Geografia da Amizade

Geografia da Amizade

Amizade...Amor:
Uma gota suave que tomba
No cálice da vida
Para diminuir seu amargor...
Amizade é um rasto de Deus
Nas praias dos homens;
Um lampejo do eterno
Riscando as trevas do tempo.
Sem o calor humano do amigo
A vida seria um deserto.
Amigo é alguém sempre perto,
Alguém presente,
Mesmo, quando longe, geograficamente.
Amigo é uma Segunda eucaristia,
Um Deus-conosco, bem gente,
Não em fragmentos de pão,
Mas no mistério de dois corações
Permutando sintonia
Num dueto de gratidão.
Na geografia
da amizade,
Do amor,
Até hoje não descobri
Se o amigo é luz, estrela,
Ou perfume de flor.
Sei apenas, com precisão,
Que ele torna mais rica e mais bela
A vida se faz canção!

"Roque Schneider"



Quem sou eu

Salvador, Bahia, Brazil
Especialista em Turismo e Hospitalidade, Geógrafa, soteropolitana, professora.

terça-feira, 28 de junho de 2011

A AGONIA DOS OCEANOS


Cinco situações-limite mostram o nível alarmante de deterioração dos mares causada pela ação humana
Durante muito tempo, acreditou-se que a vastidão dos oceanos seria capaz de anular as agressões que a ação humana lhes impõe. Vazamentos de óleo e de produtos químicos, por exemplo, ocorrem com freqüência e produzem imagens chocantes. Mas sempre pareceram uma gota na imensidão, de forma que se avaliava que o mar acabaria por anular os efeitos rapidamente. Agora, diante de uma série de fenômenos recentes e inesperados, os biólogos alertam para uma situação muitíssimo mais grave: os oceanos estão doentes e, em muitos casos, ultrapassou-se a capacidade de auto-regeneração. Evidentemente, a ação do homem é decisiva para a deterioração das águas. Nos atóis do Pacífico e no norte da Europa, observa-se a queda abismal dos cardumes de peixes, dos mamíferos marinhos e dos bancos de corais, enquanto cresce a quantidade de algas tóxicas e águas-vivas. Focas, leões-marinhos e golfinhos morrem aos milhares na costa da Califórnia, fulminados por toxinas que até pouco tempo atrás não existiam na região. No Golfo do México, as marés vermelhas, que matam os peixes e lançam no ar substâncias que atacam o sistema respiratório de seres humanos, são cada vez mais freqüentes. Para espanto dos cientistas, algas venenosas que habitavam os mares nos tempos dos dinossauros voltaram a proliferar em uma dúzia de pontos do planeta.

Há várias causas para esses desastres naturais, mas todas têm uma origem em comum: a quantidade cada vez maior de resíduos da atividade humana que vão parar nos oceanos. O conteúdo das fossas e tubulações de esgoto doméstico, os dejetos industriais, os fertilizantes e as substâncias químicas usadas na agricultura e na pecuária – todos esses elementos são ricos em nutrientes básicos, compostos de nitrogênio, carbono, ferro e fósforo, que alteram a composição química dos mares. Eles favorecem a proliferação de algas e bactérias que, em excesso, consomem boa parte do oxigênio da água, sufocam os corais, comprometem a cadeia alimentar dos oceanos e, por extensão, a sobrevivência dos animais.

As emissões de dióxido de carbono (CO2) pela queima de combustíveis fósseis também colaboram para a degradação dos mares. Parte dessas emissões vai para a atmosfera e forma o chamado efeito estufa. Outra parte vai parar nos oceanos e torna a água cada vez mais ácida. Para completar, os materiais plásticos lançados como lixo nos mares, que antes apenas enfeavam as praias, hoje são responsáveis pela morte em massa de pássaros que vivem nos litorais. "A composição química dos oceanos mudou mais rapidamente no século XX do que nos últimos 650.000 anos", disse a VEJA o oceanógrafo Richard Feely, do National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), órgão do governo americano. A dimensão negativa dessas mudanças e o que se pode fazer para evitá-las são o assunto desta reportagem, que se concentra na análise de cinco pontos indicados pelos especialistas como os mais críticos.

