Dois
militares brasileiros morreram em um incêndio ocorrido na madrugada de 25 de
fevereiro que destruiu 70% da Estação Antártica Comandante Ferraz, base
científica administrada pela Marinha. A estação funcionava há 28 anos como polo
de pesquisa e posto avançado que marca a presença do país no continente gelado.
Era como uma pequena cidade, construída numa área de 2,6 mil metros quadrados e
com capacidade para abrigar até 100 pessoas. Atualmente, 59 cientistas, militares
e civis, trabalhavam no local, onde são realizadas pesquisas importantes sobre
biodiversidade marinha e mudanças climáticas.
Havia
laboratórios, dormitórios, cozinha, biblioteca, enfermaria, sala de lazer e
esportes, oficinas e instalações técnicas. O incêndio começou na praça de
máquinas, onde ficam os geradores de energia, e se espalhou rapidamente pela
estação.
O sargento Roberto Lopes dos Santos e o suboficial Carlos Alberto Vieira
Figueiredo morreram enquanto tentavam combater o incêndio. Outro militar ficou
ferido sem gravidade. Os demais ocupantes foram transferidos para a base
chilena Eduardo Frei.
A
pesquisa científica na Antártida é necessária, mas sempre envolve riscos. O que
poucas pessoas sabem é que um dos maiores perigos nas estações é o de
incêndios.
O continente antártico possui a maior reserva de água doce do mundo, mas em
estado sólido (neve e gelo), dificultando o combate ao fogo. Além disso, o
clima no local é seco e com ventos de até 100 km/h, o que favorece a propagação
das chamas.
Com a destruição das instalações, boa parte do material e equipamentos de
pesquisas foi perdida. "O grau exato do que aconteceu ainda precisa ser
objeto de perícia, mas a avaliação é de que realmente perdeu-se praticamente
tudo", disse o ministro da Defesa, Celso Amorim. Segundo ele, a
reconstrução deve levar dois anos.
Deserto
de gelo
A
Antártida (ou Antártica) é um dos menores continentes do mundo, com 14 milhões
de quilômetros quadrados de superfície. A despeito disso, possui extensão
superior a países como Brasil, China e Estados Unidos.
Localizado
no Pólo Sul, o continente antártico é um imenso deserto de gelo, com exceção de
algumas regiões montanhosas. É também o continente mais frio, seco e com as
maiores altitudes e maior incidência de ventos no planeta.
Na
Antártida foi registrada a temperatura mais baixa do mundo: -89,2 °C. Em média,
a temperatura anual na costa é de -10 °C, e no interior, -40 °C. Os dias e as
noites duram meses no verão e no inverno.
Em
razão dessas condições adversas, não há habitantes. Apenas grupos de
pesquisadores e militares ocupam bases polares, cuja população oscila entre mil
no inverno a quatro mil no verão.
Tratado
internacional
O
incidente na estação Comandante Ferraz tem consequências científicas e
políticas para o Brasil.
Os
trabalhos dos cientistas na Antártida ajudam a entender os impactos ambientais
da poluição provocada pelo homem no clima da Terra e na fauna marinha. Tudo o
que acontece na Antártida tem reflexos no resto do planeta, e vice-versa. Foi
naquele continente que surgiram descobertas importantes como o efeito estufa, o
aumento da temperatura global e a elevação do nível dos oceanos.
Se, por um lado, a realização de pesquisas não depende da base que foi
destruída – pois também são feitas em navios oceanográficos de apoio e
acampamentos –, a estação, contudo, é vital para abrigar os cientistas durante
o inverno antártico.
A
presença brasileira na Antártida, garantida pela estação, é ainda essencial por
questões políticas. O continente não tem dono e nenhum governo. Como não possui
nativos e há divergências sobre quem o descobriu, vários países reivindicavam a
posse, entre eles a Argentina, o Chile, a França e o Reino
Unido.
Para resolver isso foi criado o Tratado da Antártida. O documento foi assinado
em 1o de dezembro de 1959 por 12 países, incluindo as duas superpotências da
época, os Estados Unidos e a ex-URSS. Por meio dele, as nações se comprometeram
a suspender as reivindicações de posse para permitir a exploração científica e
proibir qualquer tipo de operação militar no território.
Atualmente,
cerca de 20 países possuem bases na Antártida, entre elas a brasileira,
instalada em fevereiro de 1984. A manutenção do posto, desse modo, atende aos
interesses do Brasil no continente e as diretrizes da comunidade internacional
de conservação da neutralidade política, preservação ambiental e estímulo à
cooperação científica.
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