Geografia da Amizade

Geografia da Amizade

Amizade...Amor:
Uma gota suave que tomba
No cálice da vida
Para diminuir seu amargor...
Amizade é um rasto de Deus
Nas praias dos homens;
Um lampejo do eterno
Riscando as trevas do tempo.
Sem o calor humano do amigo
A vida seria um deserto.
Amigo é alguém sempre perto,
Alguém presente,
Mesmo, quando longe, geograficamente.
Amigo é uma Segunda eucaristia,
Um Deus-conosco, bem gente,
Não em fragmentos de pão,
Mas no mistério de dois corações
Permutando sintonia
Num dueto de gratidão.
Na geografia
da amizade,
Do amor,
Até hoje não descobri
Se o amigo é luz, estrela,
Ou perfume de flor.
Sei apenas, com precisão,
Que ele torna mais rica e mais bela
A vida se faz canção!

"Roque Schneider"



Quem sou eu

Salvador, Bahia, Brazil
Especialista em Turismo e Hospitalidade, Geógrafa, soteropolitana, professora.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011


O Brasil possui a maior biodiversidade do mundo. De cerca 1,5 milhão de espécies catalogadas pelos cientistas, 13% estão espalhados pelos biomas brasileiros.

Aquarela de vidas
Perereca-castanhola (Itapotihyla langsdorffii): Habita a Mata Atlântica do litoral brasileiro. Os anfíbios formam a base da cadeia alimentar, e no país está a maior diversidade do mundo, com mais de 800 espécies catalogadas. Essa variedade reflete-se na diversidade da fauna predadora.

