No
domingo, os membros da Organização Mundial de Comércio (OMC) chegaram a um
acordo que evitou uma crise no encontro da instituição em Hong Kong. Mas o
preço desse acordo foi o adiamento para o ano que vem das negociações mais
difíceis da problemática Rodada Doha.
Ministros
de 149 países membros aprovaram com relutância um texto de declaração
ministerial, elaborado depois de cinco dias de negociações árduas que não
conseguiram resolver as profundas divergências entre eles.
O
acordo estabelece que 2013 é o prazo para se resolver a questão dos subsídios à
exportação de produtos agropecuários, oferece ajuda para as exportações dos
países mais pobres do mundo e traz algum alívio para os aflitos cotonicultores
africanos.
Chegou-se
a um acordo após ter sido obtido o apoio de um grupo de países em
desenvolvimento liderado pelo Brasil e pela Índia.
"Conseguimos
trazer a rodada de volta para a sua rota original", disse Pascal Lamy,
diretor-geral da OMC. Segundo ele, concluíram-se 60% das negociações. E ele
disse ainda que, atualmente, está mais confiante do que um mês atrás quanto às
perspectivas de se chegar a um acordo final, embora ainda não esteja certo de
que haverá sucesso.
Charles
Grassley, presidente do poderoso Comitê de Finanças do Senado dos Estados
Unidos, disse que o Congresso norte-americano dificilmente aprovará um acordo
de Doha, a menos que se obtenha mais progresso nos próximos meses. "Com
relação às questões mais difíceis, o encontro de Hong Kong simplesmente chutou
a lata para fora da estrada", criticou.
Embora
os ministros tenham chegado a acordos quanto a disputas acirradas, nenhum deles
renunciou a posições tradicionalmente adotadas nas negociações. A declaração
final, cujo objetivo é fornecer diretrizes para o próximo estágio de
negociações, continha várias determinações vagas e ambigüidades.
A
principal realização do encontro foi um pacote de medidas comerciais e de auxílio,
cuja intenção é ajudar os países mais pobres, muitos dos quais relutavam em
apoiar a Rodada Doha. Além do incremento de auxílio técnico, as nações ricas
concordaram em abolir a maior parte das restrições sobre as importações de
produtos de países menos desenvolvidos.
No
entanto, os Estados Unidos se recusaram a eliminar as tarifas sobre as
importações de têxteis de Bangladesh e do Camboja, afirmando que esses países
são muito competitivos. Washington também rechaçou as demandas para que elimine
rapidamente os subsídios anuais de mais de US$ 4 bilhões aos seus
cotonicultores, algo que, segundo os países do oeste da África, está levando os
seus produtores de algodão à falência.
Em vez
disso, o governo norte-americano prometeu apenas manter conversações com os
países africanos no sentido de promover nos seus subsídios ao algodão cortes
mais rápidos e profundos do que nos de outros produtos agrícolas que estão
sendo objeto de negociação na rodada.
Sob a
intensa pressão de Estados Unidos, Austrália, Brasil e a maior parte dos países
em desenvolvimento, a União Européia (UE) aceitou relutantemente o prazo de
2013 para eliminar todos os subsídios à exportação de produtos agrícolas, e concordou
em promover reduções "substanciais" até o final de 2010.
Mariann
Fischer Boel, comissária da agricultura, afirmou estar feliz com o prazo de
2013, já que a UE planejava eliminar, até lá, a maior parte dos seus subsídios
às exportações. No entanto, ela frisou que Bruxelas rejeitaria
no âmbito da OMC um prazo para reduções que implicassem em maiores reformas no
setor agropecuário da UE.
Celso
Amorim, ministro brasileiro das Relações Exteriores e líder do influente Grupo
dos 20 países em desenvolvimento exportadores de produtos agropecuários,
afirmou que os resultados da reunião foram "modestos, mas não
insignificantes".
Guy de
Jonquières e Frances Williams
Financial
Times
Nenhum comentário:
Postar um comentário