O
delicado leito marinho ao redor da península antártica pode ser invadido por
uma espécie de caranguejo voraz, cuja propagação parece ser favorecida pelo
aquecimento global, alertam biólogos marinhos em um estudo que será publicado
na edição desta quarta-feira da revista britânica Proceedings of the Royal
Society B".
A nova
praga é o caranguejo-real, crustáceo de cor vermelha intensa que vive nas profundezas
e tem um impacto importante no leito marinho onde se instala.
Este
animal cava o fundo em busca de larvas e outros pequenos animais dos quais se
alimenta e, em grande escala, é capaz de alterar a cadeia alimentar.
Uma
equipe de cientistas chefiada por Laura Grange, da Universidade do Havaí, fez
observações em Palmer Deep, fossa situada 120 km a sudeste da margem
continental da península antártica, situada ao norte do continente, onde a
profundidade chega a 1.440 metros.
Um robô
permitiu detectar 42 caranguejos em uma área de 2 quilômetros, vivendo a mais
de 850 metros de profundidade, sob temperaturas por volta de 1,4°C. Nenhum
crustáceo foi detectado em águas mais rasas, onde a água é mais fria.
A
partir desta observação, os autores do estudo calcularam a população de
caranguejos em um milhão e meio de indivíduos.
A
densidade seria, assim, superior à dos caranguejos da mesma família capturados
no Alasca e que equivale à daqueles pescados em frente à ilha da Geórgia do
Sul, no Atlântico sul.
As
imagens obtidas pelos cientistas deram uma noção do tipo de danos que estes
crustáceos podem causar no fundo do mar da Antártida. Os animais, cuja carapaça
mede uns 10 centímetros, fazem buracos na areia que podem chegar a 20
centímetros.
O
aquecimento global, que provoca a elevação progressiva das temperaturas das
águas costeiras, cria condições que permitem ao caranguejo-real avançar para a
Antártida, avaliam os cientistas.
Segundo
vários estudos, a península antártica é uma das regiões do mundo mais
vulneráveis às mudanças no clima. As águas de sua base continental se aquecem
ao ritmo de 0,1 grau por década.
Embora
o caranguejo-real seja atualmente contido pelas baixas temperaturas, ele
poderia se espalhar para o continente gelado em 10 ou 20 anos, estimou o
estudo.
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