A ÁGUA ESTA CADA VEZ MAIS ÁCIDA 
Tornou-se consenso que o dióxido de carbono (CO2) produzido pela queima de combustíveis fósseis é o responsável pelo aquecimento global. Menos conhecidos são seus efeitos nos oceanos, que absorvem boa parte do dióxido de carbono produzido pela ação humana. Quando o CO2 chega aos mares, o poluente se transforma em ácido carbônico, alterando o nível de acidez – o chamado pH – da água. Nas últimas décadas, o pH dos mares vem diminuindo a um ritmo cada vez mais acelerado. Os pesquisadores prevêem que, no fim deste século, caso se mantenha essa diminuição, o pH chegará a 7,9, o que tornará os oceanos vinte vezes mais ácidos do que hoje. Nesse cenário, muitos peixes e animais marinhos terão dificuldade para respirar. O sistema reprodutivo de algumas espécies também será afetado. Estudos feitos em laboratório com água apresentando pH de 7,9 mostram que, sob essas condições, as estruturas de alguns tipos de zooplâncton, compostas de carbonato de cálcio, são corroídas rapidamente – hoje, esse processo já ocorre, embora de forma lenta. Essa não é uma boa notícia, já que o zooplâncton é a base da cadeia alimentar de muitos peixes e mamíferos aquáticos. A acidez também ataca os corais, que se formam mais lentamente ou se deterioram, num fenômeno conhecido como branqueamento. Calcula-se que 60% dos corais do mundo já foram afetados pela diminuição do pH da água salgada.
Os especialistas suspeitam que o aumento da acidez dos oceanos terá outro efeito perverso – o de amplificar o aquecimento global. Os eocolitoforídeos, um tipo de fitoplâncton formado por carbonato de cálcio e também suscetível à acidez, brilham e refletem de volta para o céu parte dos raios solares que incidem sobre o mar. Sem eles, os raios não fariam o caminho de volta e o mar se tornaria mais quente. Através das eras geológicas, os oceanos sempre absorveram o excesso de CO2 da atmosfera, evitando o superaquecimento do planeta. Não fosse por eles, a temperatura da Terra teria aumentado 2 graus, em vez de apenas 1, no último século. Com o excesso de CO2 produzido pelo homem, eles hoje absorvem dez vezes mais esse gás venenoso. No próximo relatório do Painel Intergovernamental de Mudança Climática das Nações Unidas, a ser divulgado em 2007, a crescente acidez dos mares pela primeira vez será apontada como um problema grave.

CRESCE O NÚMERO DE ZONAS MORTAS 
Metade da população do globo mora e trabalha em regiões costeiras – calcula-se que 2.000 famílias se instalem diariamente em áreas próximas aos litorais. A ocupação dessas áreas faz com que um fluxo crescente de água doce contaminada por resíduos de insumos agrícolas, dejetos de gado e esgotos doméstico e industrial seja despejado nos oceanos. Todos esses materiais descartados são ricos em nutrientes, que favorecem a proliferação de algas de vários tipos. As algas são parte da vida marinha, mas, em excesso, transformam-se numa ameaça para todas as outras espécies vegetais e animais. Ao morrerem, elas se depositam no fundo do mar, onde são degradadas por bactérias. Quando há algas demais, a ação desses microrganismos consome a maior parte do oxigênio da água, fazendo com que todas as formas de vida entrem em colapso. O resultado são as zonas mortas, inabitáveis para a maioria das espécies, salvo organismos que vivem com pouco oxigênio, como algumas bactérias. Nos anos 50, havia no mundo três zonas mortas reconhecidas pelas entidades que estudam os oceanos. Hoje, existem 150 – uma delas no entorno da Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro.

O excesso de algas decorrente dos resíduos da ação humana também é mortal para os corais. Mesmo antes de se decomporem, as algas formam um escudo que bloqueia a luz do sol, fundamental para a sobrevivência dos corais. A ocupação acelerada, nas últimas décadas, de uma das regiões turísticas americanas mais conhecidas dos brasileiros, as Florida Keys, provocou um aumento tão intenso no lançamento de esgotos no mar que os quase 350 quilômetros de corais da região estão desaparecendo, vítimas de algas e de bactérias. Embora os recifes de coral cubram menos de 1% do solo dos oceanos, eles servem de abrigo para 2 milhões de espécies, ou 25% da vida marinha. "Cerca de 95% dos recifes de coral do mundo já não abrigam mais uma quantidade de peixes suficientemente variada e numerosa para mantê-los saudáveis", disse a VEJA John McManus, diretor do National Center for Caribbean Coral Reef Research, nos Estados Unidos.

ALGAS TÓXICAS MATAM OS SERES MARINHOS 
Os mamíferos marinhos são vistos pelos oceanógrafos como um bom indicador da saúde dos oceanos. Quando há alterações no comportamento ou no ciclo de vida desses animais, é porque algo vai mal no ambiente em que vivem. Na última década, mais de 14.000 focas, leões-marinhos e golfinhos apareceram mortos ou doentes nas praias da Califórnia. Muitos deles, examinados por veterinários e biólogos marinhos, mostravam evidências de envenenamento por toxinas produzidas por tipos de alga que recentemente encontraram condições propícias para se reproduzir de forma descontrolada. Os animais se intoxicaram ao comer sardinhas e anchovas que se alimentam dessas algas.

