Geografia da Amizade

Geografia da Amizade

Amizade...Amor:
Uma gota suave que tomba
No cálice da vida
Para diminuir seu amargor...
Amizade é um rasto de Deus
Nas praias dos homens;
Um lampejo do eterno
Riscando as trevas do tempo.
Sem o calor humano do amigo
A vida seria um deserto.
Amigo é alguém sempre perto,
Alguém presente,
Mesmo, quando longe, geograficamente.
Amigo é uma Segunda eucaristia,
Um Deus-conosco, bem gente,
Não em fragmentos de pão,
Mas no mistério de dois corações
Permutando sintonia
Num dueto de gratidão.
Na geografia
da amizade,
Do amor,
Até hoje não descobri
Se o amigo é luz, estrela,
Ou perfume de flor.
Sei apenas, com precisão,
Que ele torna mais rica e mais bela
A vida se faz canção!

"Roque Schneider"



Quem sou eu

Salvador, Bahia, Brazil
Especialista em Turismo e Hospitalidade, Geógrafa, soteropolitana, professora.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Migrações no Brasil

Migrações Externas
A imigração no Brasil pode ser dividida em três períodos principais
1) O primeiro período (de 1808 a 1850) foi marcado pela chegada da família real, em 1808, o que ocasionou a vinda dos primeiros casais de imigrantes açorianos para serem proprietários de terras no país. Devido ao receio do europeu de fixar-se num país de economia colonial e escravocrata, nesse período houve uma imigração muito pequena.
2) O segundo período (de 1850 a 1930) foi marcado pela proibição do tráfico de escravos. Foi à época mais importante para a nossa imigração, devido ao grande crescimento da atividade monocultora (café) e aos incentivos governamentais dados ao imigrante. Em 1888, com a abolição da escravidão, estimulou-se ainda mais o fluxo imigratório, tendo o Brasil recebido, nessa época, praticamente 80% dos imigrantes entrados no país.
3) O terceiro período (de 1930 até os dias de hoje) é caracterizado por uma sensível redução na imigração, devido, inicialmente, à crise econômica de 1929, ocasionada pela quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, com o consequente abalo da cafeicultura brasileira. Além disso, contribuiu também a crise política interna no país, decorrente da Revolução de 1930, e a criação de uma lei sobre imigração, através da Constituição de 1934. Essa lei restringia a entrada de imigrantes, estipulando que, anualmente não poderia entrar no país mais que 2% do total de imigrantes de cada nacionalidade entrados nos últimos 50 anos. Determinava ainda que 80% dos imigrantes deveriam dedicar-se à agricultura.

PRINCIPAIS GRUPOS DE IMIGRANTES:
a) Os PORTUGUESES representam o maior contingente de imigrantes entrados no Brasil. Calcula-se que devam viver atualmente, no país, 213.203 portugueses, concentrados nos grandes centros urbanos, com destaque especial para o Rio de Janeiro e São Paulo.
b) Os primeiros ITALIANOS chegaram ao Brasil em 1875, estabelecendo-se no Rio Grande do Sul, na região serrana e também em Santa Catarina, onde o clima era mais ameno, assemelhando-se um pouco com as regiões de onde vieram. Logo após essa época, São Paulo tornou-se o maior polo receptor de italianos, que inicialmente se encaminharam para as zonas cafeicultoras do interior. Em pouco tempo, entretanto, acabaram por migrar para a capital, vindo a se constituir em importante mão-de-obra para a indústria que então se iniciava. Os italianos deixaram suas marcas em cidades e bairros, influenciando hábitos alimentares e linguísticos das regiões onde se estabeleceram.
c) As primeiras levas de imigrantes ALEMÃES chegaram em 1824 e, desde então, deram preferência à região Sul do Brasil, onde fundaram a colônia de São Leopoldo (RS). A partir de 1850, foram se instalando em Santa Catarina, sobretudo no vale do Itajaí, onde surgiram Brusque, Joinville e Blumenau, cidades de marcantes características alemãs. Atualmente, a cidade de São Paulo e, sobretudo em Santo Amaro, e os três estados sulinos abrigam quase a totalidade dos imigrantes alemães e seus descendentes brasileiros.
d) A imigração JAPONESA teve início em 1908, quando aportou no Brasil o navio Kasato Maru, com 165 famílias a bordo. Estabeleceram-se inicialmente em São Paulo e depois no Pará, onde se desenvolve importante núcleo produtor de pimenta-do-reino. Na cidade de São Paulo, foram se concentrando no bairro da Liberdade, que adquiriu características de sua cultura, perceptíveis principalmente nas ruas e cartazes. 

