O lixo
resultante da ação humana não polui somente terra, ar e oceanos. Desde que o
primeiro satélite artificial entrou em órbita, há mais de meio século, os
detritos espaciais acumulados em órbita do planeta se tornaram um problema para
a vida na Terra.
Estima-se
que mais de 19 mil objetos maiores de dez centímetros, além de outros 500 mil
menores, compõem uma nuvem de lixo espacial ao redor da Terra. Eles provêm de
foguetes e satélites desativados, fragmentos de naves e até ferramentas usadas
por astronautas.
Os
riscos de um destes objetos cair na Terra e atingir uma pessoa são remotos.
Porém, os detritos podem colidir com satélites em operação e missões
tripuladas, prejudicando a exploração do espaço.
Segundo
a Nasa (agência espacial dos Estados Unidos), cerca de 200 entram na atmosfera
terrestre todos os anos e se desintegram após entrar em combustão. Alguns, no
entanto, podem atingir o planeta. Foi o que aconteceu no dia 24 de setembro,
quando restos de um satélite desativado caíram no Oceano Pacífico.
O UARS
(Satélite de Pesquisa de Alta Atmosfera, na sigla em inglês) foi lançado em
1991, pelo ônibus espacial Discovery, com a missão de estudar a camada de
ozônio. Ele foi “aposentado” em 2005, após ficar sem combustível. O satélite
tinha o tamanho de um ônibus e pesava seis toneladas, sendo o maior a retornar
à Terra em três décadas.
Na
reentrada da atmosfera, o UARS se esfacelou. Mesmo assim, cerca de 500 kg de
peças chegaram até o oceano.
Os
cientistas haviam avisado que as chances de fragmentos atingirem áreas povoadas
eram remotas. A razão disso é que 70% do planeta é coberto de água, sem contar
as regiões desérticas.
De
acordo com a Nasa, não há registros de ferimentos causados pela queda de detritos
vindos do espaço. O único caso conhecido de uma pessoa atingida por entulho
espacial aconteceu em 1997. A americana Lottie Williams foi alvejada no ombro
por um pedaço de foguete, sem sofrer ferimentos.
O lixo
espacial é produto do avanço tecnológico. Satélites de telecomunicações,
mapeamento por GPS e previsão meteorológica possuem um tempo de vida útil que
pode ser de até uma década. Após serem desligados, são deixados em órbita,
devido ao alto custo de resgatá-los para governos e empresas. Tornam-se
“ferro-velho” no espaço.
No
começo do mês, um relatório do Conselho Nacional de Pesquisa alertou para os
perigos do aumento de detritos, o que poderia danificar espaçonaves e satélites
em funcionamento.
Acidentes
Apesar
de nenhuma tragédia ter acontecido, incidentes ocorrem com certa regularidade.
Em 1996, o satélite militar francês Cerise foi praticamente destruído por um
pedaço de metal proveniente de um foguete lançado dez anos antes. Ônibus
espaciais e até o telescópio Hubble já sofreram reparos por conta do problema.
Em
2009, o satélite russo Cosmos-2251, lançado em 1993 e, na época, desativado,
colidiu com o satélite de comunicações americano Iridium 33. Foi a primeira
maior colisão de satélites artificiais na órbita terrestre. Vários detritos foram
gerados pelo choque, que destruiu o satélite russo.
No caso
mais recente, em junho deste ano, seis astronautas foram obrigados a abandonar
a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) em razão de um
alerta de colisão com entulhos.
O pior
cenário é a chamada Síndrome de Kessler. Segundo o consultor da Nasa, Donald J.
Kessler, a colisão de detritos poderia causar uma reação em cadeia – uma peça
fragmentando a outra em pedaços menores –, formando um cinturão de lixo que
inviabilizaria a exploração espacial.
Hoje
não existe nenhuma tecnologia que permita a “limpeza” do espaço. Os custos de
uma operação de remoção dos materiais são muito altos. Além disso, há questões
políticas, envolvendo propriedade e a responsabilidade de governos e empresas
que colocam os aparelhos em órbita.
Em
2007, os chineses desenvolveram um satélite que destruiria outros, desativados,
mas a experiência foi um fracasso: um deles se desintegrou em dois mil pedaços,
agravando o problema.
Recentemente,
cientistas propuseram o lançamento de um satélite que acoplaria motores
propulsores aos resíduos para que eles fossem levados até a atmosfera, onde se
desintegrariam. Outras propostas incluem redes metálicas gigantes, canhões
lasers e fios condutores de cobre inseridos em satélites para que pudessem ser
atraídos pelo campo magnético da Terra.
Mas
talvez a maneira mais simples seja a programação para que os dispositivos, uma
vez obsoletos, sigam as chamadas “órbitas-cemitérios”, permanecendo à deriva
num espaço seguro, longe do planeta.
O
Brasil, que possui satélites de comunicações e científicos em órbita, também
tem sua parcela de responsabilidade pelo lixo espacial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário