Economia e história da potência
O início das transformações
A China atrai investimentos do mundo inteiro, inclusive do Brasil, e a presença da nova economia chinesa no mercado mundial tem causado impactos no mercado de trabalho de diversos países: empresas fecharam suas unidades produtivas e as deslocaram para lugares que oferecem menor custo e maior rentabilidade. A China tem sido o destino preferencial destas empresas, inclusive algumas brasileiras.
O modelo chinês
As fazendas coletivas foram distribuídas aos camponeses e foi permitida a produção para o mercado. No entanto, o poder sobre as terras pertence ao Estado e a posse pode ser transferida para outro agricultor.
Mesmo nas áreas urbanas a propriedade do solo permanece do Estado. Ser dono de um imóvel na China é ser proprietário das construções realizadas sobre o solo e adquirir o direito de utilizar o terreno por um prazo de 90 anos.
Difícil encaixar a China atual num determinado sistema econômico. É melhor usar o termo sistema chinês. A constituição chinesa afirma que a China é um socialismo de mercado. Outros afirmam que o que existe de fato é um sistema capitalista controlado pelo Estado. De fato, a economia de mercado está em contradição com o controle estatal.
Por outro lado, o socialismo teve origem no combate às desigualdades econômicas e sociais produzidas pelo mercado e, embora parcela significativa da população chinesa tenha sido beneficiada pelo crescimento econômico, os contrastes sociais são muito mais evidentes.
A contradição entre economia socialista (planificada pelo Estado) e economia capitalista (baseada no mercado) passou a ser vista pelo governo chinês como uma besteira. Deng Xiaoping chegou a declarar a esses respeito que: "Não importa a cor do gato, importa que ele pegue o rato".
O Estado foi o principal instrumento da modernização acelerada que transforma diariamente a paisagem da China. O ritmo da economia chinesa exige construções permanentes ou reaparelhamentos de portos, rodovias, estradas de ferro, aeroportos e usinas de energia.
Repressão e censura
Em 1989, uma ampla manifestação estudantil pró-democracia foi esmagada com tanques e fuzis. Sindicatos e greves são proibidos e qualquer manifestação é violentamente reprimida. Muitos militantes por direitos civis exilaram-se. A liberdade de expressão é inexistente e as críticas ao governo chinês são severamente punidas com prisão ou morte.
O conteúdo da internet é totalmente controlado pelas autoridades locais através de filtros que bloqueiam o acesso a determinados sites na Web. A Google, para entrar neste mercado, teve que se adaptar à regulamentação e ao controle das autoridades e restringir seus conteúdos de busca disponíveis. Além disso, não hospedará blogs nem correios eletrônicos.
De acordo com a Anistia Internacional, a China foi responsável por 80% das aplicações da pena de morte realizadas no mundo no ano de 2005, e faz parte da lista dos países em que alguns condenados tem menos de 18 anos de idade.
País é considerado a oficina do mundo
Em outubro de 2009, a China, ou Império do Meio (Tchong-Kouo), relembrará 60 anos da revolução comunista. Mao Tse-Tung, líder do PCCh (Partido Comunista Chinês), enquanto viveu, até 1976, defendeu a política como prioridade superior à economia - o igualitarismo social era mais importante que a produtividade. Depois de sua morte, assumiu Den Xiaoping, em 1978, que passou a dar prioridade à produtividade. Essa tendência ficou famosa com a seguinte frase de Xiaoping: "Não importa se o gato é branco ou preto, o que importa é que apanhe os ratos".
Todavia, a confirmação da China - que conta com uma população de 1,3 bilhão de habitantes e é o terceiro maior território do mundo - como a principal potência emergente do século 21 depende não apenas de sua pujança econômica, mas também de mudanças políticas - que garantam direitos trabalhistas e liberdade de expressão - e da solução de graves problemas ambientais.
Hipertrabalho
Para se ter uma ideia da situação, um trabalhador médio estadunidense, que trabalha em torno de 8 horas por dia, recebe um salário de 3 mil dólares por mês, enquanto um trabalhador médio chinês, que, muitas vezes, trabalha mais de 10 horas por dia, ganha 160 dólares mensalmente. Isso vale também para os trabalhos que exigem um melhor nível de qualificação profissional: enquanto um designer de hardware dos Estados Unidos ganha 300 mil dólares anuais, um chinês não recebe mais do que 24 mil dólares por ano.
A China conta com uma população economicamente ativa (PEA) de 700 milhões de pessoas - um verdadeiro "exército industrial de reserva" -, que continuarão dispostas a trabalhar por horas a fio em troca de poucos dólares. Porém, são cada vez mais visadas pela opinião pública internacional as grandes empresas multinacionais que usam (ou apóiam) os chamados sweatshops ("fábricas do suor"), nos quais ocorre a exploração extrema dos trabalhadores, chegando a ceifar vidas - o que os chineses chamam de guolaosi (morte súbita por hipertrabalho).
A economia chinesa vem despertando a atenção da comunidade internacional há quase três décadas, devido a seu intenso crescimento, na casa dos 10% ao ano. Para se ter uma idéia do gigantismo, em 2007, às portas da crise financeira, o PIB (Produto Interno Bruto) chegou a 4,3 trilhões de dólares, o que a coloca como a terceira maior economia do mundo (atrás do Japão e dos EUA), com a previsão de que, em 2030, se tornará a primeira economia mundial.
Centralismo político
O governo central centraliza com mão de ferro as questões de ordem política, que pouco foram alteradas desde a época maoísta. De um lado, é essa política que reprime jovens manifestantes sedentos de maior abertura política. De outro lado, tal política centralizada conduz o planejamento estratégico chinês, garantindo o positivo crescimento econômico.
Exemplos do centralismo governamental são o controle do câmbio e a desvalorização da moeda (1 dólar equivale a cerca de 8 yuans), apesar das críticas dos EUA. Esse câmbio garante um nível elevado de exportações e, em 2007, assegurou um superávit comercial de 260 bilhões de dólares - e, portanto, um afluxo considerável de capitais. É assim que a China possui hoje uma grande reserva internacional, da ordem de 2 trilhões de dólares.
Essa grande disponibilidade de crédito interno permite uma aceleração do processo de modernização, a multiplicação de obras de infraestrutura (portos, aeroportos, rodovias, estradas de ferro, metrôs, pontes, hidrelétricas) e a intensificação do processo de urbanização de muitas cidades.
Desafios
a) a necessidade de repensar questões ligadas à liberdade e à democracia;
b) direito dos trabalhadores a condições mais digna de vida;
c) diminuição das desigualdades sociais - apesar de a China ter retirado cerca de 250 milhões de pessoas da pobreza, há ainda 200 milhões de pessoas abaixo da linha da miséria (que sobrevivem com menos de 1 dólar por dia);
d) conter o intenso êxodo rural, pois se acredita que, nos próximos anos, cerca de 200 milhões de trabalhadores chineses migrarão para as cidades em busca de emprego - muitos deles, inclusive, de forma ilegal, pois a migração tem de ser autorizada pelo governo;
e) repensar a questão ambiental, pois a tendência é de que, em 20 anos, a China ultrapasse os EUA na emissão de gases do efeito estufa.
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