A
indústria é um dos três setores da economia. Os outros dois são os serviços e a
agropecuária. A atividade industrial é muito importante nas economias dos
países desenvolvidos e de muitos países em desenvolvimento, especialmente os
emergentes. Entretanto, não é simples captar a importância do setor industrial
na economia de um país. Nos países industrializados mais avançados a maior
contribuição para o PIB vem do setor de serviços, não do industrial. Os
serviços contribuem em média com 70% do PIB, a indústria com mais ou menos 30%
e o setor agrícola com 1% ou 2%.
Setor de serviços - o setor que
mais gera empregos e renda na economia
Por outro lado, há países muito pobres em que
a participação da indústria é muito reduzida, como é o caso de muitos países
africanos, que dependem basicamente da agropecuária e as indústrias existentes
são, em sua grande maioria, de beneficiamento de alimentos, e outros que, mesmo
sendo pobres, a participação do setor industrial é elevado, como muitos países
do Oriente Médio, devido à exploração de petróleo. Muitos países africanos dependem
exclusivamente da produção agrícola
A participação da indústria no PIB, não é
suficiente para mostrar a importância quantitativa e qualitativa da atividade
industrial de um país. Por isso, a Organização de Desenvolvimento Industrial
das Nações Unidas (Unido) trabalha com o índice de competitividade industrial,
um indicador que mede várias dimensões desse setor de atividade em 122 países.
Com base nele é possível avaliar de forma mais abrangente a importância da
indústria e seu grau de desenvolvimento tecnológico.
Produção de petróleo - fator que
eleva o índice de competitividade industrial de muitos países
O
índice de competitividade industrial é composto de quatro dimensões:
a)
Capacidade industrial - medida
pelo valor industrial agregado per capita;
b) Capacidade de exportação de produtos industrializados - medida
pela exploração de maquinofaturados per capita;
c) Intensidade de industrialização - medida pela participação do
setor industrial no PIB e de produtos de alta e média tecnologia no valor
industrial agregado;
d) Qualidade da exportação - medida pela participação dos produtos
industrializados e dos bens de alta e média tecnologia no total das
exportações.
Entretanto, as atividades agrícolas, o comércio e os serviços não funcionariam
caso não existisse a indústria. A agricultura moderna utiliza ferramentas,
sementes selecionadas, adubos, inseticidas, máquinas e diversos outros insumos
produzidos industrialmente; as diversas lojas existentes nas cidades - de
roupas, sapatos, eletrodomésticos, automóveis, móveis etc. -, além de
supermercados e farmácias, não teriam mercadorias para vender caso não
existisse a indústria de bens de consumo.
Agricultura moderna - exemplo de
utilização dos produtos industriais
O
mesmo se dá com a maioria das atividades de prestação de serviços. Não
existiria manutenção de diversos aparelhos, fornecimento de energia elétrica,
de água, as telecomunicações, os transportes, entre outros, se não fossem a
indústria de bens de capital para produzir os equipamentos necessários para
esses serviços essenciais funcionarem.
Sem contar que para uma indústria funcionar são necessários serviços de
administração, limpeza, transporte, manutenção, alimentação, segurança etc.,
gerando muitos empregos no setor de serviços.
A crescente automatização,
especialmente nos países desenvolvidos e em alguns emergentes, tem reduzido
relativamente o número de pessoas empregadas na indústria. Hoje, nos países
industriais mais avançados a maioria dos trabalhadores está empregada no setor
de serviços. Quanto mais avançada uma economia, menos trabalhadores são
empregados na indústria e mais nos serviços.
Robotização - principal
responsável pelo desemprego na indústria
CLASSIFICAÇÃO
DAS INDÚSTRIAS
Segundo a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) do IBGE, todas
as atividades desenvolvidas na economia brasileira estão classificadas em 21
grandes categorias: A - Agricultura, pecuária, produção
florestal e silvicultura; B - Pesca; C - Indústrias
extrativas; D - Indústria de transformação; E - Produção
e distribuição de eletricidade, gás e água; F -Construção; G
- Comércio, reparação de veículos automotores, objetos pessoais e
domésticos; e assim vai, até chegar a letra U. Cada uma dessas atividades é
dividida em setores e subsetores. A classificação da CNAE segue padrões
internacionais utilizados em levantamentos estatísticos para permitir
comparações entre o Brasil e outros países.
