O
VLT do Cariri funciona há mais de dois anos transportando por uma antiga linha
férrea cerca de 1.400 usuários por dia. Ele percorre nove estações ao longo de
13,6 quilômetros em 40 minutos e liga as cidades do Crato e de Juazeiro do
Norte, principais centros urbanos da região do Cariri, sul do Ceará.
Menos
emissões
“A
emissão de gases é muito menor. O modelo utilizado no Cariri tira seis ônibus
bem mais poluentes das ruas. É considerado um veículo bem seguro, confortável e
mais rápido”, explica o engenheiro mecânico e diretor de operações da empresa
responsável pelo VLT do Cariri, o Metrô de Fortaleza (Metrofor), Plínio Saboia.
Soluções
mais sustentáveis para as cidades, inclusive dos seus sistemas de transporte,
são um dos temas a serem debatidos na Rio+20, a Conferência da ONU sobre
Desenvolvimento Sustentável, que acontece este mês no Rio de Janeiro.
O
trânsito entre os moradores das duas cidades seja para trabalhar, estudar ou
comprar é histórico e, antes, o transporte público era feito por uma linha de
ônibus intermunicipal e vans. Saboia considera o VLT uma evolução dos antigos
bondes elétricos. "Em outros países, os bondes foram se aperfeiçoando até
chegar ao modelo de VLT. No Brasil, deixou de ser utilizado, e cada pessoa
passou a ser locomover no seu carro".
“Acho
que o VLT ainda vai crescer muito pelo Brasil. É um transporte barato, polui
menos que outros transportes, é mais rápido e confortável”, diz Geovane Araújo,
um dos operadores do VLT. A implantação do metrô gerou, aproximadamente, 160
empregos diretos na região.
'Made
in Ceará'
O
pioneirismo cearense em "resgatar o bonde" chamou a atenção de outras
cidades brasileiras, como Recife, Maceió, São Paulo, Rio de Janeiro e Macaé. As
empresas e governos interessados no modelo viajam ao Ceará para conhecer a
fábrica, o trem e as estruturas das estações. Os três veículos, com duas
composições cada, foram montados pela empresa Bom Sinal, no município de
Barbalha, a 28 quilômetros de Juazeiro do Norte.
As peças de tração dos trens são importadas da
Alemanha, mas a integração das partes e dos sistemas é toda feita no Ceará. “O
VLT é 80% feito no Ceará, é uma tecnologia nacional”, afirma o diretor de
operações do Metrofor.
A
linha férrea usada para o transporte de cargas da linha Transnordestina foi remodelada
para receber o novo veículo e a prioridade no trecho tornou-se a locomoção de
passageiros.
Os
engenheiros decidiram utilizar o modelo com motor movido a diesel, em vez do
elétrico, pelo fato de os custos serem mais baixos. Segundo o governo do estado,
o valor total da implantação foi de R$ 25 milhões.
Economia
Os
benefícios da chegada do VLT, com uma passagem no valor de R$ 1, são logo
sentidos no bolso e no tempo dos usuários. “Gastava mais de R$ 85 de gasolina
e, hoje, não chego a gastar nem R$ 60 por mês indo trabalhar”, diz Allan
Batista.
“É
climatizado, mais seguro e não é lotado como os ônibus. Em dez minutos,
chegamos à escola. A gente percebe também a mudança para os estudantes. O trem
facilitou muito a vida deles, que sempre precisam fazer uma atividade extra e
não dependem mais de ônibus e da insegurança”, relata a professora de língua
estrangeira e empreendedorismo.
“Além
de remodelar os trilhos, o entorno também passou por melhorias. Nesse percurso
do trem, foram instalados escolas, supermercados e restaurantes”, diz a
diretora do Metrô do Cariri, Dina Moreira. A Escola Estadual de Educação
Profissional Raimundo Saraiva Coelho, onde os dois professores trabalham, foi
inaugurada em agosto de 2011, ao lado da passagem do VLT.
Subutilizado
Mesmo
com as mudanças nas rotinas de Allan, Fabiana, e de muitos estudantes, o metrô
do Cariri ainda é subutilizado. A meta do Metrofor é que de 2.500 a 3.000
pessoas sejam beneficiadas diariamente com o trem. Por ter reaproveitado o
caminho da linha férrea construída há mais de 50 anos, o VLT não passa pelas
áreas centrais das cidades. Para chegar às estações, a maioria dos usuários
precisa tomar um ônibus, pagando duas passagens.
O
Metrofor informou que estuda um projeto de integração no metrô da região.
"Quando os transportes estão interligados, há um aproveitamento bem
melhor”, afirma o diretor Plínio Saboia. Segundo o governo estadual, não há
previsão para a integração se concretizar.
Além
da falta de integração, as viagens de metrô estão mais difíceis por causa da
demora de uma viagem para outra. A espera média de um usuário, que deveria ser
de 40 minutos, agora é de uma hora e vinte minutos, porque apenas um trem está em
atividade. Dois veículos foram danificados em colisões com automóveis e estão
parados para reformas. O Metrô do Cariri funciona com três veículos, dois em
atividade e um sobressalente. Segundo a diretora Dina Moreira, a situação deve
ser normalizada ainda em junho.
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