Emigrações de brasileiros
De acordo com estimativas divulgadas em 2011 pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil (Itamaraty), em 2010, cerca de 3,1 milhões de brasileiros viviam fora do país. Apesar de grande parte desses emigrantes terem formação profissional, na maioria das vezes exercem tarefas de baixa qualificação nos países onde residem.
O Brasil, hoje em dia é um país de emigração. Os primeiros movimentos de saída de grande proporção foram registrados na década de 1970, com a emigração, para o Paraguai, de sulistas que venderam as suas terras ou perderam os seus empregos. Hoje em dia esse emigrantes, que são conhecidos como "brasiguaios", representam cerca de 5% da população desse país.
A partir de 1980, milhares de brasileiros de ascendência japonesa foram atraídos por ofertas de trabalho no Japão. Muitos tinham formação superior e foram pro Japão pra exercer serviços de baixa remuneração e de baixa qualificação para o padrão japonês. Esses são conhecidos como "dekasseguis". Antes do governo japonês tomar a iniciativa da mão-de-obra de descendentes japoneses, cerca de 2 mil brasileiros viviam no Japão. Hoje em dia, são mais de 200 mil.
Nos Estados Unidos, o emigrante brasileiro é chamado de "brazuca". A maioria trabalha em serviços de baixa remuneração. São babás, faxineiros, engraxates, balconistas e etc.
Alemanha, Portugal e Itália abrigam, juntos, cerca de 150 mil brasileiros. Nesses três países vivem 60% dos emigrantes brasileiros que estão na Europa.

As migrações internas
No período colonial, as migrações internas acompanharam os sucessivos ciclos de desenvolvimento da economia regional, relacionados à agricultura de exportação, à criação bovina ou à extração mineral. A cana-de-açúcar, por exemplo, estimulou o desenvolvimento do Nordeste no início da colonização; a criação de gado contribuiu para a ocupação do Sul do país e de áreas mais afastadas do litoral; e a mineração atraiu migrantes para Minas Gerais e a região central do Brasil.
As migrações internas também foram influenciadas pelo curto ciclo da borracha, na Amazônia (1870-1912); pelo cultivo do café - que marcou a economia brasileira entre o fim do século XIX e as primeiras décadas do século XX - e pelo crescimento industrial, no Sudeste (especialmente no estado de São Paulo), que se intensificou a partir da Segunda Guerra Mundial. A partir da década de 1970, devido à expansão da atividade agrícola no Centro-Oeste e à política de ocupação da Amazônia, essas regiões transformaram-se em novos polos de atração populacional.
A partir da década de 1930, os deslocamentos internos da população brasileira tornaram-se mais expressivos, promovendo uma ampla redistribuição de pessoas pelas regiões. A Lei de Cotas, que restringiu a entrada de estrangeiros, a industrialização e o desenvolvimento urbano da atual região Sudeste marcaram a estruturação de um intenso fluxo interno da população em direção a essa região, principalmente do Nordeste do país.
Após a década de 1950, milhões de nordestinos migraram preferencialmente para o eixo Rio-São Paulo. Secas prolongadas, alto índice de pobreza e miséria, falta de emprego e más condições de vida, associados ao grande desenvolvimento desses estados, eram os principais fatores que motivaram esse fluxo de migrantes.
Em busca de trabalho e melhores condições de vida, essa mão de obra barata foi absorvida por diversos setores (metalurgia, indústria de peças e automóveis, construção civil, empregos domésticos) e desempenhou papel importante no crescimento econômico e na urbanização da região Sudeste.
Essa migração da atual região Nordeste para o Sudeste (inter-regional) foi acompanhada da migração do campo para a cidade. Foi justamente na década de 1960 que a população urbana superou a população rural no Brasil. As dificuldades de manutenção da agricultura de subsistência e a concentração fundiária são alguns dos fatores que explicam a aceleração dos movimentos populacionais em direção às cidades. Outros aspectos que explicam os fluxos migratórios do campo para a cidade são a mecanização do campo, o desenvolvimento urbano-industrial, a maior facilidade de acesso aos serviços sociais nas cidades e as maiores oportunidades de emprego e de melhoria das condições de vida nas cidades.
Atualmente, as atividades econômicas tornaram-se mais diversificadas em todas as regiões. Além disso, a "guerra fiscal" travada entre os estados, que lançam mão de isenções de impostos para atrair empresas, leva a uma relativa desconcentração industrial. Esse processo tem alterado a dinâmica do fluxo populacional, caracterizado pelo crescimento das cidades médias em um ritmo superior ao das metrópoles do Sudeste.
Com relação à migração entre as regiões, o censo de 2010 (IBGE), registrou poucas alterações em comparação com a pesquisa realizada em 2000. O Sudeste ainda continua como o principal destino dos movimentos migratórios, particularmente o estado de São Paulo, cuja atividade agrícola desponta atualmente como um fator de atração muito importante. Porém, essa região vem diminuindo o seu crescimento populacional, sendo a segunda região que teve o menor crescimento na última década. O Centro-Oeste, em razão da ampliação das fronteiras agrícolas e por sediar o Distrito Federal, é a segunda região que mais atrai imigrantes no Brasil e é também a que teve o segundo maior crescimento populacional do Brasil.
O Nordeste permanece como o principal polo de emigração, constituindo a única região que registrou o volume de saída da população superior ao de entrada. No entanto, sobretudo a partir dos anos 1990, é marcante o fluxo de pessoas para a região. Em sua maioria, referem-se a nordestinos que, devido às dificuldades encontradas no Sudeste, retornam ao seu local de origem. Outra tendência que vem se verificando nos fluxos migratórios internos é o deslocamento de pessoas das grandes para as médias cidades. A região Sul praticamente manteve equilibrado o fluxo de entradas e saídas de população. No censo do IBGE 2010, constatou-se, também, que a região Norte é a região do país que teve o maior crescimento populacional.
As maiores entradas anuais de imigrantes ocorreram no período que se estende de 1988 até 1914 -1918, anos da Primeira Guerra Mundial. O total de imigrantes que entraram no Brasil de 1850 até 2000 foi superior a 5 milhões; aproximadamente 3 milhões fixaram-se aqui e os 2 milhões restantes deixaram o país.
A imigração foi muito forte no período de 1850 até 1934, mas hoje em dia ela se tornou muito menor, menor até que a emigração. As migrações internas ocorreram durante toda a nossa história, mas assumiram maior importância após 1934, com o declínio da imigração e uma maior integração entre as diversas regiões do país. As migrações nas grandes cidades vêm aumentando muito desde a década de 1950, acompanhando o aumento da urbanização.
O centro-sul esta emitindo mais imigrantes, e o centro-oeste e a Amazônia estão recebendo.