Uma das algas tóxicas mais comuns é a pseudonízschia, que produz ácido domóico, substância que afeta o sistema nervoso. Nos leões-marinhos, essa toxina provoca tremores, convulsões e comportamento agressivo. As fêmeas, normalmente dotadas de forte instinto maternal, agridem e chegam a matar seus filhotes logo após o nascimento. Estudos geológicos feitos no Golfo do México, onde desemboca o Rio Mississippi, mostram que a pseudonítzschia não existia no local até os anos 50. Nessa época, difundiu-se largamente o uso de fertilizantes químicos nas fazendas às margens do rio. Estudos atribuem aos fertilizantes, utilizados desde então, a multiplicação acelerada da alga. As mudanças climáticas também afetam a proliferação de algas tóxicas, fazendo com que elas se reproduzam em locais que antes eram muito frios para a espécie.

Outros tipos de alga tóxica que recentemente passaram a se reproduzir de forma descontrolada enfraquecem o sistema imunológico dos animais marinhos, tornando-os mais vulneráveis a parasitas, vírus e bactérias. No Havaí já foram encontradas tartarugas marinhas com tumores do tamanho de uma maçã em volta dos olhos, na boca e atrás das nadadeiras. Os tumores impedem as tartarugas de enxergar, comer e nadar.

AS MARÉS VERMELHAS SÃO MAIS FREQÜENTES 
Sempre que o verão começa, o Mar Báltico fica com a aparência de lama malcheirosa em partes do litoral da Suécia. Os peixes morrem e bóiam na superfície. Quem chega muito perto fica com os olhos ardendo e algumas pessoas têm dificuldade para respirar. Esses são alguns dos efeitos das marés vermelhas, como são chamadas as concentrações de algas tóxicas em águas próximas ao litoral. Até uma década atrás, no Golfo do México esse fenômeno acontecia em média a cada dez anos – hoje, ele ocorre todo ano e chega a durar meses. Marés vermelhas são sinal de oceanos doentes. Elas se devem a uma conjunção de fatores. Entre eles estão a destruição dos pântanos e manguezais próximos à costa e a poluição causada pelo assentamento humano cada vez mais intenso nas regiões litorâneas. Esse cenário diminui a quantidade de peixes e outras espécies marinhas que vivem junto à costa, abrindo caminho para a multiplicação das algas.

Algumas algas produzem toxinas que, além de matar os peixes, são levadas pela brisa marinha até a costa. Em seres humanos, as toxinas provocam incômodo pelo mau cheiro e causam desde reações alérgicas na pele até problemas respiratórios como bronquite e crises de asma. Durante as marés vermelhas, as toxinas produzidas pelas algas podem chegar à mesa do almoço, absorvidas por mexilhões, ostras e outros frutos do mar. A intoxicação por esses alimentos contaminados provoca infecções intestinais e até convulsões e desmaios.

As marés vermelhas também causam perdas financeiras às áreas afetadas. Em diversas regiões da China, onde o fenômeno vem acontecendo com maior freqüência, a pesca comercial fica suspensa enquanto duram as marés. Em regiões turísticas como a Flórida e a Califórnia, as reservas de hotéis são canceladas assim que os alertas de maré vermelha são divulgados.

O LIXO PLÁSTICO INVADE OS LITORAIS 
Há décadas os ambientalistas insistem que os materiais plásticos descartados no mar representam uma das maiores ameaças ao meio ambiente – para a maioria das pessoas, esse discurso parecia mais folclórico do que real. Pois bem, os ecologistas sempre tiveram razão. Cerca de 90% do lixo que bóia nos oceanos é formado por materiais plásticos. O programa ambiental das Nações Unidas estima que 46 000 peças de lixo plástico flutuam em cada 2,5 quilômetros quadrados dos oceanos. Desse total, quatro quintos chegam até o mar varridos pelo vento ou levados pela água da chuva, pelos esgotos e rios. Um quinto é lançado pelos navios.

O Atol de Midway, localizado próximo ao Havaí, simboliza o drama da poluição causada pelos plásticos. Situado no meio do Oceano Pacífico, ele recebe diariamente o entulho plástico trazido do Japão e da costa oeste dos Estados Unidos por duas correntes que convergem para suas praias. O lixo de Midway causa a morte de quase metade dos 500.000 albatrozes que a cada ano nascem na ilha. Os albatrozes alimentam os filhotes com pedaços de plástico, que confundem com comida. Tartarugas, focas e leões-marinhos também comem as peças plásticas, e muitos deles morrem por asfixia ou lesões internas.

Nem mesmo peixes de pequeno e médio portes escapam da praga dos plásticos. Muitas vezes eles ingerem os pellets – como são chamadas as pequenas bolinhas plásticas com 1 centímetro de diâmetro –, usados pela indústria para produzir os mais variados objetos. Além de poluírem as praias, os pellets podem absorver substâncias tóxicas que não se dissolvem facilmente na água e afetar o ciclo reprodutivo dos peixes. Eles estão presentes também na costa brasileira. "Já encontrei pellets em Santos, em Ubatuba e no Guarujá", diz Alexander Turra, biólogo do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo.
Leoleli Camargo,
Revista Veja

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