Expansão na capacidade de geração,
investimentos de fornecedores de equipamentos e redução de preço começam a
tornar a energia eólica competitiva no Brasil
Numa
area de 150 quilômetro de extensão, a paisagem do interior da Bahia está
mudando. Entre os municípios de Guanambi, Caetité e Igaporã, no sudoeste do
estado, 184 cataventos gigantes serão instalados até julho do ano que vem.
Distribuídos em 14 parques eólicos, os geradores deverão suprir o consumo de
energia elétrica de 1,5 milhão de pessoas — o equivalente a 10% da população
baiana. A transformação na paisagem continuará nos próximos anos.
Em
2016, deverão operar ali 50 parques, com potencial de 1 100 megawatts. A
capacidade total das eólicas no Brasil então alcançará o equivalente à metade
da usina de Itaipu. "A qualidade dos ventos vai tornar a eólica a segunda
fonte energética brasileira", diz Ricardo Delneri, sócio da Renova
Energia, primeira empresa do setor a abrir o capital na Bovespa, responsável
pelo investimento de 3,7 bilhões de reais na estrutura de parques da Bahia, que
deverá se transformar na maior da América Latina.
O
otimismo de Delneri simboliza a nova fase do setor. O aproveitamento da força
dos ventos, iniciado de maneira tímida no país no final da década de 90, nos
últimos dois anos começou a mostrar que fará diferença no abastecimento
nacional. Ao mesmo tempo, o setor vem ganhando escala para a formação de uma
cadeia de produção de equipamentos. Ao menos dez companhias, nacionais e estrangeiras,
anunciaram recentemente investimentos para montar ou produzir máquinas e
componentes para aerogeradores.
Até
pouco tempo atrás, empresas como a Tecsis, produtora de pás para geradores em
Sorocaba, no interior paulista, eram raras no país. Mas a expectative de
aumento na capacidade brasileira de geração eólica levou ao aumento de
jogadores nesse mercado. Hoje, multinacionais como a dinamarquesa Vestas, a
americana GE, a espanhola Gamesa e a indiana Suzlon já operam no país.
"Com o crescimento do mercado, optamos por produzir aqui e ter um
departamento local de desenvolvimento", afirma Arthur Lavieri, presidente
da Suzlon. A empresa indiana tem dois centros de estoque no Ceará e vai
inaugurar até o final do ano sua fábrica no porto de Pecém. O setor também vem
atraindo investimentos de empresários brasileiros.
Em
março, a catarinense Weg, do ramo de motores industriais, se associou à
espanhola M. Torres para fabricar e instalar aerogeradores. Na Embraer, a
produção desses equipamentos está atualmente em estudo. A abundância de
investimentos, que devem chegar aos 26 bilhões de reais até 2014, inverte o
cenário de carência de financiamento existente até 2004. Na época, o governo
federal criou um programa de incentivo às fontes alternativas de energia para
estimular, entre outros, o setor de eólica. Com subsídios que incluíam dinheiro
barato do BNDES, alguns parques saíram do papel. Mesmo assim, o preço da
energia era uma barreira à competição. Nas primeiras negociações, os preços
elevados criaram no mercado a expressão "energia de butique".
Em
2009, os incentivos terminaram. Nos últimos dois anos, já com escala razoável
de produção, a redução de 62% no preço colocou a energia eólica em condição de
competir com a hidrelétrica. Num leilão realizado pelo governo em 18 de agosto,
a energia do vento foi negociada por valores inferiores aos da usina de Jirau.
"A energia eólica mostrou que é competitiva", diz Sérgio Marques,
presidente da Bioenergy, que faz a gestão de parques geradores. "O melhor
é não ter nenhum subsídio." As regiões Nordeste e Sul são os polos
nacionais de geração de energia eólica.
Elas
concentram 98% das usinas em operação e, graças a fatores climáticos, devem
continuar a ser os grandes ímãs de investimento no setor daqui para a frente.
"O Brasil tem as condições ideais para desenvolver a energia eólica,
principalmente no Nordeste", afirma Christopher Flavin, presidente do
Worldwatch Institute, ONG dedicada ao estudo da sustentabilidade. O país pode
entrar para a lista dos dez maiores geradores globais. A China é a líder com
uma capacidade que equivale a três usinas de Itaipu. Pelo plano chinês, até
2015 sua produção triplicará. A ambição brasileira é menor, mas os bons ventos
que sopram por aqui devem manter o catavento da energia em movimento.
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