Um minúsculo sapinho amarelo que se conta em milímetros pula da unha da bióloga em Santa Catarina. É o pingo-d'ouro, um dos menores anfíbios do mundo, catalogado pela ciência apenas nos anos 1990 e endêmico da Mata Atlântica. No extremo norte do Pará, uma rã coaxa tão insistentemente que inquieta o tarimbado biólogo holandês Marinus Hoogmoed. É um exemplar de Leptodactylus myersi, só encontrado na região amazônica do Escudo das Guianas. O coaxo fascina o biólogo, que não o reconhece ao primeiro som - quem sabe uma nova espécie, como tantas outras que ele já catalogou cientificamente. Ficar frente a frente pela primeira vez com uma nova descoberta, ou recatalogar suas áreas de incidência, é uma tarefa nada rara para os biólogos que trabalham no país.
Afinal, qual outro país abriga tão expressiva biodiversidade como o Brasil? A resposta, simples e direta: nenhum. Seis dos principais biomas de nosso território reúnem a maior variedade de fauna e flora da Terra. De acordo com os números do Ministério do Meio Ambiente, Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pantanal Mato-Grossense e Pampas têm, juntos, mais de 13% de cerca de 1,5 milhão de espécies de vida selvagem já descobertas e catalogadas pelos cientistas nos quatro cantos do mundo. 
Trocando em miúdos: além das 55 mil plantas com sementes, são nada menos que 530 de mamíferos (mais de meia centena de primatas), 1,8 mil de aves, 800 de anfíbios, 680 de répteis e cerca de 3 mil de peixes. Isso sem levar em conta que apenas 10% da zoologia brasileira estimada é conhecida e estudada. Os mais respeitados pesquisadores internacionais calculam que estão sendo encontrados, a cada ano, perto de 1,5 mil novas espécies. Nesse ritmo, dizem eles, precisaremos de 800 mil anos para conhecer toda a nossa biodiversidade - claro, contanto que estancássemos o ritmo de devastação e extinção. Entre os grupos mais bem identificados e definidos de forma científica em nossa fauna estão os mamíferos e as aves. São os mais visíveis na mata, os mais comuns de estar em contato com o ser humano. Contudo, grande parte de pequenos animais que se escondem no alto das árvores, invertebrados e elementos que vivem nas águas da costa litorânea são ainda ilustres desconhecidos da comunidade científica.
Essa riqueza de fauna deve-se aos múltiplos hábitats que ocupam o imenso território brasileiro, com sua geografia diversificada e clima que oscila do tropical ao semiárido. Todas essas características ajudaram a criar vários nichos ecológicos que favoreceram a formação das tantas espécies que temos. A teoria do respeitado biólogo evolucionista alemão Ernst Mayr - falecido em 2005 aos quase 101 anos de idade -, obstinado seguidor do evolucionismo de Charles Darwin, ajuda a entender melhor e até confirmar esse complexo mecanismo de vida no Brasil. Mayr costumava definir vegetais ou animais como um conjunto de organismos que se cruza entre si dentro de grupos semelhantes em nichos ecológicos isolados. 
Não há melhor exemplo da ideia proposta pelo evolucionista alemão que o da Amazônia. Durante a última Era Glacial, que teve fim por volta de 10 mil anos atrás, incontáveis nichos ecológicos separados entre si dentro dos limites da extensa vegetação se formaram e deram origem a milhões de novas espécies. Foi o que permitiu à maior floresta tropical do mundo - com 6 milhões de quilômetros quadrados, cerca de 60% deles em território brasileiro - concentrar a mais valiosa biodiversidade do planeta ao longo desses milhares de anos.
Além da riqueza vegetal, esse cenário apresenta números impressionantes de vida animal. Exemplo: nas águas da bacia Amazônica vive a maior variedade de peixes da América do Sul, mais de 1,3 mil espécies distintas, quantidade bastante superior à verificada em todas as demais bacias hidrográficas de qualquer parte do globo terrestre. Somente ao longo do caudaloso e ácido rio Negro foram catalogados cerca de 450 tipos diferentes. É uma abundância quase inacreditável. De leste a oeste da Europa não se encontram mais que 200. Isso sem levar em consideração a estimativa de que 40% dos peixes nos rios amazônicos nem sequer foram descobertas e descritas pelos pesquisadores. 
A contabilidade da grande floresta é surpreendente. Na Amazônia vivem 163 espécies de anfíbios conhecidos pela ciência, o que representa 4% das 4 mil já catalogadas dessa classe de vertebrados no mundo e 27% das que foram descritas no Brasil. Entretanto, estimativas do Museu Paraense Emílio Goeldi dão conta de que deve haver ainda muito mais anfíbios vivendo na floresta Amazônica. A justificativa é a de que os estudos sobre esses animais têm sido concentrados apenas nas margens dos principais afluentes do rio Amazonas e nas regiões com acesso facilitado pelas rodovias. O custo para se chegar mais distante acaba inviabilizando novas pesquisas.
Na Amazônia brasileira estão também 300 dos 6 mil répteis conhecidas no planeta. As cobras são mais da metade, seguidas de perto pelos lagartos. Assim como os anfíbios, a variedade dessa categoria da fauna amazônica também tem sido subestimada. Os estudiosos do Emílio Goeldi pressupõem que ainda é bem pequena a quantidade de informações acerca do ambiente e da distribuição das espécies, bem como de suas características biológicas e de reprodução. As aves, ao contrário, são as que ganharam maior atenção de biólogos e demais pesquisadores da biodiversidade do bioma. Ultrapassam mais de mil os seres conhecidos na floresta, dentre as cerca de 9,7 mil já verificadas no mundo. Os mais vistos são os psitacídeos, como araras, papagaios e periquitos, além de tucanos, inhambus e mutuns. Desse milhar, pouco menos de 290 são raríssimas e circunscritas a territórios bastante restritos. Das 141 de morcegos descritos no Brasil, 125 voam na região. Com 30 milhões de variedade, os insetos formam o maior grupo de seres vivos na Terra, sem levar em conta bactérias e microrganismos. Na Amazônia está um terço deles.
Entre os mamíferos, os pesquisadores da floresta Amazônica têm registrado mais de 310 dos 4 650 estimados em todo o mundo. Entre elas, os roedores e quirópteros - mamíferos noturnos em que se incluem os morcegos - são maioria. Em quantidade, os primatas vêm depois e são considerados os mamíferos mais bem estudados da Amazônia. Tanto que, nos anos mais recentes, muitas espécies de pequenos primatas foram reveladas ao mundo, como o sauim-de-cara-branca (Callithix satarei). Limitado a um pequeno hábitat na região de Canumã, esse animal já é considerado ameaçado de extinção. 

