Há dez anos, em 1o
de janeiro de 2002, entrou oficialmente em circulação o euro, a moeda única
corrente em países que compõem a União Europeia (UE). Na
época, o lastro monetário simbolizava a integração do continente que, no século
20, enfrentou duas guerras mundiais e uma divisão ideológica que quase provocou
uma terceira. Hoje, porém, o euro é sinônimo de incertezas, numa crise que
ameaça a futuro da segunda maior economia do planeta.
A Eurozona é
composta por 17 dos 27 Estados-membros da União Europeia:Alemanha, Áustria, Bélgica, Chipre, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia,Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Malta, Países Baixos ePortugal. Na ocasião em que o euro foi instituído, Dinamarca,
Suécia e Reino Unido optaram por não aderir ao projeto e mantiveram suas moedas
locais.
O euro é usado
diariamente por 332 milhões de europeus. A moeda também é a segunda maior
reserva monetária internacional e a segunda maior comercial, atrás somente do
dólar americano.
Apesar disso, a
Europa enfrenta desde 2009 uma crise de débitos que ameaça a estabilidade do
bloco, obrigando os governos a fazer reformas impopulares. Em 2012, o desafio
dos líderes europeus será manter todos os países integrantes da Zona do Euro,
de modo a impedir o enfraquecimento da aliança.
Desde 1999, a moeda
que passou a ser usada pelos europeus há uma década já era corrente entre os
mercados financeiros. Nesse ano, os governos aboliram moedas locais como o marco
alemão, a lira italiana, a peseta espanhola e o franco (belga e francês) nas
transações comerciais entre países. O objetivo era unir mais as nações, em um
bloco com maior representação política, e gerar mais desenvolvimento econômico,
pois o sistema monetário integrado facilitaria o comércio e os negócios entre
os países.
Nos primeiros anos,
tudo caminhava bem e os europeus estavam entusiasmados com a novidade. E, mesmo
não correspondendo às projeções mais otimistas, houve crescimento de até 15% na
economia da UE. Outro benefício da adoção da moeda única foi o controle da
inflação, que em média não ultrapassa os 2%. Empresas também pouparam dinheiro
com os custos de transações cambiais – somente na indústria automobilística, a
economia chegaria a 500 milhões de euros por ano.
Grécia
Os problemas
começaram com a crise econômica de 2008, que atingiu o “calcanhar de Aquiles”
da Zona do Euro. Em uma década de moeda única, não houve uma política fiscal
comum que regulasse o mercado, deixando o sistema exposto a especulações de
alto risco e endividamento desmedido dos Estados.
O colapso
iniciou-se na Grécia, berço da democracia ocidental. O país gastou muito além
do que seu orçamento permitia em programas sociais, na folha de pagamento dos
servidores públicos, em pensões e outros benefícios. Para pagar as contas, o
Estado adquiriu empréstimos junto a instituições bancárias.
A dívida pública
grega atingiu 124,9% do PIB (Produto Interno Bruto), mais do que o dobro permitido na
Eurozona (60%). O déficit no orçamento, isto é, a diferença de quanto o país
gasta e quanto arrecada, correspondia a 13,6% do PIB grego em 2009, índice mais
de quatro vezes a porcentagem tolerada de 3%.
A crise atingiu
outros países da Zona do Euro, que também estão em condições fiscais
debilitadas, como Irlanda (déficit de 14,3% do PIB), Espanha (11,2%) e Portugal
(9,4%). Os déficits orçamentários desses governos, que tiveram de socorrer a
economia injetando recursos públicos durante a crise e sofreram queda de
receitas, são os piores desde o período da Segunda Guerra Mundial.
Além disso, a
ameaça de anunciarem “calotes” em suas dívidas causou desconfiança nos
mercados. Como consequência, tornou-se mais difícil para empresas e governos
refinanciarem suas dívidas, aprofundando a recessão no bloco. Em 2010, no auge
da crise, o euro acumulou perdas de 14% perante o dólar.
Os Estados
enfrentaram a situação com programas e pacotes de estímulo ao mercado. Entre as
medidas, algumas impopulares, como aumento dos impostos e corte em programas
sociais, que afetaram o modelo de justiça social do capitalismo europeu.
Política
Atingida no bolso,
a população reagiu com protestos em toda a Europa, alguns mais organizados,
como o movimento dos “Indignados” na Espanha. Na esteira da crise, nove
presidentes e primeiros-ministros foram destituídos do cargo, entre eles o
premiê grego George Papandreou e o italiano Silvio Berlusconi.
No plano político,
a Europa parece também ter regredido. A insatisfação com a economia fez também
ressurgir partidos de direita e grupos de extrema direita, aprofundando
divisões ideológicas. Ainda que compartilhem moeda, bandeira e instituições em
comum, cisões entre governos mostram que falta unidade política aos europeus,
pondo em risco o plano de integração.
A despeito de todos
os problemas, o risco do fim do euro é mínimo, pois os prejuízos seriam compartilhados
por todos. Se a moeda fosse abolida, poderia haver uma valorização muito grande
de moedas nacionais fortes como o marco alemão. Isso prejudicaria as
exportações da Alemanha, gerando desemprego em massa no país. Mesmo a saída de
algum membro, como a Grécia, é algo que se tenta evitar a todo o custo, pois
afetaria a estabilidade do bloco.
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