Educação - classificação M
A CNAE classifica toda a produção industrial brasileira em duas grandes
categorias: indústrias extrativas, dividida em 5 setores - extração
de petróleo e gás natural, extração de minerais metálicos etc. - e indústrias
de transformação, distribuídas em 24 setores - fabricação de produtos
alimentícios, de máquinas e equipamentos, metalurgia etc. Indústria
alimentícia - tipo de indústria de transformação
O que comumente é chamado de indústria da construção civil, o IBGE chamou de
construção (item F da lista da CNAE), categoria que abriga os setores de construção
de edifícios e de obras de infraestrutura. Indústria
da construção civil
Há outra classificação, com base na qual o órgão do IBGE coleta dados e divulga
os Indicadores da produção industrial por categorias de uso. Nessa
classificação, o órgão agrupa todos os setores e subsetores das indústrias de
transformação da CNAE em três categorias, que são:
Segundo
a função
a)
Indústrias germinativas - são as que
geram o aparecimento de outras indústrias. Exemplo: petroquímica petroquímica exemplo de indústria germinativa
b)
Indústrias de ponta - são as indústrias dinâmicas, que
comandam a produção industrial. Exemplo: indústrias químicas e automobilística. Indústria
automobilística - também chamada de indústria de ponta
Segundo
a tecnologia
a)
Indústrias tradicionais - são as que
ainda estão ligadas às vantagens oriundas da Primeira Revolução Industrial.
Podem ser empresas familiares (empresas "clânicas") e denunciam sua
presença pelos seus aspectos internos e externos e por sua localização. Indústria
de calçados - exemplo de indústria tradicional
b)
Indústrias dinâmicas - são
aquelas ligadas ao desenvolvimento recente da química, eletrônica e
petroquímica. Utilizam muito capital e tecnologia e relativamente pouca mão de
obra. Possuem uma flexibilização maior de localização. Indústria aeroespacial - exemplo
de indústria dinâmica
Segundo
a aplicação dos recursos ou fatores
a)
Indústrias capital-intensivas - as
que aplicam os maiores recursos nos fatores capital-tecnologia. Agroindústria - exemplo de
indústria capital-intensiva
b)
Indústrias trabalho-intensivas - as
que empregam os maiores recursos em força de trabalho. Produção
de telhas - um exemplo de indústria trabalho-intensiva
Considerando os bens produzidos, o IBGE classifica
as indústrias de transformação em três categorias: indústrias de bens
intermediários, de bens de capital e de bens de consumo.
a) Indústrias de bens intermediários - fabricam produtos
semiacabados utilizados como matérias-primas por outros setores industriais.
São também chamadas de indústrias pesadas por transformarem grandes quantidades
de matérias-primas. Tendem a se localizar perto dos recursos naturais ou de
portos e ferrovias, o que facilita a recepção de matérias-primas e o escoamento
da produção. São exemplos dessa indústria a siderúrgica, a petroquímica, a de
celulose e papel, a de cimento etc. Produção de aço em uma indústria
siderúrgica
b)
Indústrias de bens de capital - são
responsáveis por equipar as indústrias em geral, assim como a agricultura, os
serviços e toda a infraestrutura. Tendem a se localizar em lugares onde há boa
infraestrutura industrial, nas proximidades de empresas consumidoras de seus
produtos, ou seja, em grandes regiões urbano-industriais. São exemplos desse
tipo de indústria as máquinas e equipamentos para: indústrias em geral,
agricultura, transportes, geração de energia etc.
Máquinas
agrícolas - exemplo de indústria de bens de capitais
c)
Indústrias de bens de consumo - também
chamadas de indústrias leves, são as mais dispersas espacialmente: estão
localizadas em grandes, médios e pequenos centros urbanos, ou mesmo na zona
rural de diversos países. Porém, concentram-se preferencialmente em regiões
urbano-industriais onde há maior disponibilidade de mão de obra e mais
facilidade de acesso ao mercado consumidor. Divide-se em:
1.
Indústrias de bens de consumo não duráveis - são as indústrias que atuam na produção de
mercadorias perecíveis, ou seja, em produtos que devem ser consumidos em um
curto período de tempo, como a indústria alimentícia, de bebidas, de remédios
etc. Exemplo de produto da indústria de
bens de consumo não duráveis
2.
Indústrias de bens de consumo semiduráveis - são aquelas que produzem itens cujo tempo de
duração não é muito curto nem muito longo, como por exemplo as indústrias de
vestuário, acessórios, calçados etc. Indústria têxtil - exemplo de
indústria de bens de consumo semiduráveis
3.