Migração nordestina e êxodo rural
As migrações internas também sempre foram muito intensas, como por exemplo, a de habitantes do Nordeste que migraram em massa para o Centro-Sul do Brasil com o declínio da cana de açúcar e o desenvolvimento da mineração, ou a de nordestinos que migraram para a Amazônia no chamado “boom da borracha" no final do século XIX.
Com a industrialização nas décadas de 60 e 70, passamos a viver de forma mais intensa migrações internas no território nacional, como a de nordestinos em direção das grandes metrópoles brasileiras, Rio e São Paulo, e o intenso êxodo rural, que fez o Brasil se tornar um país predominantemente urbano em um espaço de menos de 30 anos. Na década de 70 os fluxos migratórios se direcionaram para a Amazônia, fruto da política de ocupação do território nacional imposta pelos militares, chamada "integrar para não entregar".
Atualmente, as antigas metrópoles industriais não são mais os locais preferidos por migrantes, por conta do processo de desconcentração industrial, novas áreas do país passam a ser polo de atração desses cidadãos, como o interior de S. Paulo, do Paraná, etc. As migrações continuam a ser muito comuns no Brasil, tanto do campo para a cidade, assim como as urbano-urbano. São comuns também nas grandes metrópoles brasileiras, as migrações pendulares, assim como a migração sazonal em regiões como o Nordeste.
Êxodo Rural: Podemos definir êxodo rural como sendo o deslocamento de pessoas da zona rural (campo) para a zona urbana (cidades). Ele ocorre quando os habitantes do campo visam obter condições de vida melhor. 
Os principais motivos que fazem com que grandes quantidades de habitantes saiam da zona rural para as grandes cidades são: busca de empregos com boa remuneração, mecanização da produção rural, fuga de desastres naturais (secas, enchentes, etc.), qualidade de ensino e necessidade de infraestrutura e serviços (hospitais, transportes, educação, etc.).
O êxodo rural provoca, na maioria das vezes, problemas sociais. Cidades que recebem grande quantidade de migrantes, muitas vezes, não estão preparadas para tal fenômeno. Os empregos não são suficientes e muitos migrantes partem para o mercado de trabalho informal e passam a residir em habitações sem boas condições (favelas, cortiços, etc.). 
Além do desemprego, o êxodo rural descontrolado causa outros problemas nas grandes cidades. Ele aumenta em grandes proporções a população nos bairros de periferia das grandes cidades. Como são bairros carentes em hospitais e escolas, a população destes locais acaba sofrendo com o atendimento destes serviços. Escolas com excesso de alunos por sala de aula e hospitais superlotados são as consequências deste fato.
Êxodo Urbano: tipo de migração que se dá com a transferência de populações urbanas para o espaço rural. Hoje em dia é um tipo de migração muito incomum.
Migração urbano-urbano: tipo de migração, que se dá com a transferência de populações de uma cidade para outra. Tipo de migração muito comum nos dias atuais.
Migração sazonal: tipo de migração que se caracteriza por estarem ligadas as estações do ano. É uma migração temporária onde o migrante sai de um determinado local em um determinado período do ano, e posteriormente volta, em outro período do ano, é a chamada transumância. É o que acontece, por exemplo, com os sertanejos do Nordeste brasileiro.
Migração diária ou pendular: tipo de migração característico de grandes cidades, no qual milhões de trabalhadores saem todas as manhãs de sua casa em direção do seu trabalho, e retornam no final do dia. Os momentos de maior aglomeração de pessoas são chamados de rush. Isso se dá em virtude da periferização dos trabalhadores que muitas vezes moram a vários quilômetros de distância de seu trabalho, em alguns casos até mesmo em outras cidades que passam a ser chamadas de cidades dormitório.

