A
todo momento, pessoas deixam sua cidade de origem rumo a outras para ficar
permanentemente ou só morar por um tempo (determinado ou não). São os
migrantes, que aqui, no Brasil, representam 40% da população, segundo dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2007, feita pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Embora os fluxos
migratórios tenham sido mais intensos nas décadas de 1960 e 70, a circulação
ainda é grande: recentemente, 10 milhões de brasileiros (5,4% da população) se
mudaram para outro lugar.
Retorno e perfis solitários caracterizam o
migrante atual
Revisitando o histórico dos fluxos migratórios, é
possível compreender que eles se esgotam com o tempo. A marcha para o oeste do
país, nos anos 1970, era formada sobretudo por sulistas em busca de fronteiras
agrícolas e a fim de colonizar estados como Rondônia, mas perdeu força
gradualmente. "E, com a concentração de terras e a organização de
pastagens, estados como Mato Grosso deixaram de representar boas oportunidades
depois dos anos 1980". O volume de ida para o estado de São Paulo também
diminuiu consideravelmente entre 1995 e 2000: os imigrantes (assim denominados
os que chegam) eram 1,2 milhão e, entre 1999 e 2004, passaram a somar 870 mil,
segundo dados obtidos na Pnad. Mas muitas pessoas também fizeram o caminho
inverso no mesmo período: foram 105 mil emigrantes (assim denominados os que
saem) a mais que imigrantes.
Conforme estudos demográficos, o movimento de
pessoas faz parte da dinâmica das sociedades. É normal, portanto, surgirem
novos fluxos (veja
o mapa abaixo). Atualmente, o movimento que mais chama a atenção é
o de volta aos locais de origem. Muita gente, por exemplo, está deixando o
Sudeste e voltando para o Nordeste: o crescimento do volume de migrantes nesse fluxo
foi de 19% entre os períodos de 1995-2000 e 1999-2004. "É um retorno
expressivo, nunca visto antes". As hipóteses apresentadas para justificar
esse movimento estão relacionadas à redução e terceirização do emprego na
indústria no Sudeste, aos novos focos de crescimento econômico no Nordeste e
aos programas de transferência de renda do governo federal.
A lista de novidades inclui movimentos que ocorrem
dentro de alguns estados, como o Paraná: sua atratividade está concentrada na
área metropolitana de Curitiba. E, quanto aos deslocamentos interestaduais,
vale destacar o Pará, o único na região Norte que mantém um volume crescente de
imigrantes originários do Nordeste e de estados nortistas.
Outra mudança é a do perfil de quem sai. Antes a
família toda migrava. Agora, quem deixa sua terra tende a ir sozinho.
"Problemas de moradia, oferta de emprego e violência contribuem para
isso". E as intenções também mudaram: o emigrante de agora almeja ficar
fora o tempo suficiente para ganhar um bom dinheiro.
Migração não é sinônimo de problema social
O senso comum diz que o movimento de pessoas em
busca de novas oportunidades sempre causa desemprego e violência. Estudo
realizado, que compara a relação entre migração e trabalho, mostra que não é
bem assim. Nos anos 1960 e 70, os imigrantes garantiram a força de trabalho
para a expansão da região metropolitana de São Paulo. Quando as taxas de
desemprego começaram a subir em razão de crises econômicas, muita gente julgou
que eram eles que tomavam as vagas dos paulistanos. Porém, a partir dos anos
1990, começou a redução do fluxo migratório e era o crescimento natural da população
que aumentava a oferta de trabalhadores. Ideias como essas distorcem a imagem
dos migrantes, gente que faz parte da construção da economia e da cultura do
nosso país.
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