Outros biomas brasileiros também dão legitimidade à teoria evolucionista do cientista germânico Ernst Mayr. Depois da Amazônia, o Cerrado é nossa mais extensa formação vegetal, embora reste apenas 2% de sua cobertura original. Mesmo assim, o território em que correm as três maiores bacias hidrográficas da América do Sul - São Francisco, Prata e Tocantins-Araguaia - é marcado por um clima austero, com invernos extremamente secos e estações extraordinariamente chuvosas durante os verões. É nessa atmosfera marcante que se desenvolve uma vegetação de aparência seca e arbustiva, hábitat de variada biodiversidade, com destaque a mais de 800 espécies de aves e 160 de mamíferos, cujos símbolos maiores são o tímido e ameaçado lobo-guará e o vistoso tamanduá-bandeira, além de variedades de tatus. 
Com exceção dos pássaros, os bichos do Cerrado adquiriram hábitos noturnos e subterrâneos. Uma corrente considerável de biólogos acredita que essa condição marcante da fauna nesse bioma singular foi adquirida ao longo de seu ciclo evolutivo justamente para se esquivarem das severidades do clima. Rigor climático muito semelhante ao da Caatinga, ecossistema que ocupa 10% do território brasileiro, grande parte dele na região Nordeste. Nesse bioma - pouco conhecido, menos ainda valorizado e protegido - as chuvas pouco aparecem; por isso, sua diversidade de vida adquiriu grande poder de adaptação. É assim com 45 tipos de serpentes, 40 de lagartos (incluindo sete espécies de anfisbenídeos, os raros répteis sem patas), 44 de anfíbios, quatro de quelônios, uma única de crocodiliano, além de mamíferos ameaçados de extinção, como o tatu-peba. Entre as aves, a mais recente e triste extinção é a da ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), definitivamente desaparecida da natureza da Caatinga. 
Biomas como o da Caatinga e sua biodiversidade têm sofrido, nos últimos anos, grande pressão da ocupação humana. É o caso do Pantanal Mato-Grossense e dos Pampas gaúchos, mas principalmente da Mata Atlântica, reduzida atualmente a apenas 8% de sua cobertura original pela exploração de seus recursos florestais e pela grande ocupação de seus espaços por aglomerados urbanos. Mesmo assim, essa floresta viçosa e úmida, uma das principais concentrações de complexa vegetação e vida selvagem, ainda resguarda uma variedade tão vasta como a que deixou boquiabertos naturalistas de outrora, como Saint-Hilaire e o próprio pai do evolucionismo, Darwin. 

A Mata Atlântica, que nos tempos de Cabral se esparramava por boa parte dos 8 mil quilômetros de extensão do litoral ocupado por povos tupis, de norte a sul, é o mais devastado bioma brasileiro e conserva valiosas porções de vida, abrigo de 261 mamíferos, 340 de anfíbios, 192 de répteis e 1 020 de pássaros. Mais: mesmo com tanta devastação, esse bioma ainda figura como uma das cinco regiões da Terra com maior quantidade de espécies endêmicas, ou seja, exclusivas desse ecossistema, graças à estreita relação dos bichos com a densa e altamente diversificada floresta. 

Diante dos números superlativos da fauna brasileira, como proteger e preservar tanta vida, em que muitos bichos conhecidos estão já em vias de desaparecimento, principalmente em decorrência da consequências nefastas da devastação de seus hábitats? Na mais recente edição do Livro Vermelho das Espécies da Fauna Brasileira em Extinção, publicado em 2008 pelo Ministério do Meio Ambiente, 627 animais da fauna brasileira são reconhecidas pela comunidade científica e pelas autoridades governamentais brasileiras como ameaçadas de extinção. A resposta, mais uma vez, é simples e direta: "Para preservar a biodiversidade, o mais importante é a criação e a manutenção de unidades de conservação. Lutei muito para ajudar nisso", garante o ambientalista Paulo Nogueira-Neto, discípulo dos ensinamentos de Ernst Mayr. Nogueira-neto é um dos principais artífices na luta pela proteção desses remanescentes florestais no Brasil. Os mesmos onde pesquisadores do mundo inteiro têm a oportunidade de descobrir e estudar novos bichos do Brasil.

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