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quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Endividada, Grécia protagoniza drama fiscal na Europa
Direto ao ponto: Ficha-resumo
Para evitar que a Grécia entrasse em colapso e levasse junto alguns países da Europa, o que alastraria a crise pelo mundo, ministros das Finanças da União Europeia (UE) aprovaram, em 9 de maio de 2010, um fundo emergencial inédito de 750 bilhões de euros (R$ 1,7 trilhão). Um terço do total dos recursos é proveniente do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Mas como um país pequeno (pouco menor que o Estado do Amapá), de 10,6 milhões de habitantes, considerado o berço da civilização ocidental, se tornou de repente uma ameaça aos mercados financeiros internacionais?
O endividamento da Grécia é resultado de duas irresponsabilidades: a fiscal, do governo, e a especulativa, dos bancos.
Um modo fácil de entender isso é comparar com o orçamento doméstico. Qualquer dona de casa sabe que precisa equilibrar as contas entre os gastos com a família (alimentação, vestuário, contas a pagar etc.) e os rendimentos. A regra é não gastar mais do que se ganha. Quando isso não acontece, contraímos dívidas.
Foi o que aconteceu com a Grécia. O país gastou muito além do que seu orçamento permitia nos últimos dez anos - em programas sociais, na folha de pagamento dos servidores públicos (um em cada três gregos é funcionário público) e em pensões ou outros benefícios. Para pagar as contas da casa, o Estado adquiriu empréstimos com instituições bancárias.
Para piorar a situação, a crise do mercado imobiliário dos Estados Unidos, em 2008, que afetou o mundo todo, também atingiu o bolso dos gregos, resultando em desemprego e na consequente queda na arrecadação de impostos.
Para reduzir os custos, o governo do primeiro ministro George Papandreou anunciou um pacote que congela os salários, reduz as pensões e aumenta os impostos. Foram essas medidas que provocaram a greve geral, manifestações de sindicalistas e estudantes nas cidades gregas, e enfrentamentos com a polícia. No pior dia, 5 de maio, três pessoas morreram em um banco incendiado em Atenas por manifestantes.
Europa
O déficit no orçamento, isto é, a diferença de quanto o país gasta e quanto arrecada, correspondia a 13,6% do Produto Interno Bruto (PIB) grego em 2009. O índice é mais de quatro vezes a porcentagem tolerada na Zona do Euro, de 3%. (A expressão "Zona do Euro" se refere a um grupo de 16 países europeus que adotaram o euro como moeda, há dez anos.)
A dívida da Grécia, em maio de 2010, é de 300 bilhões de euros (o equivalente a R$ 700 bilhões). Até o final de 2010, a Comissão Europeia estima que a Grécia terá 124,9% do PIB em dívidas públicas. Isso significa que as contas a pagar superam toda a riqueza produzida pelo país. O limite da UE é de 70% de dívida pública.
Porém, o que tornou inevitável a ajuda para resgatar a economia grega foi o risco de um efeito dominó. A crise poderia atingir outros países da Zona do Euro, que também estão em condições fiscais debilitadas, como Irlanda (déficit de14,3% do PIB), Espanha (11,2%) e Portugal (9,4%).
Os déficits orçamentários desses países europeus, que tiveram de socorrer a economia injetando recursos públicos durante a crise e sofreram queda de receitas, são os piores desde o período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Antes mesmo da crise a Europa já vinha num crescente processo de endividamento, devido aos gastos com bem-estar social e ao envelhecimento da população, que gera despesas com saúde e previdência.
A crise financeira somente agravou a crise fiscal em curso, além de desvalorizar o euro frente ao dólar.
Soluções
O plano de ajuda para recuperar o euro foi anunciado no mesmo dia em que a União Europeia completou 60 anos de criação. Em 9 de maio de 1950, França e Alemanha assinaram um acordo para evitar novas guerras mundiais, conhecido como Plano Schuman. Hoje, a UE possui 27 países em parcerias econômicas e políticas.
O caso da Grécia, no entanto, revelou fragilidades do bloco. Faltam mecanismos mais eficientes de controle de especulação bancária e fiscalização das contas de países membros. O grupo também levou dois meses para decidir ajudar os gregos. Em parte, isso se deve ao preço político cobrado dos governantes nas urnas: os europeus estão cansados de financiar, com dinheiro público, a má gestão de alguns governos e a irresponsabilidade de investidores.
Para a Grécia e outros países equilibrarem as contas públicas, não haverá outra saída senão "cortar na própria carne", aumentando impostos e eliminando gastos (com redução de salários e aposentadorias, por exemplo).
Para piorar, isso ocorre no momento em que as economias estão se recuperando. Países também endividados têm que assumir mais dívidas para cobrir o rombo em Atenas. É como se um doente, tentando se curar de uma pneumonia, pegasse uma gripe.
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