Indústrias de bens de consumo duráveis - atuam
na produção de mercadorias de grande vida útil, como as indústrias de móveis,
eletrodomésticos, automóveis etc. Automóveis - exemplo de produto da
indústria de bens de consumo duráveis.
ESTRUTURA
E DISTRIBUIÇÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA
Em 2009, a atividade industrial era responsável por 29% do PIB
brasileiro. Segundo o IBGE, as atividades mais importantes em 2007 foram:
refino do petróleo e produção de álcool (15,3%), alimentos (12,2%), produtos
químicos (10,3%), fabricação e montagem de veículos automotores (8,5%),
metalurgia básica (7,9%) e máquinas e equipamentos (6,0%), responsáveis por
aproximadamente 60% do total do valor da transformação industrial do país.
Porém vem crescendo bastante o investimento em indústrias ligadas às novas
tecnologias, como robótica, aeronáutica, eletrônica, telecomunicação, mecânica
de precisão e biotecnologia. Vem crescendo no Brasil o uso de
tecnologia de ponta.
Essa modernização do parque industrial ganhou impulso com a instalação de
diversos parques tecnológicos (ou tecnopolos) espalhados pelo país e que
estimulam a parceria entre universidades, instituições de pesquisa e as
empresas privadas. Buscam maior competitividade e desenvolvimento de produtos e
localizam-se próximos aos maiores centros universitários, em locais onde há
disponibilidade em mão de obra especializada, rede de transportes, energia e
comunicações que permitam conexão com outros centros de pesquisa localizados no
país ou no exterior.
No Brasil, os parques tecnológicos aparecem em todas as regiões. Os
principais estão localizados em:
- São Paulo, Campinas e São José dos Campos
(SP), Santa Rita do Sapucaí e Viçosa (MG) e Rio de Janeiro (RJ), no
Sudeste;
- Fortaleza (CE), Recife (PE), Campina Grande
(PB) e Aracaju (SE), no Nordeste;
- Cascavel (PR), Florianópolis (SC) e Porto
Alegre (RS), no Sul;
- Brasília (DF), no Centro-Oeste;
- Manaus (AM) e Belém (PA), no Norte.
Entre os aspectos positivos da dinâmica atual da indústria brasileira, podemos
destacar:
- grande potencial de expansão do mercado
interno com desconcentração de produção e consumo (que vem se fortalecendo
pelas políticas de transferência de renda promovidas pelos governos
federal, estaduais e municipais);
- os aumentos nas exportações de produtos
industrializados, mesmo que em ritmo inferior ao dos produtos primários
devido às crescentes importações chinesas;
- o aumento na produtividade; e
- a melhora da qualidade dos produtos.
A indústria ainda enfrenta, porém, vários problemas que aumentam os custos e
dificultam a maior participação no mercado externo, tais como:
- problemas de logística: deficiências e altos
preços nos transportes;
- baixo investimento público e privado em
desenvolvimento tecnológico;
- baixa qualificação da força de trabalho;
- elevada carga tributária;
- barreiras tarifárias e não tarifárias impostas
por outros países à importação de produtos brasileiros.
A abertura da economia brasileira na década de 1990 facilitou a entrada de
muitos produtos importados, forçando as empresas nacionais a se modernizar e
incorporar novas tecnologias ao processo produtivo para concorrerem com as
empresas estrangeiras. Apesar da modernização continua havendo aumento no
contingente de trabalhadores na indústria de todos os gêneros, porém, esse
aumento não acompanhou o ritmo de ingresso de mão de obra no mercado de
trabalho.
DESCONCENTRAÇÃO
DA ATIVIDADE INDUSTRIAL
Em função de fatores históricos e de novos investimentos em
infraestrutura de energia e transportes, entre outros, o parque industrial
brasileiro vem se desconcentrando e apresenta uma maior dispersão espacial dos
estabelecimentos industriais em regiões historicamente marginalizadas.
