Variações
climáticas como o El Niño e La Niña têm impacto sobre conflitos nas regiões
afetadas por estes fenômenos, que correm o risco de se agravar com a emissão de
gases da era industrial, afirma um estudo publicado na revista Nature.
Os
países tropicais, que sofrem com tempestades causadas pelo fenômeno El Niño,
são duas vezes mais suscetíveis a terem conflitos internos do que países
afetados pelo La Niña, mais úmida e menos quente.
A fome,
que dobrou na Somália por causa de uma guerra civil e castiga o Chifre da
África, é um exemplo dos efeitos das variações do clima, que intensificam a
seca e as tensões de sociedades já fragilizadas, segundo os autores da
pesquisa. Eles acrescentam que estes riscos aumentarão com o aquecimento global
causado pela emissão de gases estufa.
"O
estudo mostra inegavelmente que, mesmo no nosso mundo moderno, as variações
climáticas têm impacto sobre a propensão das pessoas à violência", explica
Mark Cane, pesquisador do clima do Observatório da Terra Lamont-Doherty da
Universidade de Columbia, em Nova York.
Conhecido
pela sigla ENSO (El Niño-Southern Oscillation), o fenômeno atinge o Hemisfério
Sul e é um ciclo que aparece a cada dois ou sete anos e dura entre nove meses e
dois anos, provocando fortes perdas na agricultura, pesca e extrativismo
florestal.
O
fenômeno decorre do acúmulo de massas d'água quente na parte ocidental do
Pacífico tropical e atravessa o oceano. Pode provocar modificações drásticas
nos ciclos de chuvas e nas temperaturas, gerando ondas de calor, ventos secos e
violentos na África, parte sul da Ásia e sudoeste da Austrália.
Já o
ciclo inverso, o La Niña, causado por um resfriamento das massas de água na
parte oriental do Pacífico, favorece fortes chuvas nessas regiões.
Os
autores do estudo examinaram os dois fenômenos climáticos no período de 1950 a
2004 e os cruzaram com as informações sobre conflitos internos que causaram no
mínimo 25 mortos por ano durante o mesmo período.
Cento e
setenta e cinco países e 234 conflitos, dos quais mais da metade matou mais de
mil mortos nos confrontos, também foram analisados.
Durante
o período de observação do La Niña, a probabilidade de um conflito acontecer
era de 3%, enquanto durante o El Niño esta porcentagem subia para 6%, o dobro
segundo o estudo. E o risco de um conflito em países que não são afetados por
nenhum dos dois fenômenos era de 2%.
Segundo
os pesquisadores, o El Niño pode ter tido influenciado 21% dos casos de guerras
civis pelo mundo, uma cifra que chega a 30% nos países especialmente afetados
pelo fenômeno.
Solomon
Hsiang, principal pesquisador do estudo, afirmou que o El Niño é um fator
invisível, mas que provoca perdas nas colheitas, favorece as epidemias após as
tempestades, intensifica a fome, o desemprego e as desigualdades que, por sua
vez, alimentam a discórdia e o descontentamento.
Outros
fatores que podem influenciar no nível de risco de uma guerra civil são o
crescimento demográfico, a prosperidade e a capacidade de os governos
controlarem os eventos ligados ao El Niño.
Segundo
Hsiang, a crise atual na Somália, que não foi incluída no estudo, é um
"exemplo perfeito" das consequências indiretas do El Niño.
Nenhum comentário:
Postar um comentário