Geografia da Amizade

Geografia da Amizade

Amizade...Amor:
Uma gota suave que tomba
No cálice da vida
Para diminuir seu amargor...
Amizade é um rasto de Deus
Nas praias dos homens;
Um lampejo do eterno
Riscando as trevas do tempo.
Sem o calor humano do amigo
A vida seria um deserto.
Amigo é alguém sempre perto,
Alguém presente,
Mesmo, quando longe, geograficamente.
Amigo é uma Segunda eucaristia,
Um Deus-conosco, bem gente,
Não em fragmentos de pão,
Mas no mistério de dois corações
Permutando sintonia
Num dueto de gratidão.
Na geografia
da amizade,
Do amor,
Até hoje não descobri
Se o amigo é luz, estrela,
Ou perfume de flor.
Sei apenas, com precisão,
Que ele torna mais rica e mais bela
A vida se faz canção!

"Roque Schneider"



Quem sou eu

Salvador, Bahia, Brazil
Especialista em Turismo e Hospitalidade, Geógrafa, soteropolitana, professora.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O Hino Nacional Brasileiro (verso a verso)


Ouviram, do Ipiranga, as margens plácidas,
de um povo heróico, o brado retumbante.

As margens plácidas do (Rio) Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico.

Plácido quer dizer calmo. Dom Pedro I vinha de Santos, ao longo do Rio Ipiranga, quando tomou a corajosa decisão de declarar a Independência do Brasil.

Brado é grito. Retumbante é estrondoso, barulhento, para fazer contraste com a placidez das margens.

Poderíamos parafrasear (escrever de outra forma) esse verso assim: As margens calmas do Rio Ipiranga ouviram o grito estrondoso de um herói (Dom Pedro I) que representava todo o povo brasileiro.

E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,
brilhou no céu da Pátria nesse instante.

Fúlgido significa brilhante. Mas não dava pra dizer: “em raios brilhantes, brilhou”, porque ficaria repetitivo e pobre. O grito de “Independência ou Morte” transformava uma nação colonial, dependente de Portugal, em um novo país, autônomo e livre. Duque Estrada compara a liberdade com um sol brilhante que ilumina o céu, a Pátria, antes obscurecida pelo colonialismo.

Se o penhor dessa igualdade,
conseguimos conquistar com braço forte,
em teu seio, ó Liberdade,
desafia, o nosso peito, a própria morte!

Penhor equivale a garantia, segurança. É comum a gente penhorar algo de valor (em troca de dinheiro) e receber um papel que garanta a recuperação do objeto penhorado. O Brasil passou a ser independente e, portanto, conquistou o penhor da igualdade, ou seja, daquele momento em diante, Portugal e Brasil eram nações iguais, sem que uma fosse superior à outra. E a frase continua, dizendo: o nosso peito desafia a própria morte. Simplificando: agora que o povo brasileiro conquistou seu passe para a liberdade, por sua força e coragem, inspirado nessa nova liberdade, não hesitará em enfrentar a própria morte (isto é, se tiver de lutar e morrer, o povo não sentirá medo nem irá recuar).

A frase pode ser reescrita assim: pela nossa coragem, conquistamos uma igualdade de condição com quem antes era nosso colonizador e, para manter essa situação de liberdade, estamos prontos a sacrificar a própria vida.

Ó pátria amada,
idolatrada,
salve! Salve!

Idolatrar é transformar algo ou alguém em ídolo, como se costuma fazer com artistas de modo geral.

Salve equivale a uma saudação. Originalmente se dizia: Deus te salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
de amor e de esperança à terra desce,
se em teu formoso céu, risonho e límpido,
a imagem do Cruzeiro resplandece.

Vívido é intenso, ardente, vivo. Formoso é belo. Límpido significa transparente, claro. Resplandecer equivale a brilhar ou luzir intensamente.

Aqui, o poeta compara o Brasil a um sonho intenso, porque ainda tem muito a realizar.

Sabe-se que o Cruzeiro do Sul é uma constelação que aparece no céu do Brasil. Ela tem forma de cruz, que nos lembra Jesus Cristo e as práticas cristãs. Portanto, vamos refazer os versos para entender o sentido: O Brasil é como um sonho intenso e, já que em nosso límpido céu a cruz de Cristo resplandece, dessa cruz desce um raio brilhante que ilumina o Brasil. Ou seja, o Brasil está sob o amparo e a proteção de Cristo.

Gigante pela própria natureza,
és belo, és forte, impávido colosso,
e o teu futuro espelha essa grandeza.

Se você olhar o mapa mundial, vai notar que o Brasil é o quinto maior país do mundo (depois da Rússia, do Canadá, dos Estados Unidos e da China). Com mais de 8.500.000 km2, o Brasil é naturalmente gigantesco.

Note que, às vezes, os poetas têm o costume de falar diretamente com as coisas, como se elas fossem pessoas, ou seja, personificando-as: és belo, és forte...