Migração e preconceito
As migrações, apesar de serem fundamentais na história de todos os povos, promovendo desenvolvimento e intercambio cultural, muitas vezes são a causa de conflitos. Isso ocorre tanto em migrações externas como também nas internas.
No Brasil, sobretudo na região Sudeste e também na Sul, costuma-se difundir uma visão equivocada de que a grande concentração de nordestinos nessas regiões seria a causa de problemas sociais dos grandes centros urbanos, como, por exemplo, a violência e o desemprego.
A intolerância aos migrantes muitas vezes pode levar a ações violentas. Preconceitos de cunho social e racial acompanharam a migração nordestina no centro-sul do país. Em decorrência de sua pobreza material original e das condições pouco favoráveis encontradas no destino, restou aos migrantes nordestinos ocupar as áreas pobres e de periferia dos centros urbanos. A partir da década de 1950, a falta de moradias e os aluguéis caros obrigavam os migrantes a ocuparem áreas periféricas, onde adquiriam lotes à prestação e erguiam moradias com as próprias mãos e com recursos próprios.
Os nordestinos que chegaram ao pós-guerra encontraram um ambiente bem menos favorável à ascensão social que os imigrantes europeus que chegaram a São Paulo no início do século XX. Quando a migração nordestina aumentou, as fronteiras da sociedade industrial já estavam devidamente marcadas e as oportunidades de mobilidade já eram mais restritas. Os imigrantes europeus em São Paulo já haviam ocupado os cargos qualificados e semi qualificados dos postos de trabalho, restando aos nordestinos às profissões subalternas e não qualificadas.
Do ponto de vista racial, a maioria dos migrantes nordestinos que chegavam eram mulatos ou mestiços acaboclados, de estatura baixa, pobres e analfabetos, ou semianalfabetos. Em um país como o Brasil onde, até os dias atuais, o padrão branco europeu é o mais valorizado, a presença maciça de nordestinos pobres e mestiços em São Paulo faz com que esse grupo seja percebido como o responsável pela pobreza, violência, pelo desemprego e pela degradação das condições de vida na cidade.
O sociólogo Antônio Sérgio Guimarães compara o racismo antinordestino em São Paulo à xenofobia contra imigrantes existente atualmente na Europa. Em pesquisa em bairros de classe-média baixa de tradicional imigração europeia da capital paulista, o sociólogo se deparou com a naturalidade com que os "nativos", muitos deles descendentes de europeus, expressavam seu preconceito contra nordestinos, os quais são chamados invariavelmente de "baianos", mesmo que sejam de outros estados do Nordeste.
Um caso que ganhou repercussão na mídia brasileira foi da estudante de direito Mayara Petruso. Em 2010, após a eleição de Dilma Rousseff como presidente, que obteve maioria dos votos no Nordeste, Petruso publicou a seguinte mensagem em uma rede social: “Nordestino não é gente. Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado”. Processada, foi condenada pela Justiça Federal de São Paulo a uma pena de um ano, 5 meses e 15 dias de prisão, que foi convertida em prestação de serviços comunitários e pagamento de multa.

FONTE: Lucci, Elian Alabi. Território e sociedade no mundo globalizado: geografia: ensino médio, volume 3 / Elian Alabi Lucci, Anselmo Lázaro Branco, Cláudio Mendonça. – 2ª. ed. - São Paulo: Saraiva, 2013.

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