Casa
própria, carro e viagens ao exterior fazem parte do sonho de consumo de
trabalhadores de todo o mundo. Em Cuba, desde a revolução socialista de 1959,
bens e turismo eram restritos ou inacessíveis à população. Agora, um conjunto
de medidas anunciadas pelo governo deve mudar o cotidiano dos cubanos.
As
reformas econômicas em Cuba são as primeiras em mais de meio século de
socialismo. Elas não significam, entretanto, uma abertura política e econômica
do mesmo tipo realizado na antiga União Soviética, em 1991.
As
propostas do Partido Comunista, que governa a ilha, foram aprovadas pela
Assembleia Nacional no dia 1º. de agosto. O objetivo das Diretrizes da Política
Econômica e Social do Partido e da Revolução é estimular a economia do país,
afetada pela crise de 2008.
O plano
possui 313 itens que tiveram o aval do presidente Raúl Castro em abril, no
congresso partidário. Raúl substituiu o irmão, Fidel Castro, no cargo. Fidel
foi afastado em fevereiro de 2008 depois de 49 anos no poder, por causa de
problemas de saúde.
As
medidas devem reduzir a interferência do Estado na economia – um dos pilares do
socialismo – e estimular a iniciativa privada.
Elas
incluem um “enxugamento” na máquina estatal, com a demissão de mais de um
milhão de funcionários públicos e o corte gradual de subsídios, como alimentos
e energia elétrica. Atualmente, 85% do contingente de trabalhadores estão na
folha de pagamento do governo cubano.
O
Estado, que hoje controla quase que totalmente a economia do país, também deve
diminuir a participação em áreas como agricultura, transporte, construção civil
e comércio, abrindo espaço para empresas. A previsão é de que as medidas sejam
implantadas no prazo de cinco anos.
Viagens
As
primeiras intervenções na economia já foram feitas no sistema de câmbio. Cuba
possui duas moedas: o peso, com o qual são pagos os salários dos cubanos, e o
peso conversível, usado principalmente por estrangeiros.
O peso
conversível foi criado em 1994 e atrelado ao dólar até 2005. Em abril, o
governo desvalorizou em 8% a moeda, que retornou à taxa original. Dessa forma,
ficará mais barato viajar a Cuba, reaquecendo o turismo.
As
mudanças mais emblemáticas, porém, devem afetar a vida do cidadão comum. Pela
primeira vez, será permitido ao cubano comercializar imóveis e carros. Em Cuba,
a propriedade privada, base do capitalismo, foi abolida pela revolução. Tudo
pertence ao Estado. As famílias vivem por gerações na mesma casa: quando uma
pessoa se casa, vai morar com a família do noivo ou da noiva. Somente é
permitida a troca de imóveis, não a comercialização, fato que alimenta um
comércio paralelo.
Também
devem ser facilitadas as viagens ao exterior, que hoje dependem de uma difícil
e burocrática aprovação do governo. O custo de tirar um passaporte e pagar as
despesas de todo o processo é proibitivo para um trabalhador comum. Além disso,
opositores do regime têm as autorizações para deixar o país sistematicamente
negadas. É o caso do dissidente Guillermo Fariñas e da blogueira Yoani Sanchéz,
que não puderam viajar para receber prêmios internacionais.
Socialismo
A
Revolução Cubana depôs em 1º. de janeiro de 1959 o ditador Fulgencio Batista,
que ocupava o cargo de presidente há 25 anos com o apoio dos Estados Unidos. No
auge da Guerra Fria, nos anos 1960, a ilha passou a sofrer embargos do governo
americano.
A
situação econômica de Cuba começou a se deteriorar no começo dos anos 1990 com
o fim da União Soviética, principal parceiro comercial. Nos anos seguintes,
houve uma melhora, graças a intercâmbios com a China e a Venezuela.
Cuba é
o único Estado socialista da América Latina, e um dos poucos que restam no
mundo, ao lado da China e da Coreia do Norte. O país possui 11,4 milhões de
habitantes e ocupa a 51ª posição no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que
mede o grau de desenvolvimento dos países (à frente do Brasil, por exemplo, que
está em 73º lugar).
Os
serviços cubanos são conhecidos pela qualidade nas áreas de saúde e educação (a
taxa de analfabetismo é quase zero). Por outro lado, a população sofre com a
perseguição política, a falta de direitos civis e a censura.
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