de holding é o Grupo Silvio Santos (responsável por empresas como o Banco Pan-americano, o SBT e a Vimave Veículos) e o Grupo Pão de Açúcar (que opera lojas sob as bandeiras Pão de Açúcar, Casas Bahia, Extra Hipermercados e Ponto Frio). O holding pode, em determinados momentos, funcionar como um truste, pois várias empresas importantes no mercado se colocam sob uma única administração.
Atualmente, no Brasil, a formação de cartéis e trustes foi proibida por lei, mas alguns setores ainda continuam formando os cartéis para padronizar o preço dos mesmos produtos, evitando a concorrência. O governo brasileiro criou um órgão do Ministério da Justiça, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica, para evitar a formação dos trustes. Já os holdings continuam como prática efetiva nas bolsas de valores, que controlam os mercados das ações das empresas.

5- A crise econômica internacional e o Brasil

O Brasil tem vivido, nos últimos anos, a feliz combinação de avanços econômicos e progresso social, em uma escala de que não se tem memória em muitas gerações.
Se não foram espetaculares na comparação com os competidores usuais China e Índia, o crescimento da economia nos deixou em situação vantajosa no que se refere, por exemplo, ao emprego: ao contrário dos ‘rivais’, crescemos no mesmo ritmo que nossos empregos e apoiados em prodigiosa expansão do mercado interno, por sua vez ineditamente abastecido por políticas sociais em sentido amplo.
O inglês Richard Titmuss (1907-1973), fundador do campo teórico do Estado de bem-estar, descreveria nosso experimento recente como uma instância do “crescimento social” com que sonhava.
Não que os problemas remanescentes de crescimento social insuficiente tenham sido eliminados: longe disso. Ainda assim, enquanto a minha geração (a geração do ‘milagre’) cresceu embalada na esperança do crescimento econômico, a nova geração parece energizada pela queda da desigualdade e pelo desenvolvimento humano, aspirações mais exigentes, que serão muito provavelmente referências na formação de suas preferências políticas.
Contudo, o Brasil, assim como o homem, não é uma ilha. Desde 2008, o mundo desenvolvido sofre as consequências de uma crise financeira com epicentro nos Estados Unidos e que, como um rastilho, se espalhou pelas economias europeias e, em menor medida, pelas emergentes, agora globalizadas.
É bem verdade que não se pode generalizar a crise para toda a Europa não periférica, pois o estado de bem-estar tem se expandido, em combinação virtuosa com o crescimento econômico, no tradicional modelo de crescimento social da Escandinávia.
Nos Estados Unidos e em vários países da zona do euro, porém, a crise financeira se converteu em crise fiscal e, nessa qualidade, vem consumindo empregos, escolas, clínicas, proteção social, além de aumentar a pobreza e a desigualdade e gerar insegurança.
A principal causa da atual crise econômica internacional é a ruptura do sistema de financiamento de imóveis nos Estados Unidos em 2007 e 2008. Naquele país, houve ampla oferta de financiamento para a compra de imóveis, inclusive para aqueles sem poupança ou renda adequadas (crédito subprimes, ou grande risco de crédito). A onda de inadimplência – calote – levou à queda dos preços dos imóveis (38% entre junho de 2006 e junho de 2011) e à quebra de parte do sistema financeiro da maior economia do mundo em 2008 e 2009.
A crise atual na Europa é marcada pela grande dificuldade que governos de países como Grécia, Portugal e Irlanda enfrentam para pagar sua dívida pública e obter novos empréstimos. Em geral, a crise fiscal é precedida por crescimento extraordinário dos gastos públicos, seja para financiar infraestrutura (como as obras das Olimpíadas em Atenas, na Grécia, em 2004), seja para enfrentar crises financeiras e crises reais (o que ocorreu a partir de 2008).
Os países em desenvolvimento sofrem, em particular, crise cambial. Nesse caso, ocorre o problema de dificuldade de obtenção de financiamento externo, que provoca elevação extraordinária da taxa de câmbio (desvalorizando a moeda nacional). Isso ocorreu no Brasil no segundo semestre de 2008, logo após a eclosão da crise financeira nos Estados Unidos: a taxa de câmbio (valor do dólar) saltou de R$ 1,70 em julho para mais de R$ 2,50 em dezembro. Em consequência, grandes empresas (Sadia e Aracruz) e bancos (Unibanco e Votorantim) tiveram sérios problemas, que resultaram em fusões e aquisições. As crises cambial e financeira provocaram crise real, visto que a renda per capita brasileira caiu 1,8% em 2009.
Nos países desenvolvidos, a situação atual é de séria crise econômica. Na Europa, há desaceleração do crescimento da renda e, portanto, risco de crise real ainda maior no futuro próximo. Os índices de desemprego estão muito elevados em inúmeros países. Há séria crise fiscal com altos níveis de endividamento público. Há ainda riscos quanto à saúde do sistema financeiro: os bancos estão muitos expostos, porque emprestaram muito para indivíduos, empresas e governos que agora estão com dificuldades para saldar seus compromissos.
Nos países emergentes, a situação é bastante diferente, embora existam fatores comuns, como os riscos decorrentes da desaceleração do comércio internacional e da volatilidade dos fluxos financeiros internacionais. Países como a China, por um lado, se protegem com elevados níveis de competitividade internacional e baixa dependência em relação a recursos financeiros externos. No Brasil, por outro, esses riscos são particularmente elevados, porque o país depende significativamente da exportação de produtos básicos (minério de ferro, carne, soja e outros) e da captação de recursos externos para sustentar seu crescente e elevado déficit nas contas externas (as transações comerciais, de serviços e financeiras com os outros países). Ou seja, a despesa do Brasil com moedas estrangeiras é maior que suas receitas.
Em 2010, o país precisou captar US$ 48 bilhões para fechar suas contas externas. Em 2012, esse ‘buraco’ superou US$ 55 bilhões. Portanto, há crescente risco de crise cambial, que tende a causar crises financeira, real e fiscal.
A atual crise na economia mundial trouxe sérios problemas para as nações mais desenvolvidas, mas os países emergentes, entre eles o Brasil, têm resistido aos seus efeitos, o que levou alguns analistas a imaginar a possibilidade de um reordenamento na hierarquia econômica mundial.
Embora a situação brasileira não seja brilhante, os recursos de que o país dispõe e a reorientação da política econômica iniciada no atual governo induz uma perspectiva otimista, mas cautelosa, quanto ao futuro.
Em suma, a situação brasileira atual dá margem a um cuidadoso otimismo, não só pelos recursos de que o país dispõe, mas, e talvez principalmente, pela muito esperada reorientação de política econômica que começou a ocorrer, ainda que muito à base de tentativas, no governo Dilma Rousseff. O otimismo é cuidadoso porque se deixou que desequilíbrios se acumulassem em demasia, tornando mais difícil sua solução tanto tempo depois do jogo começado, e a situação externa continua extremamente volátil e perigosa – mesmo assim, é otimismo. O Brasil é um dos poucos países do mundo que têm o recurso de se apoiar no mercado interno para sustentar seu nível de atividades.

Mas uma política econômica adequada é imprescindível para que esse recurso não seja simplesmente dissipado, contudo o Banco Mundial prevê para o Brasil, um de crescimento de 2,4% em 2014, ante 2,2% estimados para o ano passado de 2013. Os mercados emergentes cresceram no ritmo mais lento em uma década nos últimos dois anos, depois de conseguirem taxas de crescimento de cerca de 7,5% antes da crise financeira global em 2008.

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