Impávido significa sem medo, destemido, corajoso. Colosso é uma pessoa ou um objeto de tamanho muito grande. Vamos reescrever a frase: Tu (Brasil) és belo, forte e, graças ao tamanho imenso que a natureza te deu, não tens medo de nada. Além disso, a tua grandeza de hoje vai se revelar no futuro.

Terra adorada, entre outras mil,
és tu, Brasil, ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo, és mãe gentil,
Pátria amada, Brasil!

Esse trecho é mais fácil de se entender, embora também utilize algumas inversões:
Brasil, tu és nossa terra adorada, e te escolhemos entre outras mil terras; tu és nossa Pátria amada, mãe gentil (carinhosa, generosa) dos filhos deste solo (nós, brasileiros).

Deitado eternamente em berço esplêndido,
ao som do mar e à luz do céu profundo,
fulguras, ó Brasil, florão da América,
iluminado ao sol do Novo Mundo!

A idéia que Duque Estrada quer transmitir é a de que a localização geográfica do Brasil é mesmo muito privilegiada: as montanhas, as matas, os rios, enfim, toda a natureza forma a imagem de um berço (porque, além do mais, o Brasil, uma nação que se tornara recentemente independente, era como um imenso país recém-nascido).

Esplêndido é maravilhoso, deslumbrante.

Fulguras é brilhas, resplandeces. Também pode significar distinguir-se ou sobressair (entre outros).

Florão é uma decoração bonita e grande em forma de flor, que fica no centro de algo, em destaque. Ao som do mar, porque temos um litoral muito vasto, com belíssimas praias; e à luz do céu profundo, isto é, ensolarado, típico dos trópicos.

O sol do Novo Mundo coloca o Brasil, mais uma vez, como uma nação jovem e promissora. O Velho Mundo (Europa) conquistou e colonizou o Novo Mundo (América).

Vamos reescrever: Brasil, tu possuis uma localização espetacular, com uma natureza rica, muito mar e sol. Por isso, entre outras nações da América (Novo Mundo), tu te destacas como um florão.

Do que a terra mais garrida,
teus risonhos lindos campos têm mais flores;
“nossos bosques têm mais vida”,
“nossa vida”, no teu seio, “mais amores”.

Garrida é colorida, alegre, vistosa. Teus campos risonhos [e] lindos têm mais flores do que a terra mais garrida (vistosa). Ou seja, nossa natureza é mais colorida e bela que a de qualquer outra terra.

Nossos bosques têm mais vida (mais beleza e vitalidade), nossa vida, em teu seio (dentro de ti, Brasil), mais amores. Equivale a dizer que nós, brasileiros, por vivermos no Brasil, somos mais capazes de amar. As aspas são usadas por Duque Estrada no original, pois representam citações dos versos de Gonçalves Dias em Canção do Exílio:

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá...

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida, mais amores.

Brasil, de amor eterno, seja símbolo
o lábaro que ostentas estrelado.

Um símbolo é um tipo de signo (pode ser uma palavra, uma medalha, um emblema, uma cor, um escudo, etc.) que serve para representar alguma outra coisa.

Ostentar é mostrar com orgulho. O lábaro era um estandarte muito usado pelos romanos. Aqui, está representado por nossa bandeira, repleta de estrelas. O poeta comparara a bandeira brasileira a um estandarte e deseja que ela represente o amor eterno.

O verso está invertido. Sem a inversão, ficaria assim: Brasil, que o lábaro estrelado que ostentas seja símbolo de amor eterno.

E diga o verde-louro desta flâmula
— Paz no futuro e glória no passado.

Flâmula, aqui, é sinônimo de bandeira. O louro é uma planta, com cujos galhos os imperadores romanos eram coroados. Portanto, simboliza poder e glória. Mais uma vez, vamos olhar para a bandeira. Duque Estrada torce para que o verde-louro da bandeira simbolize um poder que venceu batalhas gloriosas no passado, quando isso foi necessário para se conseguir a independência, mas só deseja paz daquele momento em diante, pois o verde, além da esperança, também simboliza a paz.

A palavra louro também pode significar a cor amarela (verde-amarelo); nesse caso, o autor refere-se, então, ao verde como símbolo da paz e ao amarelo como símbolo da glória.

Mas, se ergues, da justiça, a clava forte,
verás que um filho teu não foge à luta,
nem teme, quem te adora, a própria morte.

Clava é um pedaço de pau pesado (mais grosso numa ponta que na outra), que era usado como arma, semelhante ao tacape, usado por nossos índios.

Vimos que, no verso anterior, o poeta sonha com a paz no futuro. De repente, entretanto, esse novo verso diz: mas, se ergues (levantas) a clava forte da justiça, ou seja, se o país tiver de lutar contra a injustiça, verás que um brasileiro (filho teu) enfrenta a guerra (não foge à luta).

E quem te adora não teme a própria morte quer dizer: o brasileiro, que ama tanto seu país, seria capaz de sacrificar sua própria vida para defendê-lo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário