O governo colombiano formou uma equipe de cinco
negociadores para o processo de paz que terá início em outubro com a guerrilha
das Farc, encabeçado pelo ex-vice-presidente Humberto de La Calle, anunciou
nesta quarta-feira o presidente Juan Manuel Santos. A equipe será formada
também pelo presidente da Associação de Industriais, Luís Carlos Villegas; o
ex-diretor da polícia nacional, general reformado Oscar Naranjo; o
ex-comandante das forças militares, general reformado Jorge Enrique Mora
Rangel; o ex-ministro do Meio Ambiente e ex-comissário da paz, Frank Pearl; e o
assessor presidencial Sergio Jaramillo, designado comissário da paz.
Apesar de a equipe negociadora principal ser formada
por estas cinco pessoas, as partes poderão designar cada uma um total de 30
pessoas para participar nos diálogos de paz, explicou o presidente em um
discurso à nação. Os delegados adicionais acompanharão as negociações e estarão
prontos para se sentar à mesa dependendo dos temas a serem tratados, assinalou
Santos.
Em seu discurso, o presidente agradeceu às mensagens
de apoio que recebeu de colegas e governos por esta iniciativa, ao mesmo tempo
em que insistiu que vai pedir apoio da comunidade internacional porque "o
caminho não é fácil e tem muitos inimigos". Santos anunciou na véspera que
o processo de paz entre o governo da Colômbia e a guerrilha das Farc terá
início na primeira quinzena de outubro em Oslo e depois prosseguirá em Havana.
O presidente ressaltou que as conversações terão um prazo. "Será medido em
meses, não em anos", frisou.
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia
confirmaram no mesmo dia, em Havana, o início dessas negociações, por meio uma
mensagem gravada de seu líder Timoleón León Jiménez (Timochenko). A mensagem
anunciou "o encerramento das conversas exploratórias e o início das
negociações como parte do árduo, mas necessário caminho da construção da paz,
estável e duradoura para a Colômbia", disse o Comandante Mauricio
Jaramillo, ao lado de outras cinco pessoas, no Palácio de Convenções de Havana.
A delegação das Farc no encontro exploratório,
integrada por Jaramillo, Andrés Paris, Ernest Aguilar, Sandra Ramírez e Marcos
León, marcou uma entrevista coletiva à imprensa para quinta-feira às 10h locais
(11h de Brasília) no mesmo local, sem dar maiores detalhes. Anteriormente, o
presidente havia afirmado que as primeiras negociações exploratórias foram
realizadas durante seis meses em Havana e que as duas partes assinaram um
acordo de princípio que não estabelece que as operações militares sejam
interrompidas durante o processo de paz.
Segundo o presidente, "as operações militares
continuarão com a mesma ou com mais intensidade". "Este acordo não é
já a paz, nem se trata de um acordo final. É um mapa do caminho com precisão
dos termos de discussão para chegar a este acordo final", explicou. Em seu
discurso, Santos pediu aos colombianos "moderação" diante da
possibilidade de a guerrilha prosseguir em seus ataques, e "unidade para
que o sonho de viver em paz se torne, por fim, realidade".
Um pouco
mais sobre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC)
Com extensão territorial de 1.141.748 quilômetros
quadrados, a Colômbia é habitada por aproximadamente 45,7 milhões de pessoas. Esse
grande país sul-americano é marcado por diversos conflitos internos de cunho
político, fato que provocou – e ainda provoca – a morte de milhares de
habitantes.
Visando estabelecer a paz no território nacional, as
duas principais forças políticas da Colômbia (liberais e conservadores)
formaram a Frente Nacional, na década de 1960. Essa organização teve forte
oposição de algumas vertentes das forças liberais, resultando na formação de
grupos guerrilheiros de ideologia socialista, com destaque para o Exército de
Libertação Nacional (ELN), o Movimento Revolucionário 19 de Abril (M-19) e,
principalmente, para as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Criada em 1964, pelo ex-combatente liberal Pedro Antônio
Marin, também conhecido como Tirofijo, as Farc surgiu como um grupo de cunho
marxista-leninista, atuando no meio rural e adotando táticas de guerrilha. Essa
organização tem como discurso ideológico a implantação do socialismo na
Colômbia, promovendo a distribuição igualitária de renda, a reforma agrária, o
fim de governos corruptos e das relações políticas e econômicas com os Estados
Unidos, entre outros aspectos sociais.
Durante a década de 1990, a organização chegou a
dominar cerca de 40% do território colombiano, possuindo mais de 18 mil guerrilheiros.
Porém, as ações do Exército nacional, financiado pelos EUA, expulsou o grupo
para regiões próximas à fronteira com países vizinhos. Essa atitude do governo
“enfraqueceu” o movimento, que, atualmente, é formado por aproximadamente oito
mil guerrilheiros. Outra baixa significativa foi à morte de Mono Jojoy (um dos
líderes das Farc), assassinado em setembro de 2010.
Os sequestros e o contrabando de drogas, em especial
da cocaína, são práticas comuns nas Farc, pois através desses recursos a
organização obtém dinheiro para se equipar militarmente. Entretanto, a partir
da década de 1980, o grupo intensificou a exploração do narcotráfico e a
violência, fato que desvirtuou seu foco de atuação, passando a ser considerada
uma organização terrorista, que tem como principal objetivo a produção e venda
de drogas.
Nesse sentido, as Farc caíram em descrédito com a
população colombiana, que via nessa organização uma alternativa para reparar as
desigualdades sociais no país. Pesquisas indicam que a maioria dos habitantes é
contrária à atuação das Farc.
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