Um dos mitos sobre o naufrágio dizia que o navio era chamado de "inafundável" por seus construtores. O adjetivo seria justificado pelos compartimentos dotados de sistema de escoamentos de água, um dos triunfos da engenharia náutica daquele tempo. Tal alcunha, entretanto, só foi conferida pela imprensa após o desastre.
Outra lenda, perpetuada por filmes, atribuía também aos proprietários o lema "Nem Deus pode afundar". Tal afirmação nunca foi feita, mas ajudou a ressaltar componentes míticos e religiosos na trama do naufrágio.
Além do arrojo científico, o transatlântico exibia o refinamento da belle époquena Europa do começo de século. Tudo foi planejado para priorizar o conforto dos passageiros, o que incluía piscina, ginásio de esportes, bibliotecas, campos de squash, restaurantes e cabines, em ambientes decorados no estilo renascentista e vitoriano.
Mas toda essa comodidade era exclusiva da primeira classe, onde viajavam integrantes da alta sociedade inglesa e norte-americana, como nobres, industriais e empresários. Apartados das celebridades, na terceira classe estavam alojados milhares de imigrantes europeus que partiram em busca do "sonho americano". O navio era, assim, o microcosmo da divisão econômica de classes.Icebergs
No dia 10 de abril o Titanic deixou o porto de Southampton, na Inglaterra, para sua viagem inaugural rumo à Nova York, nos Estados Unidos. Fez escalas na França e na Irlanda, onde embarcaram mais passageiros (homens, mulheres e crianças). Havia um total de 2.224 pessoas a bordo.
O Titanic era comandado pelo capitão Edward J. Smith, veterano dos mares que fazia sua última jornada antes de se aposentar. Morto no acidente, seria retratado ora como um herói ora como responsável pela catástrofe.
Na noite de 14 de abril, a despeito de avisos de icebergs na rota, o Titanic seguia a toda a velocidade (40 km/h). O objetivo era chegar ao destino antes do tempo previsto de uma semana e, assim, vencer a acalorada competição entre firmas de transatlânticos, que disputavam tanto o transporte de passageiros quanto de cargas e correspondência. Conforto, lazer e rapidez eram os requisitos para vencer essa "guerra".
Por isso, quando os vigias deram alerta de um iceberg no caminho da embarcação, era tarde demais para evitar o choque. Uma série de cortes ao longo do casco de aço, numa extensão de 90 metros, causou a inundação de cinco dos seis compartimentos do navio, algo inusitado para os engenheiros que projetaram o sistema à prova d'água.
Com o equilíbrio comprometido, o afundamento se tornou inevitável. O capitão, então, deu duas ordens: uma para enviar mensagens de socorro por telégrafo e outra para que os passageiros deixassem o navio em botes salva-vidas.
Hipotermia
A tripulação adotou a convenção internacional de priorizar mulheres e crianças, o que explica a maioria masculina das vítimas. Mas, mesmo assim, os botes deixaram o Titanic aquém da lotação. Entre os motivos, a incredulidade dos próprios passageiros em abandonar uma fortaleza flutuante para se lançarem no abismo escuro e gélido do oceano.
Às 2h20 a proa afundou e, com o peso, o navio rompeu-se ao meio e submergiu. Milhares de pessoas morreram minutos depois de hipotermia (a temperatura da água era de 2 graus negativos). Os sobreviventes foram salvos pela tripulação do Carpathia, fabricado pela concorrente Cunard Line. Entre eles estavam o presidente da White Star, J. Bruce Ismay, dono do Titanic que, acusado de covardia, caiu no ostracismo e foi à falência.
Após a tragédia foram criadas novas normas de segurança internacional marítima. Mas o Titanic, mais do que um episódio da "era de ouro" dos transatlânticos, sobrevive até hoje como uma das mais incríveis histórias da humanidade.
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