Embora desde o início do século XX o eixo São
Paulo-Rio de Janeiro seja responsável por mais da metade do valor da produção
industrial brasileira, até a organização espacial das atividades econômicas era
dispersa. As atividades econômicas regionais progrediam de forma quase
autônoma. A região Sudeste, onde se desenvolvia o ciclo do café, quase não
interferia nem sofria interferência das atividades econômicas que se
desenvolviam no Nordeste (cana, tabaco, cacau e algodão) ou no Sul (carne,
indústria têxtil e pequenas agroindústrias de origem familiar). As indústrias
de bens de consumo, a maioria ligada aos setores alimentício e têxtil, escoavam
a maior parte de sua produção apenas em escala regional. Somente um pequeno
volume era destinado a outras regiões, não havendo significativa competição
entre as empresas instaladas nas diferentes regiões do país, consideradas até
então arquipélagos econômicos regionais.
Mapa das principais atividades
econômicas desenvolvidas no Brasil no século XIX
Com a crise do café e o impulso à industrialização, comandada pelo Sudeste,
esse quadro se alterou. A oligarquia agrária do setor cafeeiro deslocou
investimentos para o setor industrial, implantando, principalmente em São Paulo,
fábricas modernas para os padrões da época. O governo federal, presidido por
Getúlio Vargas, promoveu a instalação de um sistema de transportes integrando
os arquipélagos econômicos regionais. Houve uma invasão de produtos industriais
no Sudeste e nas demais regiões do país, o que levou muitas indústrias,
principalmente nordestinas, à falência. Assim, com a crise do café, iniciou-se
o processo de integração dos mercados regionais, comandado pelo centro
econômico mais dinâmico do país, o eixo São Paulo-Rio de Janeiro.
Eixo
Rio de Janeiro - São Paulo - Belo Horizonte
-
principal área industrial e comercial do Brasil
Além de terem se iniciado com mais força no Sudeste, as atividades industriais
tenderam a concentrar-se nessa região por causa de dois fatores básicos:
- a complementaridade industrial: as
indústrias de autopeças tendem a se localizar próximo às automobilísticas;
as petroquímicas, próximo às refinarias etc.; e
- a concentração de investimentos
públicos no setor de infraestrutura industrial: pressionados pelos
detentores do poder econômico, os governantes costumam atender às suas
reivindicações. O governo gastaria menos concentrando investimentos em
determinada região em vez de distribuí-lo pelo território nacional,
sobretudo no início do processo de industrialização, quando os recursos
eram mais escassos.
A primeira grande ação governamental para dispersar o parque industrial
aconteceu em 1968, quando foi criada a Superintendência da Zona Franca de
Manaus (Suframa) e instalado um polo industrial naquela cidade, o que promoveu
grande crescimento econômico. A seguir, como resultado dos Planos Nacionais de
Desenvolvimento dos governos Médici e Geisel, no final de década de 1970 e
início da seguinte começaram a ser inauguradas as primeiras usinas hidrelétricas
nas regiões Norte e Nordeste: Tucuruí, no rio Tocantins; Sobradinho, no São
Francisco, e Boa Esperança, no Parnaíba. Quando o governo passou a atender ao
menos parte das necessidades de infraestrutura das regiões historicamente
marginalizadas, começou a haver um processo de dispersão do parque
industrial pelo território, não apenas em escala nacional, mas regional. Usina de Sobradinho - contribuiu
para impulsionar a indústria no Nordeste
Além da alocação de infraestrutura, ao longo da década de 1990, as indústrias
passaram a se dispersar em busca de mão de obra mais barata, provocando a
intensificação da guerra fiscal entre estados e municípios que reduzem impostos
e oferecem outras vantagens, como doação de terrenos, para atrair as empresas.
Mesmo no estado de São Paulo, o mais equipado do país quanto a
infraestrutura de transportes e energia, historicamente houve maior
concentração de indústrias na Região Metropolitana de São Paulo.
Atualmente, seguindo uma tendência já verificada em países desenvolvidos,
onde ocorre o processo de deslocamento de indústrias em direção às cidades
médias do interior, que, por isso, apresentam índices de crescimento econômico
superiores aos da Grande São Paulo. Isso é possível graças ao grande
desenvolvimento da informática e à modernização da infraestrutura de produção
de energia, transporte e comunicação, criando condições de especialização
produtiva por intermédio da integração regional. As regiões tendem, atualmente,
a se especializar em poucos setores da atividade econômica e a buscar em outros
mercados (do Brasil ou do exterior) as mercadorias que satisfaçam as
necessidades diárias de consumo da população.
FONTE: Sene, Eustáquio de. Geografia geral e do
Brasil, volume 3: espaço geográfico e globalização: ensino médio / Eustáquio de
Sene, João Carlos Moreira. - São Paulo: Scipione, 2011.
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